Entre os principais reconhecimentos literários do Rio Grande do Sul, o Prêmio Minuano de Literatura é alvo de críticas porque a recente edição extinguiu categorias tidas como tradicionais e importantes, como crônica e texto dramático, reduzindo a apenas cinco. Na quarta-feira (19), 11 entidades literárias e artísticas divulgaram uma carta aberta endereçada à Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), que realiza a premiação por meio do Instituto Estadual do Livro (IEL).
Criado em 2018, o prêmio costumava oferecer uma média de 10 categorias. Algumas fugindo do que é convencionalmente encarado como literatura, como história em quadrinhos. Embora viesse ganhando relevância ao lado de outros reconhecimentos literários, como o Açorianos, não recompensava os vencedores em dinheiro. Em 2023, não houve premiação.
Na edição de 2024, foram extintas as categorias crônica, texto dramático, especial, tradução, história em quadrinhos e ilustração. Agora passam a se chamar narrativa longa, narrativa curta, poesia, não-ficção e infantil e juvenil — antes separadas, essas duas últimas foram unificadas.
Há outra mudança significativa: pela primeira vez em seis anos, os vencedores serão recompensados em dinheiro. Cada um dos cinco vai ganhar R$ 5 mil, sendo que um deles será eleito livro dos anos 2022 e 2023 e levará outros R$ 5 mil. Ao todo, o repasse da Sedac aos ganhadores será de R$ 30 mil.
O jornalista e escritor Airton Ortiz, presidente da Academia Rio-grandense de Letras (ARL), uma das signatárias da carta que endereça críticas à Sedac, considera elogiável a adoção da recompensa em dinheiro. Contudo, entende que a reformulação restringe o acesso aos prêmios. Também acredita que excluir categorias como crônica e texto dramático acaba desprestigiando produções literárias de extrema importância no Brasil.
— Os R$ 30 mil são importantes. Prêmio com medalha, diploma e tapa nas costas ninguém mais quer. Todo mundo é profissional e tem que ser remunerado— elogia. — Mas não tem sentido deixar de fora um gênero genuinamente brasileiro como a crônica, sendo que o maior cronista da atualidade é um gaúcho, Luís Fernando Verissimo. Já o texto dramático ainda tem pouco espaço como literatura, e procuramos promovê-lo justamente para que esse espaço se abra.
Presidente da Associação Gaúcha de Escritores (Ages), outra entidade que assina a carta, Liana Timm diz que a classe literária não foi ouvida para ajudar a elaborar a reformulação do prêmio. Assim como Ortiz, ela também comemora a inédita gratificação em dinheiro, mas lamenta que o enxugamento dos categorias impeça que mais artistas tenham acesso a uma fatia da recompensa.
— E os cronistas, e os dramaturgos, e os ilustradores, e os que fazem histórias em quadrinhos, e os tradutores, onde estão? — questiona.
Diretor do Instituto Estadual do Livro e do Departamento de Livro, Leitura e Literatura da Sedac, Benhur Bortolotto diz que grandes prêmios literários, como o National Book Award, dos Estados Unidos, e o Prêmio São Paulo de Literatura, realizado pelo Estado de São Paulo, oferecem poucas categorias. Em sua avaliação, entregar menos troféus é uma forma de valorizar o reconhecimento de quem conseguiu se sobressair em determinada área.
— A proliferação de troféus acaba esvaziando um pouco a importância do prêmio. Quisemos garantir prêmios para cinco categorias e ficaram de fora as que, em algumas edições passadas, não tiveram número suficiente de inscritos — diz.
Sobre a supressão da crônica, Benhur diz que é possível que cronistas submetam seus trabalhos em uma das seguintes opções: narrativa curta (no caso de ser um texto de ficção) e não-ficção (caso seja um texto de não-ficção). Quanto à exclusão dos textos dramáticos, que são peças escritas para teatro, ele entende que a publicação desse tipo de literatura precisa antes ser incentivada, o que não se dá através de premiações.
Em julho, a Sedac deve lançar um edital que prevê financiamento para publicação de textos dramáticos.
— Não tem nenhum escritor que trabalha por dois anos no seu romance só para ganhar prêmio literário. O que incentiva publicação é política pública de incentivo. Por isso, vamos lançar um edital em julho para publicações em que um dos itens financiados são os textos dramáticos. Entendemos que o momento ainda não é o de premiar, mas sim de incentivar a publicação — reforça.
Segundo ele, as demais alterações feitas na edição 2024 do Prêmio Minuano de Literatura passaram por amplo debate entre os envolvidos na organização do prêmio. A finalidade era garantir uma premiação que passasse a gratificar quem faz literatura.
— Mesmo dentro de nossas discussões internas, algumas decisões, como a unificação das categorias infantil e juvenil, não foram unânimes. Mas dentro da tentativa de fortalecer o prêmio e garantir recursos em dinheiro para todas, tivemos que tomar decisões. O intuito da Sedac é fortalecer o Minuano, garantindo recursos em dinheiro, e esse será o padrão daqui para a frente. Podemos aprimorar em futuras edições caso entendermos que o que foi escolhido para esta edição não foi o melhor — pondera.
Além da Academia Rio-grandense de Letras e da Ages, assinam a carta: Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil (AEILIJ), Associação de Quadrinistas do Rio Grande do Sul (Aquarios), Colegiado Setorial do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (CSLLLB), Departamento de Artes Dramáticas da UFRGS (DAD), Grafistas Associados do Rio Grande do Sul (Grafar), Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do RS (Sated), Frente Parlamentar do Livro e Leitura de Porto Alegre (FPLL), Frente Parlamentar do Livro e Leitura do RS (FPLL-RS) e Frente Parlamentar do Livro Leitura e Escrita (FPLLE).
As inscrições para o Prêmio Minuano de Literatura abriram no dia 10 de junho e se encerram em 24 de julho. Podem concorrer livros publicados em primeira edição nos anos de 2022 e 2023, de autores nascidos ou residentes no Rio Grande do Sul, além de editoras sediadas no Estado. A cerimônia de premiação acontecerá no dia 5 de dezembro.