A noite desta quinta-feira (15) foi especial para a gaúcha Anaadi. Natural de Porto Alegre, a cantora conquistou o prêmio de Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa do Grammy Latino, em cerimônia realizada no MGM Grand Garden Arena, em Las Vegas (EUA). A artista local surpreendeu e superou nomes como Erasmo Carlos e a carioca IZA.
Ainda em terras norte-americanas, Anaadi conversou rapidamente com GaúchaZH sobre a premiação. Ela destaca que a sensação de paz e felicidade neste momento é intensa e que, além de participar de uma premiação internacional, o evento serviu para trocar figurinhas com artistas como Laura Pausini e Jorge Drexler, o grande vencedor da noite.
Além de vencer a categoria de disco pop em português, a cantora foi indicada aos prêmios de Gravação do Ano, com a canção É Fake (Homem Barato), e Artista Revelação.
Qual é a sensação que tem agora com o disco e sua carreira, após a vitória no Grammy Latino?
É uma sensação de felicidade imensa, gratidão e reconhecimento em nível internacional pelo prêmio mais importante da música! Tenho uma sensação de merecimento também, sabe? Olho para trás e lembro do trabalho e da dedicação que tive, de tudo que abdiquei por esse disco e por minha carreira na música. Um Grammy vem reconhecer a qualidade e relevância que eu acredito que esse trabalho tem. É um álbum feito por mim e pelo Leo Bracht, mas que envolveu uma série de pessoas muito sérias e muito talentosas que fazem da música a sua vida. Somos músicos, produtores, compositores, pessoas que estudam e trabalham muito pra isso. Isso é muito grande, e precisa mesmo ser valorizado.
Ser músico e trabalhar com música é um ato de coragem no Brasil. Então não há sensação melhor do que a paz e a felicidade que esse prêmio traz para mim. É o prêmio máximo da música para qualquer trabalho lançado na América Latina, então eu não poderia estar mais feliz!
Para quem são seus agradecimentos? Nas redes sociais, você citou o produtor Leo Bracht e seus pais. Qual foi o papel de cada um?
O Leo Bracht, eu costumo dizer, é o pai desse projeto. Eu sou a mãe. O disco não existiria como existe sem um de nós. Acho que o papel de um produtor musical é escutar o artista, se conectar com sua alma e buscar, junto com ele, caminhos para traduzi-la em música. O Leo é um profissional competentíssimo, criativo e muito sensível. Tivemos uma sinergia única no processo de criação do Noturno, e em cada etapa construímos tudo juntos. Além disso, ele fez um trabalho impecável de pós-produção e mixagem. Tanto que ele foi indicado como Melhor Engenharia de Gravação por este disco. Ele que acreditou na história do Grammy e insistiu para que a gente inscrevesse o disco, mesmo imaginando que teríamos poucas chances de indicação. E olha, tivemos quatro nomeações!
Meus pais têm um papel que está na fundação, na estrutura do projeto. Primeiramente, porque muitas das minhas referências musicais me foram ensinadas e mostradas por eles e por meus irmãos, que também vêm deles. Também porque eles acreditaram muito em mim, nas minhas composições, no meu projeto. Muitas vezes passando por dificuldades, assumindo dívidas e empréstimos comigo, eles me ajudaram a bancar as gravações. O seu Sebastião e a dona Eliana sempre me impulsionaram a ser corajosa sendo correta, a persistir e ser determinada sabendo de onde eu vim. Eles me deram muitas das ferramentas internas pra que eu pudesse concretizar esse projeto. Com apoio, amor, incentivo, estavam em todos os shows e sempre foram meu farol para contar das vitórias, chorar nas dificuldades e sonhar com as possibilidades. Eles acreditaram e investiram muito em mim, na minha carreira e no Noturno.
Como foi participar da cerimônia do Grammy Latino? Foi o que esperava? Como se sentiu?
