Quase dois anos afastaram o público da Feira do Livro de Porto Alegre da Praça da Alfândega. Por isso, neste Dia de Finados, a sensação é de que os tempos de reabertura estão mais animados e trazem um novo ar para os corredores do tradicional evento literário da cidade. Na tarde desta terça-feira (2), quando a reportagem de GZH esteve no local, os estandes da área geral estavam movimentados. Nas prateleiras, boas ofertas de best sellers, mas também clássicos e até livros técnicos mais robustos com preços acessíveis.
A sensação é até a de que a praça está mais bonita, com a primeira edição do evento presencial após o início da pandemia de coronavírus. Quem concorda é o livreiro Peter Dullius, 71 anos, sendo 26 deles presentes na Feira do Livro da Capital. Ao todo, são 30 anos à frente do Beco dos Livros e suas três sedes físicas, além de vendas online.
— Acho que a praça está há tanto tempo sem ver sol e com essas barracas nas ruas que até deu outro ar para a Feira. Vivemos o auge do evento entre 1995 e 2005, e como atendo um mercado de livros mais fora de mercado, editados até cem anos atrás, é uma área mais "marginal", mas que tem o seu público. Tá um barato ver a Feira lotada assim — comemora Dullius.
Os visitantes também demonstravam alegria nas negociações e nos estandes. A estudante Camile Torres Cardoso, 13 anos, levou o pai Alex Sandro para andar pelos corredores, seguindo a tradição de vir ao evento todos os anos. Na lista de interesses, obras de fantasia e de escrita adolescente. Na mão, ela carregava Deixa a Neve Cair, de John Green, que comprou por R$ 15.
— A feira é pra garimpar mesmo, ela pegou esse do Green com um valor bom e eu peguei outro de um sebo por R$ 10. A Camile é a leitora da família — conta Alex.
— A gente só está dando aquela olhada e está muito legal voltar para cá — complementa a filha.
A desembargadora Marga Tessler, acompanhada do marido Breno, também veio para a Feira garimpar. E com direito a listinha de interesses anotada à mão. Perguntando em cada banca, Marga buscava obras de Voltaire, Eliane Brum e estava terminando de adquirir A Dama de Lagoa, de Rafael Guimaraens, que era uma história que seus pais costumavam contar para ela na infância.
Infantil
Na ala dedicada às crianças, no início da tarde desta terça, a movimentação era bem mais tranquila. Mas o cenário não é sempre assim. Durante a manhã, logo na abertura da área infantil, os livreiros contam que o agito foi completo, com muito público presente ainda na primeira hora. Afinal, na Feira do Livro tem obras para todo mundo.
Segundo os vendedores, a movimentação tem ficado acima da esperada. E melhor ainda: as vendas têm sido até superiores às realizadas em 2019. Para Lucia Calgarotto, da Livraria Espaço Cultural, na parte infantil, o movimento vai ajudar a recuperar os prejuízos da pandemia — que sofreu também com a paralisação das escolas.
— Nada melhor que a Feira para trazer o pessoal para a rua depois de dois anos. A gente escuta que estavam todos reclusos e temos visto movimento bom de pessoas até de outras cidades, bem acima da média mesmo — garante Lucia.
A criançada também está aproveitando para preencher suas prateleiras. A professora Cassiane Gueter, 37 anos, repetiu a tradição de trazer os filhos Acácio, nove, e Caio, quatro, ao evento em todas as suas edições. Eles tiveram o direito de escolher dois livros cada e Acácio já sabia o que procurar.
— Já li vários de Diário de um Banana, é uma série bem diferente, e agora já estou lendo Capitão Cueca por causa da série, que gostei demais — completou ele.
A empresária Catiuscia Pereira, 43 anos, também aproveitou a tarde para levar a filha Clara Marum, oito, para a Feira, mas sempre de olhos atentos às escolhas dela. A mãe tem o costume de perguntar para os vendedores sobre as indicações de cada livro, fazendo questão de acompanhar a formação da menina.
A sensação de estar de volta à Praça da Alfândega em meio aos livros também tem uma realização pessoal. Natural de Planalto e moradora de Porto Alegre há 20 anos, Catiuscia sempre teve o sonho de trazer os filhos ao evento quando morava no Interior. E tem dado certo.
— Este último ano foi atípico e cresci ouvindo sobre a Feira na adolescência. Sempre incentivo trazendo ela para conhecer esse mundo literário, que é algo tão importante, ainda mais nesta praça maravilhosa. Era meu sonho vir e realizo ele todos os anos — reforça Catiuscia.
A Feira do Livro de Porto Alegre segue até o dia 15 de novembro, com a área geral funcionando das 12h30min às 19h30min, e a infantil, das 10h às 19h30min.