Desde 1981, o nome de João Gilberto Noll (1946-2017) foi chamado sete vezes para receber troféus na cerimônia do Prêmio Jabuti. A mais recente foi na noite de terça-feira (5). O saudoso autor, desta vez, foi prestigiado na categoria conto, dentro eixo literatura, pelo livro Educação Natural: Textos Póstumos e Inéditos (2022, editora Record).
Esse prêmio, segundo levantamento feito pela família de Noll, coloca o autor como o maior vencedor da distinção. Porém, a Câmara Brasileira do Livro, responsável pelo Jabuti, não conta com esses dados e, por isso, não confirma a informação. Ainda assim, o gaúcho é celebrado como um dos grandes conquistadores da condecoração.
Os 26 contos que estão presentes em Educação Natural foram encontrados no computador utilizado por João Gilberto Noll até o fim da vida. Também estão presentes no livro 15 páginas de um romance inacabado que o autor estava escrevendo à mão — os manuscritos foram doados ao Instituto Moreira Salles.
No começo, o irmão Luiz Noll, responsável pelos espólios do autor, não tinha certeza se o escritor gostaria que os textos fossem publicados. No entanto, após falar com amigos de João Gilberto, decidiu que seria uma forma de homenagear o mais velho.
— Eu fiquei muito emocionado com o reconhecimento. Eu, no começo, fiquei na dúvida se ele, em vida, ia gostar de publicar esses textos, mas fui encorajado pelos amigos. E, agora, com o Prêmio Jabuti, percebo que fiz a coisa certa — ressalta Luiz, que garante ter mais material inédito para publicações futuras.
Flávio Ilha, biógrafo de Noll — João aos Pedaços (editora Diadorim, 2021) —, celebra a lembrança concedida pelo Jabuti, mas lamenta que, no próprio país do autor, ele praticamente não venda livros. De acordo com o biógrafo, isso fez com que Noll vivesse quase na miséria a sua vida toda, sem conseguir se manter a partir de sua premiada obra.
— Ele é um dos maiores escritores contemporâneos em escala mundial. Um cara muito reconhecido internacionalmente, sendo o legítimo santo de casa que não faz milagre. Nos Estados Unidos, na Argentina, na Espanha e na França, ele é muito reconhecido, valorizado no mercado da alta literatura, mas, no Brasil, ele não tem a mesma projeção. Infelizmente, por aqui, temos uma certa leniência para esses autores que escrevem livros mais difíceis para o público médio.
Valéria Martins, agente literária de Noll desde 2011, reforça que a obra do autor gaúcho é lida e estudada em diversos países ao redor do mundo e que, para levar Educação Natural até o público, foi um trabalho em conjunto, que ainda teve grande participação do escritor Edson Migracielo e do editor Rodrigo Lacerda.
— Os Estados Unidos são o país mais difícil de inserir obras de autores estrangeiros. Apenas 8% dos livros lá são traduzidos de outros idiomas e a gente conseguiu colocar quatro livros dele lá. Então, é uma obra viva, ele está vivo e a premiação do Jabuti deixou tudo mais mágico — reforça Valéria, que foi buscar a distinção em nome de Noll.
O primeiro prêmio de Noll foi em 1981, como autor revelação, pelo livro de contos O Cego e a Dançarina. Depois disso, em 1994 e em 1997, ele foi premiado na categoria romance, respectivamente, pelas obras Harmada e A Céu Aberto.
Em 2004, seu livro Mínimos Múltiplos Comuns foi agraciado na categoria contos e crônicas. Lorde, por sua vez, figurou entre os vencedores na categoria de romance em 2005 — o mesmo título voltou a ser agraciado em 2020, como melhor livro brasileiro publicado no Exterior, sendo esse o seu primeiro prêmio póstumo.