Emily Borghetti se preparou a vida inteira para subir ao palco do teatro do CHC Santa Casa (Av. Independência, 75) na noite desta quinta-feira (25), quando estreia seu primeiro espetáculo de dança solo, Chula. A performance, que também será apresentada ao público da Capital nas noites de sexta (26) e sábado (27), sempre às 20h, sintetiza os mais de 30 anos de carreira da multiartista — que tem apenas 34 de idade.
Filha do músico Renato Borghetti e da bailarina Cadica Costa, Emily subiu ao palco pela primeira vez aos três anos. Cresceu influenciada pelo cancioneiro regionalista gaúcho, nicho musical do pai; o tilintar de sapatos e castanholas que embalam o flamenco, dança na qual a mãe é referência; e as bagagens acumuladas em suas próprias empreitadas artísticas, as mais diversas possíveis.
O combo formou uma artista disposta a fazer o que bem entende da própria arte, sem jamais se curvar perante as normas com as quais não concorda. E isso está mais do que presente em Chula. O espetáculo circula por entre as diferentes camadas que constituem Emily Borghetti enquanto bailarina, tendo como espinha dorsal a dança típica gaúcha que, tradicionalmente, só é dançada por homens.
— Trago a chula para o meu corpo, que é um corpo com muitas referências. Ela funciona como uma trilha que leva para vários lugares, um órgão que pulsa em vários ritmos — diz Emily. — Parto da ideia de que, pelo regramento, nem poderia estar dançando a chula. E se nem poderia estar dançando, mas estou, também posso dançá-la do meu jeito.
Mais protagonismo feminino
A artista se aproximou da chula em 2016, quando assumiu o posto de coreógrafa do CTG Tiarayú, de Porto Alegre. Naquele ano, a entidade consagrou-se campeã do mais importante concurso das danças tradicionais gaúchas, o Enart. Uma das apostas da performance apresentada foi, justamente, trazer mais protagonismo para as mulheres.
Emily diz que, apesar de ter crescido em um ambiente perpassado pelo tradicionalismo, nunca havia tido uma vivência de CTG. Para ela, que sapateia desde a primeira infância no bailado do flamenco, foi curioso perceber as questões de gênero que envolvem a chula.
— Vi que todo mundo que frequenta CTG sabe dançar, tanto homens quanto mulheres, mas somente os homens se apresentam. Então, trazer a chula para o espetáculo é uma forma de dizer que ela também pertence a nós. Até porque a tradição está sendo feita e transformada a todo momento. É claro que haverá resistência, como de fato há, mas isso faz parte de qualquer mudança — reflete Emily.
A artista revela que, desde as primeiras divulgações de seu espetáculo, alguns comentários negativos vêm pipocando nas redes — comprovando a "resistência" citada por ela.
— São falas muitas vezes desrespeitosas, que poderiam ser paralisantes, mas que não me afetam, porque também há muita coisa legal sendo dita. A partir do momento em que decido batizar o espetáculo de Chula, eu já não estou tão preocupada com o que vão pensar, né!? Subverto e assumo para mim uma palavra que, além de dar nome à dança, é usada para desqualificar as coisas.
Não há nada de "chulo" no primeiro espetáculo solo de Emily Borgetti. Além de uma coreografia criada por ela com esmero durante cerca de um ano, Chula tem em sua trilha sonora autoral vozes de nomes como Paola Kirst, Fofa Nobre e Clarissa Ferreira.
No palco, ainda estarão presentes o violonista Neuro Júnior, expoente do violão sete cordas no Estado, e a pianista Dionara Fuentes. A direção cênica é da bailarina Silvia Canarim e a musical é de Guilherme Ceron.
Após as três noites no CHC Santa Casa, Emily pretende levar o espetáculo para a estrada.
— A intenção é circular, porque deu muito trabalho para fazer (risos) — brinca a artista.
Chula, de Emily Borghetti
- Quando: Quinta (25), sexta (26) e sábado (27), às 20h.
- Onde: no teatro do CHC Santa Casa (Av. Independência, 75), em Porto Alegre
- Ingressos: R$ 50 (inteiro), disponível na plataforma Sympla