O jornalista, escritor, filósofo e professor Clóvis de Barros Filho tem uma vasta obra, que o consolidou como um dos mais populares pensadores da sociedade atual. Porém, nesta terça-feira (8), na programação da 68ª Feira do Livro de Porto Alegre, ele serviu apenas como porta-voz dos pensamentos de seu gato Epaminondas, "autor" do livro que leva o seu nome, Epaminondas: O Gato Explicador (Citadel, 240 páginas).
Em sua passagem pelo evento literário, Clóvis de Barros Filho participou de um painel sobre o livro, no Teatro Carlos Urbim, onde falou para mais de uma centena de pessoas. Durante o divertido bate-papo, Clóvis explicou que a obra foi desenvolvida a partir dos encontros entre ele e o felino, sempre com ar julgador e com desdém, em sua casa. Tais momentos o fizeram pensar: "O que se passa na cabeça de Epaminondas?".
Assim, na obra, o autor — buscando entregar o que ele imagina que o seu gato pensa —, tenta explicar o mundo dos humanos de maneira felina. E, a partir dos encontros entre eles, que geravam longos momentos com os dois se encarando, Clóvis passou a anotar cada conversa silenciosa entre ele e seu pet.
— O livro é o resultado de observações cotidianas de uma casa a partir de avaliações críticas de um gato — explicou o escritor, que apresenta reflexões de um bichano cansado das preocupações humanas.
— De acordo com o Epaminondas, os humanos vivem mal, porque passam 97% do tempo pensando no que já passou ou no que vai acontecer. O humano vive fora de seu tempo, porque tem um dessabor com a vida que leva — disse o professor, enaltecendo que o gato é satisfeito com o seu modo de vida.
Segundo Clóvis, ou Epaminondas, é preciso que as pessoas busquem uma reconciliação com o seu modo de viver, que reencontrem o apreço pela vida como ela é. Assim como os gatos, que estão sempre plenos e não precisam planejar viagens ou encontrar alienações para compensar as insatisfações do cotidiano. Ou seja, o bichano explica que a vida pode ser mais simples do que parece.
— Não há um pensamento de Epaminondas que não tenha sido pensado por algum filósofo — garante Clóvis, apontando que o seu companheiro de casa possui uma enorme sabedoria sobre a vida, além de uma valentia única, por "escrever" tudo o que o professor não tem coragem.
Ao final, Clóvis de Barros Filho foi aplaudido de pé pelos presentes e ainda deu uma palavrinha com a reportagem de GZH, antes de partir para a sessão de autógrafos representando Epaminondas. Ao ser perguntado sobre como o seu gato recebia a informação sobre o sucesso de seu livro, entre os mais vendidos na Amazon, o professor foi categórico — e muito bem-humorado:
— Com o absoluto desdém. Ele considera todo sucesso dos humanos completamente irrelevante e acha que o humano que vincula a sua felicidade a ter sucesso é um humano inferior, triste, pequeno, porque o sucesso é incontrolável, ele depende do aplauso do outro e o outro não tá sob o nosso controle. Tudo que na vida é importante, deve estar sob o controle de quem vive. Então, quando você precisa do aplauso do outro para ser feliz, você é um pobre desprezível.
O autor ainda exaltou a importância de encontros literários, como a Feira do Livro, com propagação da cultura:
— Toda iniciativa de divulgação de ideias, de incentivo à leitura, só pode ser aplaudida de pé e eu imagino que todos aqueles que estão aqui presentes sejam sensíveis a essa necessidade, porque, no final das contas, a leitura é uma forma privilegiada de elevação do espírito.
Na fila da Praça dos Autógrafos, o livro com a foto de Epaminondas na capa estava nas mãos de todos que aguardavam a chegada do professor que, além da leitura, era reconhecido pelos fãs por conta de seus vídeos. Como é o caso do casal de farmacêuticos Karla Moreira, 43 anos, e Tiago Martins, 45. Para a dupla, o modo como filósofo enxerga a vida é o seu grande diferencial.
— Gosto bastante de filosofia, de pensamentos, deste tipo de reflexão que ele faz sobre a vida. É um olhar que não é convencional. Não é nem otimista, nem pessimista. Ele tenta enxergar a vida como a vida é. Mas, ao mesmo tempo ele é uma pessoa alegre, então não deixa pesar. Tu sai revigorado das palestras, dos livros — explicou Martins.
— E essa visão da vida a partir dos olhos do Epaminondas foi bem interessante, até porque, como ele falou, o gato não deve explicação a ninguém, ele fala o que ele quiser. Ele usa o gato como um escudo para fazer essa análise sem filtros, digamos — completou Karla.
A 68ª Feira do Livro de Porto Alegre segue na Praça da Alfândega até o dia 15 de novembro.