O escritor gaúcho Paulo Scott, de 55 anos, é um dos 13 autores que concorrem ao International Booker Prize, um dos mais prestigiados prêmios literários no mundo com o seu romance Marrom e Amarelo, de 2019. A sua obra, que foi traduzida para o inglês por Daniel Hahn, é um dos títulos semifinalistas que disputam o reconhecimento de melhor livro de ficção traduzido e publicado no Reino Unido.
"Paulo Scott oferece um relato inteligente e elegante da intolerância à espreita em corações e instituições", diz a mensagem do júri no site da distinção. Marrom e Amarelo, publicado no Brasil pela Alfaguara, selo da editora Companhia das Letras, e no Exterior pela britânica And Other Stories com o título de Phenotypes, tem levado o nome de Scott a ser agraciado com resenhas elogiosas de grandes jornais internacionais, como o britânico The Guardian e o norte-americano The New York Times.
No livro, o personagem Federico é um cientista social que narra sua participação em uma comissão que quer definir critérios para identificação étnica de autodeclarados afrodescendentes que se candidatam a cotas em universidades públicas. Ao longo da história, o narrador escancara a hierarquia entre negros com tons de pele diferentes existente no Brasil.
Em entrevista para GZH, em 2019, o escritor ressaltou que Marrom e Amarelo reflete a história de sua própria família:
— Assim como o personagem principal do romance, também pertenço a uma família negra e tenho a pele bem mais clara que a de meu irmão mais novo. Nossa diferença é de um ano e dois meses. Quando eu era mais jovem, tinha essa questão de eu ter a pele e o cabelo claro. O cabelo só foi encrespar lá pelos 10 ou 12 anos. Isso fazia com que, a uma primeira olhada, a diferença entre nós fosse muito grande. Há também uma compreensão política minha, de que venho de uma família negra, porque meu pai é preto, um mestiço de pele marrom vermelha. Essas diferenças são pontos de partida para alcançar uma verdade que não é a minha verdade pessoal, autobiográfica.
Scott tem em seu currículo prêmios como o Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional, pelo romance Habitante Irreal, o Troféu Associação Paulista de Críticos de Arte, pelos poemas de Mesmo Sem Dinheiro Comprei um Esqueite Novo, e o Açorianos, por O Ano em que Vivi de Literatura. Em 2019, partiu em viagem para a China, sendo o primeiro brasileiro selecionado para o programa de residência literária da Associação dos Escritores de Xangai, lançado em 2008.
No International Booker Prize deste ano, Olga Tokarczuk, escritora polonesa vencedora do prêmio Nobel em 2018, com seu novo livro The Books of Jacob, também concorre ao prêmio, assim como a mexicana Fernanda Melchor, autora de Paradais, a argentina Claudia Piñeiro, de Elena Knows, e o israelense David Grossman, autor que já venceu a premiação há cinco anos com o romance O Inferno dos Outros e que concorre agora com More Than I Love My Life.
No ano passado, o vencedor foi o franco-senegalês David Diop com a obra Irmão de Alma, que retrata os conflitos de um jovem que está à beira da loucura e narra a história de um soldado senegalês que lutou pela França na frente ocidental da Primeira Guerra Mundial.
O júri da edição de 2022 é presidido pelo tradutor Frank Wynne e composto pela autora e acadêmica Merve Emre, pela escritora e advogada Petina Gappah, pela escritora e humorista Viv Groskop e pelo tradutor e escritor Jeremy Tiang. Os finalistas do prêmio serão revelados em 7 de abril. Já os vencedores serão conhecidos em 26 de maio.
Confira a lista completa com as demais obras semifinalistas ao International Booker Prize.
- Fernanda Melchor (México), por Paradais
- Mieko Kawakami (Japão), por Heaven
- Sang Young Park (Coreia do Sul), por Love in the Big City
- Norman Erikson Pasaribu (Indonésia), por Happy Stories, Mostly
- Claudia Piñeiro (Argentina), por Elena Knows
- Violaine Huisman (França), por The Book of Mother
- David Grossman (Israel), por More Than I Love My Life
- Paulo Scott (Brasil), por Phenotypes (tradução de Marrom e Amarelo)
- Jon Fosse (Noruega), por A New Name: Septology VI-VII
- Jonas Eika (Dinamarca), por After the Sun
- Geetanjali Thapa (Índia), por Tomb of Sand
- Olga Tokarczuk (Polônia), por The Books of Jacob
- Bora Chung (Coreia do Sul), por Cursed Bunny