O amor pelos livros não é genético, mas tem tudo a ver com carinho de mãe. Muitas vezes são elas que leem para os pequenos desde antes das palavras no papel fazerem algum sentido, presenteiam com as primeiras histórias e preenchem seus lares com estantes cheias de tomos clássicos, contemporâneos e infantis.
Prova disso são os resultados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que apontam a influência das mães (ou responsáveis do sexo feminino) como um dos fatores decisivos para alguém criar gosto para a leitura. Por isso, neste Dia das Mães, GZH quis saber: qual foi a influência de sua mãe em sua relação com os livros?
Márcia do Canto, atriz e professora
Já que estamos falando de mães e mulheres, minha mãe era muito leitora. Eu tive grandes influências, a partir dela eu conheci muito do Jorge Amado, conheci Graciliano Ramos. Inclusive, o pai e a mãe compravam muitos clássicos de teatro também. Do Graciliano Ramos, eu lembro muito de Vida Secas e Memórias do Cárcere, que foram dois livros que me marcaram bastante. E do Jorge Amado, Capitães de Areia e Tereza Batista Cansada de Guerra. E foi através da influência da minha mãe.
A Nina (Nicolaiewsky, cantora), minha filha, eu tinha uma fase muito de poesia — eu até hoje tenho — e apresentei para ela Manoel de Barros, que ela gosta muito. E ela me apresentou também alguns escritores e segue me apresentando outros. Lembro de alguns que eu tenho e que foram bem importantes, que a gente conversava bastante a respeito. O Marcelino Freire, de Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século, por exemplo. Ela fez um curso com ele, de minicontos, e comprou esse livro. A gente curtia muito e fazíamos esse exercício de minicontos, assim como brincadeira. Também a Djamila Ribeiro, foi ela que me apresentou, ela que me deu o livro Pequeno Manual Antirracista, que eu gosto bastante também.
A Nina lembrou muito de Sacos de Brinquedos, do Carlos Urbim, que foi um livro que marcou bastante ela. E também A Mulher Gigante, de Gustavo Finkler e Laura Castilhos, que tem um disco também, então tem música, e ela supercurtiu na infância.
Zé Victor Castiel, ator e colunista de GZH
Considero minha mãe a grande responsável por eu ser, hoje, um grande amante dos livros e um leitor voraz. Foi ela que me apresentou, ainda quando eu era um garoto, os livros que começaram a abrir minha vida para a leitura. O Menino Maluquinho (Ziraldo); Pluft o Fantasminha (Maria Clara Machado); Meu Pé de Laranja Lima (José Mauro de Vasconcelos); Reinações de Narizinho (Monteiro Lobato).
Finalmente, a partir de O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger, virei, definitivamente, um amante da literatura. Devo isso à Dona Yeda, minha mãe, que está com 86 anos, cheia de saúde e lucidez, vacinada, e continua sendo uma grande leitora e uma cinéfila inigualável.
Paula Taitelbaum, poeta e escritora
Minha mãe morreu muito cedo, quando eu tinha seis anos. Na verdade, os livros que herdei dela e que estão comigo até hoje são livros de trabalhos manuais que usei muito para fazer colagens, móbiles de papel e outras coisas e que de alguma forma foram importantes para que eu, muitos anos depois, realizasse meus trabalhos com colagens nas ilustrações de livros infantis.
Eu tinha especial apego ao Criações com Papel (da coleção Trevo de Quatro Folhas), fiz praticamente tudo o que tem no livro durante a minha pré-adolescência, acho que até uns 15 anos fiz muito. Tem muito a ver com o trabalho que eu desenvolvo hoje nos livros infantis, e eu nunca tinha me dado conta direito disso. Foi agora, falando com vocês, que caiu a ficha. Mesmo não estando presente, minha mãe se fez presente com esses livros, estimulando minha criatividade e formando a base do trabalho que realizo hoje.
Regina Zilberman, professora de Literatura da UFRGS
Minha mãe — e minha avó também — foram muito importantes em minha formação como leitora, desde a infância, quando me levou à leitura de histórias de fadas, até a idade adulta, levando-me a valorizar a obra de Machado de Assis, Erico Verissimo, Graciliano Ramos e Jorge Amado. Também desta época, o romance de Thomas Mann, Romain Rolland e Tolstói.