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Na abertura da 68ª Feira do Livro de Porto Alegre, Carlos Nejar recebe chave do patronato do filho, Fabrício Carpinejar

Abertura oficial do evento ocorreu na noite desta sexta-feira, na Praça da Alfândega, no centro da Capital

Fernanda Polo

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A emoção e o carinho tomaram conta da 68ª Feira do Livro de Porto Alegre na noite desta sexta-feira (28), com a entrega da chave do patronato de filho para pai. O evento no Teatro Carlos Urbim, no Centro Histórico da Capital, em que Fabrício Carpinejar passou o título para Carlos Nejar, marcou a abertura oficial da festa da leitura, que já teve atividades no primeiro dia de volta ao tradicional espaço na Praça da Alfândega.

— Eu estou muito perto da terra para poder ser plantado, porque se não ficamos junto à terra, não seremos semente nem árvore e essa feira é o enverdecer das árvores, dos livros — declarou o patrono na cerimônia de abertura.

Carlos Nejar, 83 anos, é poeta, ficcionista, ensaísta, tradutor e advogado. Tem uma carreira prolífica na escrita em suas mais de seis décadas de trajetória. Desde 1989, ocupa a cadeira número 4 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Lançou obras de destaque como Livro de Silbion, Danações, O Poço do Calabouço, Riopampa — O Moinho das Tribulações, História da Literatura Brasileira, entre outros trabalhos de poesia, romance, ensaio, contos ou literatura infantojuvenil. O próprio escritor já perdeu as contas de quantas publicações acumula — estima-se que sejam mais de 80.  

O escritor ressaltou que é um privilégio receber o bastão do filho, destacando que o mundo é feito de gerações e ciclos. Também lembrou poetas importantes de sua terra, inclusive os falecidos, como Mario Quintana, que continua ligado à praça. Um poeta dos pampas, o que sempre se refletiu em seus trabalhos, Nejar fez questão de enaltecer sua terra em seu discurso.

— Fabrício, como tenho honra de ser teu pai. Teu amor me toca profundamente. Tuas palavras. Mas quero dizer que o nosso pampa, na Feira do Livro, é centro do mundo, porque não creio que sejamos o terceiro mundo, nós somos o primeiro mundo, e o mundo há de ver o caminhar deste continente, e o Rio Grande do Sul é um país no país — afirmou. — Eu fiquei sem idade no amor do pampa. No amor de meu filho. Neste movimento fraterno dos livreiros dessa terra.

O patrono também destacou este como um momento feliz em sua vida, em que tudo coincide, inclusive os 250 anos de Porto Alegre — aos quais o tema do evento, Uma Boa Festa Tem História, fazem alusão —, sua terra natal.

— Como às vezes o espaço é tão grande, meu coração tenta ser tão grande como o espaço, porque o Rio Grande é generoso e eu sinto este amor neste entardecer, que é sem crepúsculo, é só com aurora — finalizou Nejar.

O escritor, jornalista, cronista, poeta e colunista de GZH Fabrício Carpinejar (cuja mãe é Maria Carpi, poeta que também já foi patrona da feira em 2018), 50 anos, por sua vez, destacou a alegria de estar neste momento mágico de retomada presencial da feira, com debates, programação diversa, ampliação das bancas e com seu pai, a quem descreveu como poeta gigantesco, que assume agora o posto de patrono e as "rédeas do tempo", em referência à obra de Nejar.

— O meu sucessor curiosamente é minha raiz. Só a Feira do Livro para proporcionar esse emocionante paradoxo — salientou o poeta, que uniu os sobrenomes dos pais para assinar Carpinejar.

Empolgado, o autor saudou o legado e a atuação do pai carinhosamente:

— Uma meninice incurável, meu pai poderia estar sentado em todas as obras que produziu, estar desfrutando do mérito de 60 anos de escrita, estar aposentado, acomodado, mas ele escreve e não para de escrever, porque ele acredita que a próxima obra dele será a melhor da sua vida.

O escritor ressaltou que o pai "não se entrega", tendo a esperança como guia.

— Ele ama escrever. Ele escreve por instinto, intuição, alma. Talvez não tenha passado um dia da vida dele sem escrever. É o jeito que ele encontrou, e ele era uma criança tímida, para amar o mundo — acrescentou.

Carpinejar, em seguida, tomou a voz do pai emprestada — assim como já fez vários furtos de sua personalidade, admitiu o autor — e declamou o poema O campeador com as rédeas do tempo, abraçando Nejar.

Na solenidade, o presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Maximiliano Ledur, enfatizou a alegria de poder voltar à Praça da Alfândega e fazer companhia aos semblantes dos poetas Mario Quintana e Carlos Drummond de Andrade, realizando o evento em toda a sua plenitude — fato que seria suficiente motivo de festa, mas que se junta à comemoração dos 250 anos da Capital.

— Além da inesgotável fonte de prazer, para milhões de leitores, o livro continua sendo e será para sempre um imprescindível instrumento de promoção da cultura e do conhecimento. Mais do que isso, uma ferramenta indispensável à educação em todos os níveis — pontuou.

Ledur também manifestou sentimentos pela recente perda de diversos escritores que contribuíram para a construção da pujante literatura gaúcha, como Lya Luft, Voltaire Schilling, David Coimbra, Sérgio da Costa Franco, entre outros — cujas obras, para o consolo de todos, continuam entre nós, inclusive na feira.

Autoridades municipais, estaduais e federais também prestigiaram o evento, como o governador do Estado, Ranolfo Vieira Júnior, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, a secretária de Estado da Cultura, Beatriz Araujo, e o secretário municipal de Cultura Gunter Axt, além de fãs da literatura.

Ao final da solenidade, Nejar recebeu a placa comemorativa de patrono da feira e Carpinejar entregou a chave ao pai. A festa da leitura foi, então, declarada oficialmente aberta com o soar do tradicional sino do evento.

Visite a Feira do Livro

O evento segue até o dia 15 de novembro. As bancas da área infantil e juvenil funcionam das 10h às 20h e da área geral, das 12h30min às 20h. Todas as atrações são gratuitas.

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