Uma das bancas que mais faz sucesso na 68ª Feira do Livro de Porto Alegre não tem livros, mas ajuda a construir muitas histórias. É o quiosque de chope que fica bem na parte central do evento e que é parada quase obrigatória para os frequentadores que querem se refrescar depois de uma caminhada pelos corredores do local atrás de uma boa leitura — ou para quem quer começar o garimpo por livros de forma mais "leve".
É o caso do farmacêutico bioquímico Marcos Eduardo da Silva, 42 anos, que considera "excelente" ter o quiosque de chope bem no coração da Praça da Alfândega, que abriga a Feira do Livro — algo que ele lamenta não ter anos atrás, quando começou a frequentar o espaço.
— Sou fã do chope e do vinho. Então, agora que começa a chegar esta época de mais calor, o chopinho sempre tem de acompanhar. E ele acaba apetecendo mais na hora de escolher o livro e facilita na hora de pagar, porque tu acabas ficando mais mão aberta, né? — conta, aos risos.
Na sequência, ele puxa de sua sacola de compras o livro Hollywood, de Charles Bukowski:
— E o chope faz efeito, porque olha aqui: comprei Bukowski, que é um dos autores mais conhecidos por andar sempre embriagado (risos).
O espaço do qual Marcos Eduardo é fã é uma operação comandada por Áureo Martinez, 49 anos, produtor da parte de alimentação na Feira do Livro. Ele explicou que decidiu apostar em um quiosque de chope após a praça de alimentação do evento acabar perdendo espaço — principalmente por conta dos bares que abriram na praça nos últimos anos.
Martinez explica que estava fazendo eventos para a Dado Bier quando conversou com o proprietário da cervejaria, Eduardo Bier, sobre a oportunidade de levar a marca para dentro da Feira do Livro. O primeiro ano do quiosque foi em 2017.
— Ele se interessou muito, exatamente por essa questão literária, de ser da área da educação. O Dado sempre foi muito ligado nessas questões sociais. E o quiosque é o único lugar que se pode vender chope com autorização dentro da Feira do Livro — explica o produtor, que compra o chope da Dado Bier e revende no local, com incentivo do proprietário da marca, que é apoiadora cultural da Feira.
O espaço, em um dia de calor, chega a vender 500 chopes, sempre gelados. Mas também entrega aos frequentadores outras opções, como refrigerante, água, suco e picolé — ou paletas, como consta no freezer.
— As pessoas adoram, porque é uma bela alternativa. Na Feira do Livro, tu caminhas muito e daí, tu vês um oásis assim, com um chopinho gelado, um espaço embaixo das árvores para tu poder sentar, descansar e confraternizar, é um luxo, né? — comenta. — E para a Câmara Rio-grandense do Livro foi muito importante a questão da marca ser gaúcha. Foi um casamento perfeito.
Brinde aos livros
Os amigos de longa data Luiz Ernesto Wolff, 61 anos, e Isabel Amaral, 57, ambos aposentados, estavam brindando — dentro das limitações dos copos plásticos — na Feira do Livro. Ele, de Porto Alegre, e ela, de Barra do Ribeiro, encontraram na Praça da Alfândega um ponto para colocar a conversa em dia e celebrar a parceria de décadas.
— A ideia de colocar o chope aqui na Feira foi excelente e já dá um incentivo a mais para eu vir aqui. E também dá uma lubrificada no bolso, dando aquela coragem para gastar em livro. Alia a cultura com o prazer de tomar um chope gelado — comenta Luiz Ernesto.
— Tomar um chopinho ajuda a ficar mais leve para procurar o livro para levar para casa. A gente caminha bastante, dá uma paradinha, descansa, se hidrata e segue de novo para olhar as outras bancas — brinca Isabel.
Esqueceu a pipoca
Em um dos finais de tarde agradáveis da Feira do Livro, a família Hoffmeister Schneiders, formada pela filha estudante Júlia, 19 anos, pela mãe Marli, 54, médica, e pelo pai Júlio, 60, aposentado, celebravam o final do passeio com chopes gelados.
— O chope está coroando a visita — celebra a mãe, motorista da rodada, que optou por um picolé, mas que ficou feliz em ver a família reunida brindando à Feira do Livro.
Júlia explicou que é tradição da família visitar a Feira, mas que o passeio havia sido interrompido por conta da pandemia. Para a alegria do trio, neste ano, o retorno à Praça da Alfândega aconteceu em um dia de sol convidativo para um chope.
— Eu tenho lembranças aqui desde pequeninha. E o pai hoje, quando a gente chegou, ele falou: "Quando você era criança, pedia pipoca. Hoje em dia, pede chope". E é verdade, nem comi pipoca neste ano — conta, aos risos, tomando mais um gole em seguida.