O encontro da noite desta segunda-feira (22) no ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento reúne dois dos melhores exemplares de duas gerações distintas da literatura em espanhol para discutir o romance como gênero narrativo. Estarão no palco do Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), às 19h45min, o espanhol Javier Cercas, 56 anos, e o chileno Alejandro Zambra, 43. Ambos pretendem discutir o papel do gênero na literatura, escorados em obras que curvam e subvertem o próprio sentido clássico do que constitui um “romance literário”.
Javier Cercas é autor de mais de um “romance sem ficção”, como ele mesmo define. São narrativas sobre momentos-chave do passado da Espanha, como Soldados de Salamina, a respeito da chaga da Guerra Civil que fraturou o país, e Anatomia de um Instante, sobre uma fracassada tentativa de restauração do franquismo em um golpe militar em 1981. Para a noite desta segunda, Cercas pretende discutir o que faz do romance o mais multifacetado dos gêneros:
– A ideia central é que o romance, como inventado por Cervantes, é o gênero das perguntas, não das respostas; também que é um gênero essencialmente irônico, cujas verdades nunca são claras, nítidas e taxativas, mas contraditórias, ambíguas, poliédricas, matizadas e, por essa razão, têm sido um instrumento essencial de destruição do fanatismo e da construção de nossas modernas sociedades democráticas – explica Cercas, em entrevista por e-mail.
Zambra começou sua carreira na poesia, mas consagrou-se mundialmente em 2006, com sua estreia no romance, Bonsai, uma história de amor em que desde o primeiro parágrafo o narrador explica que os dois personagens não formam mais um casal porque a garota da história morreu.
Zambra experimenta bastante com o caráter arbitrário da literatura como uma série de escolhas. Bonsai era um livro ressecado ao limite. Múltipla Escolha é uma narrativa composta de questões de vestibular. É essa abordagem experimental que o escritor apresentará no Fronteiras:
– Vou ler uma palestra intitulada “De novela, ni hablar” (“Para não falar do romance”, em tradução livre), na qual tento recriar uma certa disposição antirromanesca que, paradoxalmente, está na origem da minha abordagem ao romance. A ideia de que toda literatura está lutando contra si mesma – escreve Zambra, também por e-mail, arrematando que a leitura de Clarice Lispector foi fundamental para essa concepção da literatura.
Depois de falarem cada qual a seu turno, ambos devem debater seus pontos de vista. Embora sejam admiradores do trabalho um do outro, esta é a primeira vez que ambos dividem uma mesa.
– Tenho acompanhado o trabalho de Zambra desde o começo, e parece-me, sem dúvida, um dos melhores escritores de meu idioma. Nos vimos várias vezes, no Chile, na Espanha e no México, mas nunca participamos de um evento juntos, então estou ansioso – escreve Cercas.
– Tive a sorte de ler o Cercas de antes de Soldados de Salamina, isto é, quando ele era um escritor quase secreto e desconhecido. Sempre gostei de seus romances, parece uma honra, talvez não merecida, compartilhar esse espaço com ele – devolve Zambra.
FRONTEIRAS DO PENSAMENTO 2018
- Ainda há ingressos para a edição deste ano do Fronteiras do Pensamento, que podem ser adquiridos pelo fone (51) 4020-2050 ou na bilheteria do Salão de Atos da UFRGS no dia da conferência, a partir das 17h.
- O Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem, com patrocínio Unimed Porto Alegre e Hospital Moinhos de Vento, parceria cultural PUCRS e empresas parceiras CMPC Celulose Riograndense e Souto Correa. A parceria institucional é da Unicred. Universidade parceira: UFRGS. Promoção Grupo RBS. Informações: (51) 4020-2050.