A poeta norte-americana Louise Glück conquistou a edição 2020 do Nobel de Literatura nesta quinta-feira (8), em premiação que destacou sua universalidade ao tratar da existência individual. A autora publicou 12 coleções e alguns ensaios individuais de poesias em sua carreira. Nenhum de seus livros foi publicado no Brasil, mas alguns de seus poemas foram traduzidos por escritores brasileiros.
Ao longo dos anos, desde sua primeira publicação - o livro Firstborn (1968) -, críticos elogiaram sua capacidade de tocar em assuntos íntimos que afligem a todos, como a morte e as relações familiares. Duas de suas grandes influências foram Léonie Adams e Stanley Kunitz, poetas e professores com quem ela teve aula durante seu período em Columbia, nos Estados Unidos.
Dentre seus trabalhos mais notáveis estão The Triumph of Achilles (1985) e The Wild Iris (1992), sendo que a última obra publicada é American Originality: Essays on Poetry (2017). Para conhecer melhor o trabalho de Louise, GZH destaca algumas das temáticas trabalhadas em seus textos.
Infância e família
Em Descending Figure (1980), ela fala sobre a morte da própria irmã, mostrando as relações com os familiares. Esta mesma temática foi retratada em Ararat (1992), em que descreveu "a vida vazia de seu pai e a incapacidade de sua mãe de expressar emoções". Uma das frases escritas por Louise sobre os primeiros anos de vida, inclusive, já viralizou nas redes sociais: "Nós olhamos para o mundo uma vez, quando crianças. O resto é memória".
Confronto entre ilusões e realidade
Preocupada com mudanças de vida, a obra de estreia de Louise, Firstborn (1968), traz exatamente esse ponto entre ilusão e realidade. Seus poemas tratam de pessoas sem esperança e sem amor, contrapondo com paisagens de muita beleza. Em outra obra, Triumph of Achilles (1985), ela acaba falando sobre essa dualidade dentro do amor, como no verso "Por que amar o que você vai perder? / Não há mais nada para amar".
Mitos
Em Poems 1962–2012 (2012), Louise usa o mito de Perséfone, deusa do submundo, para tratar de elementos reais, com poemas sobre uma mãe e um pai e uma irmã, um jardim e até um cavalo, por exemplo. Esta é uma característica comum de diversas obras dela. "As vozes de Dido, Perséfone e Eurídice — a abandonada, a punida, a traída — são máscaras para um eu lírico em transformação, tão pessoal quanto válido de maneira universal", descreveu a Academia Sueca.
Divórcio
Para falar de relacionamentos, Louise faz uma boa varredura da história de um casal em The Garden (1976), onde narra a encruzilhada de um novo amor, com um homem e uma mulher fazendo jardinagem em um dia repleto de névoa. O problema é que esta névoa é literal: os desentendimentos futuros e o desgosto pairam sobre os dois, que ficam em uma indecisão pelo divórcio. A obra também é conhecida por mostrar os medos da poeta. Em Meadowlands (1997), ela entrelaça a dissolução de um casamento contemporâneo com a história da Odisseia, de Homero.
Solidão
A solidão não precisa ser, necessariamente, tratada com tristeza. Louise traz isso em Vita Nova (1999), coleção que é encerrada com os versos: "Achei que minha vida tinha acabado e meu coração estava partido. / Então me mudei para Cambridge". Este mesmo livro trata do paradoxo humano que contrapõe a esperança com as forças que a frustram.
Morte
Através de sonhos em Faithful and Virtuous Night: Poems (2014), Louise faz uma reflexão com diferentes figuras. Considerada "um encontro com o desconhecido", a obra trata da viagem de um cavaleiro ao reino da morte. Este contexto se mistura com suas lembranças pessoas e viagens ao longo da vida. Outro destaque de sua carreira é Averno (2006), que faz uma interpretação do mito da descida de Perséfone ao inferno no cativeiro de Hades, o deus da morte. Esta viagem se trata de um trânsito entre os mundos, ao mesmo tempo em que a autora discute a reconciliação com a vida.