Um bastão passado de filho para pai. O escritor Carlos Nejar foi eleito o patrono da 68ª Feira do Livro de Porto Alegre. O anúncio foi realizado pela Câmara Rio-Grandense do Livro na manhã desta segunda-feira (20), no Hotel Master Express, no centro da Capital.
No ano passado, o posto foi ocupado por Fabrício Carpinejar, filho do autor. Desta vez, ele foi responsável por divulgar o novo patrono. No anúncio, ele declarou ser "o maior fã do escritor".
Em pronunciamento na coletiva de imprensa, Nejar agradeceu a homenagem e comentou sobre sucessão de Carpinejar:
— Ele (Carpinejar) disse que talvez eu merecesse receber essa homenagem antes. Mas tudo tem o seu tempo. Acho que estou suficientemente maduro — comentou o poeta de 83 anos, arrancando uma gargalhada do filho.
Segundo Nejar, ele vê Feira do Livro deste ano como uma uma espécie de restauração do amor:
— Sempre amei o Pampa. Hoje o Pampa me ama. Tenho que me alegrar! O amor sozinho não faz verão, assim como somente uma andorinha.
Para Carpinejar, é arrebatador ver o seu pai sendo admirado e amado por um Estado pelo qual é apaixonado. Nascido em Porto Alegre, mas radicado há mais de três décadas no Rio de Janeiro, Nejar preserva hábitos de seus tempos de Rio Grande do Sul: escuta música gaúcha, usa poncho e toma mate não importa onde esteja.
— Ele fala do Pampa como se você fosse uma pessoa. “Obrigado, meu Pampa”. Imagina o filho ter a possibilidade de testemunhar essa consagração para ele. Também se formou algo inexplicável: pai, mãe e filho patronos — destacou o escritor, que também já viu sua mãe, Maria Carpi, ser patrona da Feira do Livro de 2018.
Conforme Carpinejar, seu pai vivia esperando um reconhecimento do Rio Grande do Sul:
— O que aconteceu com esse anúncio a Feira do Livro é paz. Nejar voltou ao Pampa. Ele precisava disso por mais que tivesse o reconhecimento nacional e internacional. Sei o quanto é valioso para ele. Como filho, eu vou tietar (risos).
A edição 68 da Feira do Livro de Porto Alegre será realizada entre os dias 28 de outubro e 15 de novembro, na Praça da Alfândega, no Centro Histórico de Porto Alegre e em trechos da Rua dos Andradas, Travessa Sepúlveda e Rua Cassiano Nascimento, além de espaços culturais. Depois de dois anos em formato digital ou híbrido, o evento volta a ser completamente presencial.
Carlos Nejar
Luís Carlos Verzoni Nejar é poeta, ficcionista, ensaísta, tradutor e advogado. Desde 1989, ocupa a cadeira número 4 da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Aos 83 anos, Nejar tem uma carreira prolífica como escritor em suas mais de seis décadas de trajetória. Lançou obras de destaque como Livro de Silbion, Danações, O Poço do Calabouço, Riopampa — O Moinho das Tribulações, História da Literatura Brasileira, entre outros trabalhos envolvendo poesia, romance, ensaio, contos e infantojuvenil. O próprio escritor já perdeu as contas de quantas publicações ele acumula — estima-se que sejam mais de 80 obras.
Seus trabalhos mais recentes são Senhora Nuvem (Life Editora) e A República do Pampa (Casa Brasileira de Livros), que foram lançados este ano. Segundo Nejar, ainda há outras obras prontas na gaveta, aguardando publicação. O autor também tem planos de reunir todos os seus romances, entre os publicados e os inéditos, em uma grande coletânea intitulada O Procurador de Almas, lançada em dois tomos.
O poeta é considerado um homem do pampa, o que se reflete em sua obra. Nejar também sempre trabalhou com questões universais, conversando com elementos imateriais (como o rio, a chuva, o vento e o sol) e recriando a realidade do contemporâneo.
Além da escrita, Nejar também foi professor de Português e Literatura em escolas estaduais e teve atuação na área jurídica. Ele se formou em Ciências Jurídicas e Sociais (Direito) pela PUCRS, em 1962. Nesse campo, exerceu a advocacia e chegou a ser Procurador de Justiça do Rio Grande do Sul. Em entrevista a GZH, em abril deste ano, Nejar revelou que ainda pretende voltar a advogar.
— Me convidaram, e eu vou aceitar. Estou em uma nova infância nos meus 83 anos — contou à época.
Entre as distinções literárias que já recebeu estão o Prêmio Fernando Chinaglia (1974) da União Brasileira de Escritores, com O Poço do Calabouço, como o melhor livro de poesia do ano; o Prêmio Luísa Cláudio de Souza (1977) do PEN Clube do Brasil, pelo seu livro de poesia Árvore do Mundo; o Prêmio Erico Verissimo (1981) concedido pela Câmara dos Vereadores de Porto Alegre; o Troféu Francisco Igreja, da União Brasileira de Escritores do Rio para Amar, a mais Alta Constelação (1991); o Prêmio Cassiano Ricardo, do Clube de Poesia de São Paulo, pela sua obra (1996); o Prêmio de Poesia da Associação Paulista de Críticos de Arte (1999), pelos 35 anos de publicação do Livro de Silbion.
Em 2000, recebeu o Prêmio Jorge de Lima, da União Brasileira de Escritores, com Os Viventes, e o Prêmio Machado de Assis, de romance, da Biblioteca Nacional, com Riopampa. Na área infantojuvenil, obteve o Prêmio Monteiro Lobato e o da Associação de Críticos Paulistas, com, respectivamente, Era um Vento Muito Branco e Zão.
Em 2007, recebeu o título de Cidadão Emérito da Câmara Municipal de Porto Alegre e, em 2009, a Comenda Ponche Verde do governo do Estado do Rio Grande do Sul.
Sua trajetória é contada no documentário Carlos Nejar — Dom Quixote dos Pampas (2017), realizado pelo escritor e professor universitário Wander Lourenço.