O jovem escritor Davi Boaventura lança nesta segunda-feira (3), às 19h, na Livraria Bamboletras (Rua Lima e Silva, 776), em Porto Alegre, o romance Mônica Vai Jantar. Com linguagem experimental, o livro trata de uma personagem que revê seu passado em um momento de crise – e deve destacar seu autor como uma das promissoras vozes da nova literatura brasileira.
Aos 33 anos, Davi é natural da Bahia e veio morar no Rio Grande do Sul em 2013, movido pela criação literária: veio para Capital cursar o mestrado em Escrita Criativa na PUCRS, onde também concluiu doutorado.
– A primeira vez que visitei Porto Alegre foi para fazer a prova do mestrado. A segunda foi para fazer a entrevista. Na terceira, eu já estava de mudança – lembra Davi.
Logo na primeira página, Mônica Vai Jantar causa estranhamento pela falta de pontuação. A narrativa é exposta em um bloco de texto de quase cem páginas, sem pontos, vírgulas ou quebras de parágrafo. A leitura, no entanto, flui sem grande dificuldade, devido ao trabalho de encadeamento desenvolvido pelo autor.
A forma inusitada do texto se relaciona com a história narrada. Mônica vive um relacionamento estável e está prestes a sair para um evento do trabalho quando descobre que o marido foi flagrado se masturbando em um ônibus. O companheiro, que chega em casa coberto de sangue e hematomas, pois foi surrado pelos passageiros depois do flagra, permanece no cômodo ao lado, enquanto ela tenta se arrumar para o compromisso e repassa escolhas de sua vida por meio do pensamento. A falta de pontuação do texto espelha a repentina perda de controle da protagonista.
– Este é um livro sobre confiança, sobre controle e relacionamento. Na hora em que você pega um blocão de texto como este, acaba saindo do campo da racionalidade, vai mais para o corpo, para a experiência – explica Davi.
O rascunho do romance nasceu em 2014, sendo trabalhado durante o mestrado em Escrita Criativa. O texto final, no entanto, só foi estabelecido em agosto de 2018. O escritor afirma que, ao longo desses quatro anos, pensava diariamente na personagem, em um trabalho constante escrita e reescrita:
– Tinha o projeto de retirar a pontuação, mas não queria simplesmente amontoar uma frase sobre a outra. Queria conectá-las. Para isso, precisava de um ajuste muito fino.
Davi também conta que se preocupou em deixar a experiência de leitura atraente:
– Trabalhei o livro como um experimento de linguagem, mas também como uma narrativa envolvente, que levasse o leitor adiante. Foi um trabalho híbrido, de chegar a um resultado intenso e ao mesmo tempo prazeroso.
Um escritor Na estrada
Depois de concluir o doutorado, em janeiro, Davi passou a percorrer o país de ônibus, trabalhando por meio da internet com leitura crítica e revisão de textos. Ele deve permanecer cerca de uma semana em Porto Alegre após o lançamento. Para onde seguir depois da temporada gaúcha ainda é uma questão em aberto.
– Trabalho de onde eu estiver e vou pulando de uma cidade para outra. Sigo rodando. Acho que li demais On The Road – brinca o autor.
O clássico beat de Jack Kerouac, no entanto, não é a referência central na escrita do jovem, que não esconde seus mestres:
– Li muito literatura beat no final da adolescência, e isso ficou na minha memória afetiva. Mas as maiores referências no processo de escrita do romance foram Raduan Nassar e James Joyce.