A jornalista Joselia Aguiar começou em 2011 um projeto de biografar Jorge Amado (1912-2001) em um perfil conciso que poderia ser publicado já no ano seguinte, 2012, o do centenário de nascimento do escritor baiano autor de Terras do Sem-Fim e Gabriela, Cravo e Canela. Mas Jorge Amado foi um dos autores mais populares do país, e um dos poucos escritores brasileiros a viver exclusivamente de seus livros, foi homem de atuação política, deputado comunista caçado, viajante incansável traduzido em dezenas de idiomas. Não demorou para a enormidade do personagem e a riqueza de sua trajetória torpedearem o projeto.
– Comecei a pesquisar e descobri que havia muita coisa que eu não sabia sobre ele. Ele assinava um serviço de clipping desde os anos 1950 com notícias sobre ele, talvez tenha sido o primeiro escritor brasileiro a fazer isso. São pastas e pastas com a recepção de cada livro. E havia a parte política, sobre a qual muita coisa não estava à disposição – relembra Joselia.
Sete anos e uns intervalos depois, entre eles a coordenação da Flip por dois anos, Joselia finalmente apresenta Jorge Amado: Uma Biografia, alentada obra de mais de 600 páginas que faz um recorte amplo da vida do biografado e retraça um panorama da vida literária nacional.
O livro reconstrói, com detalhes, a vida e a obra do autor. Filho de um "coronel" nordestino de menor projeção política, Amado formou-se em Direito muito por pressão dos pais, mas não chegou a exercer a profissão. Mergulhou, em vez disso, na literatura. Irrompeu na cena literária brasileira muito jovem e já era um autor renomado e com quatro livros publicados aos 23 anos de idade.
É uma biografia que se sai muito bem em abarcar o tamanho de seu perfilado. Combativo, Amado pretendia uma renovação da literatura nacional com uma linguagem de inspiração popular. Colecionou amizades sólidas e brigas sanguíneas. Partidário do comunismo, foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro e cassado dois anos depois.
Ao mesmo tempo em que foi um autor de imensa popularidade, sua obra recebeu – e ainda recebe – críticas e recriminações por praticamente qualquer um de seus aspectos – a filiação política, a linguagem menos formal, a sensualidade, seu retrato do negro (tanto por retratar o negro quanto pela forma como o representou).
O livro também se dedica a desmitificar pontos polêmicos da biografia do escritor, como a versão, espalhada por seus críticos, de que seu sucesso internacional se devia principalmente a suas ligações com a União Soviética. Sua fase mais popular, iniciada com Gabriela, marca justamente seu afastamento do “realismo socialista” estético. A obra também consegue apresentar elementos novos para a vida de um autor que escreveu muito sobre si mesmo, incluindo extenso livro de memórias (sem falar os de Zelia Gattai, sua mulher).
– Escolhi biografar o escritor Jorge Amado, e como sua vida e obra estão entrelaçadas. E escolhi também colocar essa pessoa dentro de uma história literária e política brasileira. Não vou substituir as memórias dele ou da Zélia, mas acho que consigo fazer uma linha de tempo mais fechada, uma cronologia mais consolidada. – explica a biógrafa.