Aldyr Garcia Schlee lançou seu livro O Outro Lado no MARGS, dia 3 de novembro, um sábado, com bela apresentação de Tânia Carvalho e do poeta Pedro Gonzaga. E os afortunados presentes não se aperceberam a profecia que o título, com humor e cordialidade de Aldyr – sempre generoso até nas despedidas – nos oferecia de antemão: que estava indo ao outro lado.
Todo o grande escritor assim se conduz: sair de si para que os livros permaneçam. Após concluída a escritura, o livro se torna dos inúmeros e diversos leitores. Schlee não nos deixou, deixou-se em suas obras.
Nessa ocasião, como amiga e com a responsabilidade de ser Patrona da 64ª Feira do Livro, a emoção e o reconhecimento do grande exemplo de Schlee não me deixaram calar: agradeci duplamente à sua exemplar existência fiel aos valores da ética comunitária e aos livros escritos.
Em especial, recordei Os Limites do Impossível: Contos Gardelianos, que é um dos mais belos recortes da alma feminina, e Don Frutos, por um rico depoimento de Schlee sobre esse romance. Falou-me que durante dez anos pesquisou o personagem. Isso me lembrou de Cecília Meireles, que meditou sobre a Inconfidência Mineira por quatro anos antes de editar o poema. Ambos deixaram que os personagens amadurecessem nas entranhas do autor do texto.
O ato criador tem gestação humana e a escrita deixa de ser de homem ou de mulher, mas da humanidade. Ela une Fronteiras, fazendo de Jaguarão a Aldeia de Tolstói ou a Macondo de Garcia Márquez.