Nascida em 1943, em Nova York, Louise Elisabeth Glück vem de uma família que a incentivou a expressar sua criatividade. Tal mundo de possibilidades foi reconhecido em sua conquista do Prêmio Nobel de Literatura 2020, em anúncio realizado nesta quinta-feira (8), em Estocolmo.
O sobrenome germânico de Louise vem de avós judeus da Hungria, que emigraram para os Estados Unidos no início do século 20. Uma de suas heroínas de infância foi Joana d'Arc, à qual dedicou um pequeno poema em 1975: "E agora as vozes respondem que devo/me transformar em fogo, segundo o desígnio de Deus" (em tradução livre do inglês).
— Eu era uma criança solitária. Minhas interações com o mundo como um ser social eram pouco naturais, forçadas, representações. E eu ficava mais feliz quando lia. Bem, não era inteiramente tão sublime assim. Assistia muito à televisão e comia muito também — conta ela, em entrevista à AFP.
Sua adolescência foi difícil, pois sofreu com anorexia. Um de seus traumas é a perda de uma irmã mais velha, que morreu logo após o nascimento: "Minha irmã passou uma vida inteira na terra. / Ela nasceu, ela morreu. / Nesse ínterim, / nem um olhar arregalado, nem uma frase", disse ela em Lost Love, de 1990.
A poeta abandonou os estudos, casou e se divorciou rapidamente. Começou a se revelar em 1968, com sua primeira coleção Firstborn. Um segundo casamento trouxe mais estabilidade, e ela, então, retomou seus estudos e se tornou acadêmica.
— Ao longo de toda obra poética de Glück, muitas das figuras centrais de seus poemas são mulheres (...), ou uma jovem, que muitas vezes é distinguida como filha de alguém, ou uma mãe — apontou Allison Cooke, pesquisadora de literatura.
Louise é mãe de uma criança e, conforme acrescentou Cooke, a jovem mulher em sua poesia "se encaixa em décadas de discurso feminista sobre o que significa ser mulher".
Em mais de 50 anos, Louise publicou 13 coletâneas. A última, em 2017, foi American Originality: Essays on Poetry.
Beleza da natureza
Considerada uma das maiores vozes da poesia americana, Louise extrai o material para seu trabalho da beleza simples da natureza e de sua infância. Um de seus poemas, Japônica (um grupo de borboletas), lembra a fina arte dos pintores japoneses: "As árvores florescem / na colina. / Elas carregam / grandes flores solitárias, / japônicas" (em tradução livre do inglês).
Em entrevista a uma revista de poesia americana em 2006, ela negou ser especialista em motivos florais:
— Tive muitos pedidos de horticultura, mas não sou horticultora.
Em 1992, publicou The Wild Iris, uma coletânea que desdobra um jardim inteiro e que lhe rendeu o Prêmio Pulitzer, um dos mais prestigiados reconhecimentos do mundo.
Sua poesia é muito acessível. Dispensa o aparato explicativo crítico, e o inglês de Louise pode ser lido sem muita dificuldade, desde que se tenha algum conhecimento da língua. Adepta do despojamento, ela cita como primeiras influências de juventude poetas conhecidos por sua clareza de expressão, William Butler Yeats (Prêmio Nobel de 1923) e T.S. Eliot (Prêmio Nobel de 1948).