A poesia encontra o teatro nesta quinta-feira em Porto Alegre. A escritora Anna Mariano, conhecida pelos romances Atado de Ervas (2011) e Pra Amanhecer ontem (2017), lança às 18h a coletânea de poemas Apenas Por Nós Choramos, no hall do Centro Municipal de Cultura (Av. Erico Verissimo, 307). Após a sessão de autógrafos, haverá um recital no palco do Teatro Renascença, anexo ao local, dirigido por Margarida Peixoto, com versos da escritora interpretados pelos atores Liane Venturella, Marcelo Ádams e Ursula Collischonn.
Toda a renda arrecadada na noite será revertida para melhorias no Centro Municipal – o livro será comercializado por R$ 50, e doações também serão aceitas.
– Nós, espectadores, temos uma dívida enorme com a dramaturgia. O teatro acrescenta muito na nossa vida. O Renascença e os demais espaços do Centro Municipal estão em uma situação complicada. A ação deste lançamento é uma gota no oceano, mas estou fazendo o que está ao meu alcance – afirma Anna.
A mobilização em nome de uma causa concreta é coerente com o conteúdo do livro a ser lançado. Apenas Por Nós Choramos reúne poemas que denunciam realidades que merecem atenção e mudança. É o caso de Maria da Penha, cujos versos tratam de violência doméstica. O eu lírico é assumido por uma mulher que, apesar das agressões sofridas, afirma para o amante que “meu pensamento se alonga no teu eco/ e meu perdão ainda te procura”.
– É um poema sobre a dificuldade que a agredida tem de romper com o círculo vicioso da relação, sobre a dor de não conseguir romper com quem lhe faz mal – diz a poeta.
Em Os Mortos no Atentado, os versos lembram o Manuel Bandeira de Poema Tirado de uma Notícia de Jornal, ao usar o noticiário como matéria-prima para a criação literária: “Numa confusão de sangue e de sapatos/ De guarda-chuvas e óculos quebrados/ São quarenta os mortos no atentado/ A quem o jornal dá um mesmo nome/ como se fossem da mesma família”. Mais algumas influências ficam explícitas, citadas de modo mais direto, como Julio Cortázar, Federico García Lorca, T. S. Eliot e Fernando Pessoa.
O livro também guarda espaço para imagens de infância e relações familiares. Nascida em Porto Alegre, Anna Mariano viveu até os 11 anos em uma área rural, no interior de São Borja. A experiência fica aparente na entonação de alguns versos, que remetem ao linguajar e às vivências do campo: “Na casa antiga, eu e meus fantasmas/ (loucos fantasmas, plácidos fantasmas)/ confundo noites entrelaço dias/ tento bordar fronteiras e limites/ e as porteiras fechadas de um potreiro/ onde fui égua e garanhão, um dia”.
Este é o segundo livro de poemas da autora, reunindo versos anotados desde o anterior Olhos de Cadela (2006).
– Gosto de escrever romances, contar histórias, mas tenho uma tendência maior ao poema. De vez em quando, estou com romances em andamento, mas a poesia vem mesmo assim. Depois, é preciso trabalhar essa inspiração, mas sem perder o que há de inexplicável nela – conta Anna.
Apenas por nós choramos
De Anna Mariano
Poesia. Editora Penalux, 100 páginas, R$ 50. Lançamento nesta quinta-feira, às 18h, no Centro Municipal de Cultura (Erico Verissimo, 307).