— O Rio Grande está na minha palavra. Basta. Paixão e amor não se explicam, existem. Eu andei vagando pelo pampa, esse pampa ficou na alma e a alma ficou na palavra — disse Carlos Nejar, em entrevista a GZH, em abril.
O autor foi eleito patrono da 68ª Feira do Livro de Porto Alegre. O anúncio foi realizado na manhã desta segunda-feira (20) pela Câmara Rio-Grandense do Livro, com o próprio filho dele, Fabrício Carpinejar, passando o bastão para o pai.
Nascido em Porto Alegre em 11 de janeiro 1939, o escritor, hoje com 83 anos, completou seus estudos primários no tradicional Colégio Marista do Rosário. Depois, matriculou-se no curso de Letras Clássicas na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), mas acabou trocando a graduação para Ciências Jurídicas e Sociais. Formou-se advogado em 1962. A essa altura, já havia se tornado também escritor, com o primeiro livro, Sélesis, lançado em 1960.
Paralelamente à literatura, Nejar trabalhou durante muitos anos na área do Direito. Em 1963, foi aprovado em concurso do Ministério Público e assumiu funções em comarcas de diferentes cidades do Rio Grande do Sul. É daí que vem o vasto conhecimento do escritor sobre a realidade do Estado, algo que não raramente expressa em suas obras — a exemplo de um de seus livros mais recentes, A República do Pampa, lançado em 2021, que reúne somente poemas focados no pampa gaúcho.
Em 1964, quando ainda trabalhava no MP, casou-se com a também escritora Maria Carpi, patrona da 64ª Feira do Livro. Os dois permaneceram casados por mais de 10 anos (separaram-se em 1979 e, em 81, o escritor casou-se com a atual esposa, Elza Griffo Nejar) e tiveram quatro filhos. Entre eles, o escritor e colunista de GZH Fabrício Carpinejar, patrono da 67ª Feira do Livro. Ele agora passa o título ao pai, depois de recebê-lo da mãe, fechando o ciclo familiar de patronagem.
Carlos Nejar passou ainda por instituições como o Tribunal de Justiça — onde, entre outras funções, atuou como procurador — e a Fundação de Economia e Estatística do Estado do Rio Grande do Sul (FEE), além de advogar. Mas parte das andanças pelo Estado também vem dos anos em que trabalhou como professor, lecionando Português e Literatura em escolas de diversas cidades do Interior e da região metropolitana de Porto Alegre.
Em 1989, o poeta e escritor porto-alegrense passou a integrar o seleto grupo da Academia Brasileira de Letras (ABL), a mais importante instituição literária do país. Ele ocupa a cadeira de número 4, que antes pertencia a Vianna Moog.
No ano em que entrou para a ABL, Nejar já havia lançado dezenas de livros, incluindo alguns de seus maiores clássicos. Obras como O Campeador e o Vento (1966), à época considerado pela crítica "uma nova épica na poesia contemporânea", o infantojuvenil Era um Vento Muito Branco (1987), que lhe rendeu o Prêmio Monteiro Lobato, e O Poço do Calabouço, de 1974, com o qual conquistou o Prêmio de Poesia da Associação Paulista de Críticos de Arte.
Depois, incontáveis outras obras vieram. Incontáveis mesmo, pois o autor não sabe estimar com certeza o número de livros que já escreveu. Estima-se que sejam mais de 80, mas ele opta por não perder tempo fazendo contas, como disse a GZH recentemente:
— Prefiro nem pensar. Eu não quero contar. As coisas no pensamento não se contam — assinala.
Por esta vasta bibliografia que, em 2017, foi indicado pela Academia Brasileira de Letras como representante na disputa pelo Prêmio Nobel de Literatura. Não foi chancelado pela organização da premiação, mas detém o mérito de ser o indicado da ABL naquele ano. Também pelo conjunto da obra, Nejar foi convidado a integrar o júri do Prêmio Camões, a mais importante premiação da literatura em língua portuguesa.
Pelas palavras do crítico literário Ronald Augusto, o patrono da 68ª Feira do Livro de Porto Alegre é, ainda, um dos três melhores poetas do Rio Grande do Sul, ao lado de Mario Quintana e Heitor Saldanha. Ele vem dando continuidade à alcunha com os recentes lançamentos Senhora Nuvem e A República dos Pampas e aquele que deve ser sua mais importante obra: uma coletânea em dois volumes com todos os seus romances já escritos, entre inéditos e já publicados, intitulada O Procurador de Almas. Se tudo der certo, talvez o primeiro chegue a tempo de ser autografado pelo patrono na Feira do Livro.