Um dos grandes atores de sua geração, Lázaro Ramos tem também uma carreira interessante como escritor — ele já fez livros infantis, como A Velha Sentada (2010), e um best-seller autobiográfico, Na Minha Pele (2017). Porém, o artista ainda era novato em uma atribuição: dirigir um longa-metragem. Ele decidiu que era hora de ter esta experiência com Medida Provisória, que se tornou um sucesso nacional em 2022. E, para compartilhar como conseguiu tal feito, uniu o que já conhecia — a literatura — e o que estava conhecendo — a direção cinematográfica — no livro Medida Provisória: Diário do Diretor (Editora Cobogó, 104 páginas).
Na obra, Lázaro narra, em primeira pessoa, os bastidores de seu primeiro trabalho atrás das câmeras, compartilhando com os leitores os desafios e as escolhas criativas no processo de desenvolvimento do projeto, desde que conheceu a peça Namíbia, Não!, de Aldri Anunciação, e decidiu adaptá-la para o cinema. O artista desembarca em Porto Alegre neste domingo (6) para participar de um painel com o publicitário gaúcho Alê Garcia, às 16h, no Teatro Carlos Urbim (entre o Farol Santander e o Memorial do RS), dentro da programação da 68ª Feira do Livro, e realizar uma sessão de autógrafos de seu livro, às 17h, na Praça dos Autógrafos Gerdau (na Praça da Alfândega).
— Esse é um livro que eu não sabia que era livro. Comecei a criar uma prática, desde a pré-produção do filme até o final das filmagens, que era de me gravar todo final de dia. Eu pretendia, um dia, retornar a estes áudios e ver o meu aprendizado, os meus desafios e os meus conceitos nesta primeira direção de longa-metragem. Comecei a enviar para a Laís Gomes, que trabalha na equipe de assessoria, e ela foi transcrevendo. Ao ler, percebi que era um material importante a ser compartilhado. E assim nasceu o livro — conta Lázaro a GZH.
A obra, na visão do autor, é uma "narrativa imprecisa", mas que fala muito sobre o processo criativo, as escolhas estéticas e políticas, o estudo de enquadramentos, o estilo do filme, o gênero e a busca da narrativa para contar uma história sobre pessoas negras:
— Além disso, eu acho que a obra é um incentivo para as pessoas pegarem a câmera e mostra como, após um filme feito, quando você o revê, entende como cada decisão influencia o processo. E é uma voz muito no estilo que eu gosto de escrever, que é um estilo de conversa, para que a pessoa se sinta acolhida nas suas dúvidas também. E isso, para quem está estudando direção, por exemplo, eu acho que é algo precioso.
Sucesso
De acordo com Lázaro Ramos, Medida Provisória, o filme, superou as suas expectativas. Mesmo sabendo que o longa teria possibilidade de promover debates com o público, ele acreditava que, devido ao período vivido pelo país, as dificuldades da pandemia e o pequeno espaço oferecido para o longa, o sucesso não seria tão grande:
— A quantidade de salas que foi oferecida para o filme em um primeiro momento mostrava um certo descrédito nele: inicialmente, estrearia com 80 salas, mas estreou com cento e poucas. Na segunda semana, subiu para mais de 300. Aí, já começou a surpresa. Depois, teve todo o debate gerado, o sucesso dele no streaming e o fato de ele continuar em cartaz por bastante tempo.
O longa se passa em um futuro distópico, no qual o governo brasileiro decreta uma medida provisória que obriga os cidadãos negros a migrarem para a África, na intenção de retornar às suas origens, como uma forma de reparação histórica. E, para o ator, escritor e cineasta, a obra teve o seu papel no Brasil atual:
— Acho que o ano de 2022 tem sido de diálogo para a sociedade se reconectar com o próprio país. E o filme participou desse movimento. Claro que ele é entretenimento, mas fala de uma chaga da gente. E o diálogo aconteceu. Acho que é um pouco essa a função da arte também: proporcionar reflexão e diálogo. E o Medida, neste ano, em que refizemos o pacto de como queremos construir a história do nosso país, teve o seu papel.
Na Feira do Livro, Lázaro espera falar não apenas de Medida Provisória: Diário do Diretor, mas também de seu mais recente livro, Você Não é Invisível (Companhia das Letras, 112 página), lançado nesta sexta-feira (4). A obra é literatura para jovens, escrita durante a pandemia.
— A Feira do Livro é a promoção da literatura, proporciona o encontro, amplia os debates que os livros podem trazer e, principalmente, tem a circulação de ideias. Isso me encanta muito na Feira. A minha expectativa é das melhores — finaliza.