O título da nova coletânea de crônicas de Leandro Karnal é um desafio para os tempos de pandemia e crise global. A Coragem da Esperança, lançado neste mês de julho pela editora Planeta, é, segundo o historiador, não uma visão ingênua do mundo, mas um incentivo para que se acredite que dias melhores possam surgir.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, o professor disse que o título do novo livro foi inspirado na frase usada no fim de cada um de seus textos divulgados nos jornais do país:
— Como encerro, em geral, as crônicas com a frase "é preciso ter esperança", pensei que seria um bom título para reunir aquilo que é minha característica. Sou um realista profundamente esperançoso — disse ele.
Segundo Karnal, o senso comum entende a alegria como algo bobo, e que a vida é sofrimento. Ele trouxe o exemplo da avó, uma senhora de descendência alemã que morava em São Leopoldo, no Vale do Sinos, onde o historiador nasceu.
— Se perguntavam se estava tudo bem, ela dizia: "A gente vai levando, do jeito que Deus quer. Indo". Esse gerúndio melancólico era considerado de bom tom. Pelo contrário, eu acho que a vitória pessoal, afetiva e profissional é fruto de um otimismo estratégico. "Ah, mas o momento é difícil, tem pandemia, tem crise, desemprego". Exatamente por isso, hoje mais do que nunca se impõe a esperança. Eu não preciso de esperança no paraíso. Quando Adão e Eva estão no paraíso, não tem narrativa de incentivo de um para o outro. Isso só ocorre após a queda, o sofrimento, a dor, a morte. Viktor Franklin, o psiquiatra que foi para campos de concentração na Alemanha nazista, insistia: é no horror, no inferno, na dor, que surge a vontade de esperança — disse.
Com prefácio escrito por Ignácio de Loyola Brandão, autor do clássico Não Verás País Nenhum (1981), a nova coletânea de Karnal é feita de textos curtos que, de acordo com o historiador, podem ser lidos em poucos minutos. São mensagens que fazem refletir ou podem até levar à discordância:
— A minha ideia não é fornecer verdades, mas perguntas. Todo leitor que me lê vai fornecer novas perguntas. O ideal de qualquer escritor, professor, interlocutor, é que você pense por si, a partir, claro, de uma reflexão que se possa estabelecer com o outro.
Karnal também falou sobre frases motivacionais que circulam na internet e que são creditadas a ele. Algumas dessas adulterações, segundo ele, são feitas justamente para distorcer aquilo que pensa ou diz.
— O Arnaldo Jabor me disse isso uma vez: que a prova do sucesso é ter textos apócrifos. Isso faz parte da exposição. Quem não quer sofrer isso só tem uma opção: habitar uma região tão isolada que não tenha acesso a internet. Se você está no mundo, precisa enfrentar que as pessoas têm dores e projetos políticos, e que passam por cima das verdades. Mas o grosso (dessas opiniões), mesmo quando são críticas, são muito afetivas. Existem, é claro, os gabinetes de ódio. Eles fazem parte do nosso cenário atual.