Um dos principais nomes do hip hop nacional, MV Bill desembarcou na Capital para participar da 68ª Feira do Livro de Porto Alegre nesta terça-feira (1º). E, durante a programação, o rapper, escritor, ator e cineasta participou de um bate-papo com o comunicador Domício Grillo e ainda realizou uma sessão de autógrafos de seu novo livro, MV Bill: A Vida me Ensinou a Caminhar (editora Age, 248 páginas).
O artista chegou às 18h10min no Teatro Carlos Urbim, na Praça da Alfândega, sendo ovacionado por cerca de 150 pessoas que lotavam o espaço, a maioria segurando o livro de MV Bill nas mãos
Na conversa com Domício, o carioca explicou que este é o primeiro livro que escreve sozinho e escolheu colocar no papel 27 crônicas sobre a sua própria história, optando por contar vitórias e também fracassos. Porém, falando que todos os acontecimentos o levaram ser quem é hoje.
— Trago muitas coisas pessoais no livro, mas que podem ser pontos de identificação com muita gente, pessoas que tiveram a mesma origem — disse.
O músico ainda comemorou que recebeu relatos de pessoas que compraram pela primeira vez um livro com A Vida Me Ensinou a Caminhar:
— Entrego entretenimento, mas muitas pessoas começaram a ser leitoras a partir desse livro.
Durante o bate-papo, MV Bill falou que pessoas negras precisam acabar com a "rivalidade" com o dinheiro, esclarecendo que sempre buscou espaço na mídia, de maneira pioneira para um rapper, e tal movimento contribuiu para o seu sucesso. Quando outros tentaram depois, diz o músico, o mercado já estava saturado.
Dentro do mesmo assunto, o escritor ainda apontou que o seu novo livro não é a sua biografia, a qual pretende fazer no futuro, agregando as histórias que ainda estão para acontecer em sua vida — e também garantindo outra fonte de renda.
MV Bill ainda explicou que o livro tem ligação com o Rio Grande do Sul: quando teve a ideia de escrever, a sua antiga editora fez uma capa que não "era a sua cara", além de querer mexer no texto. Eis que o rapper decidiu seguir sozinho, até que apareceu a editora AGE, gaúcha, que abraçou o seu projeto e entregou conforme o gosto do escritor.
A Vida me Ensinou a Caminhar ainda tem, no final de cada um dos 27 capítulos, um QR code, que leva para uma música que conversa com a crônica.
— É um livro muito musical e te leva para o meu mundo, o mundo do rap — garante MV Bill.
O rapper ainda apontou que a obra traz histórias com outros nomes da música, como Gabriel, o Pensador, Chorão, Racionais MC's e Sabotage. Tudo isso na trajetória do Alex até se tornar o MV Bill, persistindo na música ao invés do crime, que ele detalha ser um caminho muito mais próximo para quem está na favela — o medo de acabar morto, como muitos de seus amigos, foi um ponto fundamental para isso.
— Escrever sempre foi uma válvula de escape — pontuou, ressaltando que pessoas negras não estão acostumadas a verem seus semelhantes ocupando estes espaços. — Quando fui entregar esse livro para a minha família, eles não acreditavam que eu tinha escrito sozinho. Não é comum ter um autor negro. Eu sempre quis ser um artista multifacetado e, para isso, tive que sair da bolha que o rap tinha.
MV Bill ainda falou sobre música e contou divertidos casos de artistas estrangeiros que copiaram músicas brasileiras — como ele acredita que foi o caso do rapper Kendrick Lamar com a sua música We Cry Together, a qual ele destaca que tem coincidências com Estilo Vagabundo, clássico do carioca. Ao final, o artista ainda rimou, falando das diferenças entre o tratamento dado às pessoas mais abastadas e aos que vem da favela. Ao final, arrancou aplausos de pé de todos presentes.
Depois do bate papo, MV Bill partiu para a Praça de Autógrafos Gerdau, na Praça da Alfândega, onde autografou MV Bill: A Vida me Ensinou a Caminhar e conversou com os fãs, que formaram uma longa fila, que saía da Praça dos Autógrafos e ia até o final do Museu de Arte do Rio Grande do Sul. As mais de cem pessoas presentes queriam autógrafos, mas principalmente falar e tirar foto com o artista.
É o caso da modelo Valéria Vidarte, 21 anos. Abraçada no livro, ela foi uma das primeiras a conseguir pegar o autógrafo do artista e contou que MV Bill a acompanha desde que era criança:
— A voz dele foi uma das primeiras que ouvi cantando rap, quando era pequena. E gosto até hoje.
A estudante Melissa Silva, de 18 anos, estava eufórica após conhecer o artista:
— Estou me tremendo. É muita felicidade chegar perto dele.
Pela metade da fila, Dozinete de Castro Chaves, 29 anos, estava acompanhado de sua bicicleta que usa para fazer entregas por aplicativo. Ele aguardava para falar sobre música com MV Bill, que é uma de suas inspirações.
— Eu também escrevo e queria muito mostrar uma letra minha para ele. Encontrar alguém que venceu é muito emocionante, porque só quem escreve sabe como é difícil. Sofri bullying na minha juventude e o rap me salvou — disse, emocionado. Depois de meia hora na fila, ele conheceu o ídolo, ganhou um abraço e palavras de apoio.
MV Bill é um dos fundadores da ONG Central Única das Favelas (Cufa), que desenvolve projetos sociais e culturais nas comunidades carentes através do hip hop. Em seu mais recente livro, o autor de Falcão — Meninos do Tráfico articula memórias sobre a vida na Cidade de Deus, comunidade no Rio de Janeiro onde cresceu. Nas 248 páginas, o músico narra o abandono paterno, o que lhe agregou responsabilidades quando menino, passando pela estreia no rap em 1991.