Foi uma honra! Estar representando o Brasil em tantas categorias, ver meu trabalho ali sob holofotes tão potentes, ao lado de artistas tão grandes me fez me sentir grande também. Grande e pequena ao mesmo tempo, no sentido de servir à arte e estar ali por causa dela. Algo como saber que realmente arte se trata de estilo e de verdade, apesar de a mídia muitas vezes valorizar muito mais o aspecto do entretenimento. Me senti muito gratificada de ser convidada pra essa festa que eu não imaginava participar tão cedo na minha carreira. E ver tanto reconhecimento para trabalhos como o meu e como os de gigantes como Jorge Drexler, Chico Buarque e Hermeto Pascoal, que não fazem a música do grande circuito de entretenimento. Isso me fez sentir um orgulho muito grande de fazer parte do mundo musical que valoriza músicas “alternativas” como as desses caras. Orgulho por acreditar na postura, na filosofia e na obra desses artistas, e por me espelhar neles em diferentes aspectos.
Teve tempo de interagir com outros artistas? Algum tipo de conversa com algum convidado?
Tive sim. Nos Estados Unidos tudo acontece mais rápido, então você tem que ser objetivo. Mas, no pouco tempo que houve, recebi vários convites para gravações, parcerias - inclusive para um projeto infantil, o que me encantou! E consegui conhecer os três artistas que mais queria encontrar por lá: Mon Laferte, Jorge Drexler e Laura Pausini.
A Mon por ser uma cantora e compositora chilena maravilhosa, cujas músicas eu tenho cantado no meu projeto Anaadi canta Chile. Gosto muito da postura dela como mulher e como artista. Tivemos duas conversas ótimas, foi lindo! O Jorge por ser o Jorge! (risos). Admiro muito a música, a pessoa, o caráter e o posicionamento cultural e político dele! É um ídolo pra mim, e uma das pessoas mais generosas que já conheci no mercado musical. Nós conversamos algumas vezes, ele ganhou meu disco e me contou que gostou muito do meu discurso na premiação.
A Laura Pausini por ser uma das minhas primeiríssimas referências musicais da vida! Quando tinha cinco anos e estudava piano, pedia à minha professora para aprender a tocar as músicas dela. Meu pai conta que com seis anos eu pedi para me apresentar num baile beneficente que ele tinha organizado para umas 350 pessoas. Eu sentei ao teclado de adulto e toquei Strani Amori. Contei para ela, que foi muito fofa e adorou a história. Os três foram generosos e fiquei muito feliz de ver colegas que mantêm sua humildade e essência mesmo depois da fama.
Como estão os preparativos para os discos Iluminar e Vermelho, que dão continuidade ao premiado Noturno?
O Iluminar está 90% gravado, mas ainda faltam alguns detalhes, porque depois de gravar a gente acaba repensando o trabalho e ele vai crescendo no próprio processo.
O Vermelho ainda está lá em cima, na nuvem, no pensamento. Mas meu processo é assim mesmo, vai sendo elaborado no inconsciente e uma hora brota em forma de música. Aí vem o trabalho de lapidar, produzir, cantar, tocar. Da nuvem para as ondas (risos).
Quais são seus próximos passos? Quantos shows fará nos EUA e como tem sido a receptividade por aí?
Meu próximo passo é promover bastante o Noturno. Quero fazê-lo chegar aos ouvidos nos quais ele ainda não chegou, então temos um caminho longo! O Grammy Latino ajuda muito nesse objetivo. Junto, quero continuar o trabalho com o Iluminar. É difícil achar tempo para tudo, mas a gente faz a nossa parte. As coisas acontecem no tempo certo.
Nos EUA, tenho trilhado um caminho muito bonito. Já tinha me apresentado em New Orleans e Nova York em julho deste ano, e agora voltei para o Grammy com mais três datas do show da turnê: duas em San Diego, no Turquoise Europa Cafe e no Eve; uma em Los Angeles, no Catalina Jazz Club. Estou super feliz de cantar neste palco onde já se apresentaram caras como Chick Corea e Stevie Wonder! É em Hollywood, e a banda vai ser linda! Teremos o Tuti Rodrigues, percussionista e grande parceiro que está indo comigo, mais meu amigo Grecco Buratto na guitarra, André de Santana e Léo Costa, que são dois músicos brasileiros da banda do Sergio Mendes, e Mitchell Long. Acho que vai ser demais!