Maria Carpi circula pela Feira do Livro com a mesma leveza com que as palavras passeiam por suas poesias. Com olhar atento, sorriso largo e passos lentos, a patrona de 79 anos impôs seu ritmo ao evento, que se encerra domingo. Em meio às dezenas de palestras, sessões de autógrafos e atrações teatrais realizadas durante os 18 dias de Feira, preferiu dedicar a maior parte do tempo a caminhar pelos corredores da Praça, a conversar e a trocar experiências com os visitantes.
– Fiz deste momento uma experiência intensa e suave. Eu gostei muito do convívio com os leitores, pude dizer muitas coisas relacionadas à cordialidade, à esperança e à importância do convívio com os outros – conta.
Frequentadora assídua da Feira desde a adolescência, a poeta, que iniciou a carreira literária após os 50 anos, acredita que o convite para ser patrona veio “na hora certa”. Com problemas de saúde, chegou a hesitar em aceitar o posto, mas foi convencida pelos quatro filhos, a quem hoje só agradece pelo “empurrãozinho”:
– Estou madura, eu e minha obra temos o que dizer. Acho que ser patrona neste instante foi o ideal – comemora.
Com uma trajetória profissional consolidada também na área jurídica – Maria Carpi foi defensora pública ligada aos direitos da infância e da adolescência – enxergou na Feira uma oportunidade para colaborar com debates sobre temas sociais, como a luta feminista, o papel do negro na sociedade, entre outros. Para tanto, participou de encontros como o Sarau das Gurias, em que teve a oportunidade de “entrelaçar filosofia, justiça, direito e poesia”. A disposição em dividir conhecimento vem, segundo ela, principalmente a partir do que aprendeu na literatura.
– É como o personagem de O Pequeno Príncipe que era muito grudado às posses. Ele olhava uma estrela no céu, descobria ela, anotava em um papel e guardava no cofre, achando que a estrela era dele. Isso me faz pensar que não somos donos de nada. Se não compartilhamos o que temos e sabemos, na verdade não temos nada. E foi isso que representou essa experiência de ser patrona: compartilhar, escutar, conversar, amadurecer.
Emoção em família
Entre os momentos mais emocionantes desta edição da Feira do Livro, Maria Carpi destaca o dia em que seu neto de seis anos foi à Praça da Alfândega junto com os colegas de creche para acompanhar uma contação de histórias e, de longe, viu a avó:
– O Francisco, quando me olhou, gritou “a vovó é a patrona”. Foi tão bonito. A Feira é feita para isso, para compartilhar histórias, emoções, sentimentos.
Para finalizar sua participação na Feira com a mesma mistura de leveza e intensidade com que acompanhou os 18 dias de evento, Maria Carpi reuniu centenas de pessoas no final da tarde de ontem para uma sessão de autógrafos da sua obra completa. E mesmo com dificuldade para caminhar, participará, no domingo, de um passeio pela Praça da Alfândega com distribuição de flores:
– Tenho o braço amigo da minha neta e do Isatir Bottin Filho, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro. Me apoio cada lado em um e lá vamos nós – diverte-se.