Quando dava os primeiros passos como coreógrafa e diretora de espetáculos, Deborah Colker confessou à mãe a vontade de fundar uma companhia de dança. Era o início dos anos 1990, e a carioca começava a chamar atenção no Rio. Foi fortemente desaconselhada:
— Mas, minha filha, ninguém sabe o que é dança contemporânea. Faz uma companhia de dança de salão, de pagode — refutou a mãe.
Seguindo a jornada de filha que não se resigna aos projetos de vida elaborados pelos pais, Deborah fundou sua própria companhia, batizada com seu nome, que completa 30 anos como um dos grupos de dança contemporânea mais prestigiados e premiados do mundo. Sagração, seu novo trabalho, poderá ser prestigiado em Porto Alegre nesta sexta (19), às 21h, e no sábado (20), às 20h, no Teatro do Sesi no Centro de Eventos Fiergs (Av. Assis Brasil, 8.787). Haverá apresentação única em Novo Hamburgo na segunda-feira (22), às 20h30min, no Teatro Feevale (RS-239, 2.755 — Campus II). A duração prevista é de 70 minutos.
Fundada em 1995, a Companhia de Dança Deborah Colker foi sucesso de crítica um ano depois com Velox, espetáculo em que dançarinos misturam coreografias com movimentos esportivos, às vezes subindo por uma parede de escalada — ousadia e criatividade que abriram as portas para uma série de convites e reconhecimentos. Deborah foi honrada em 2001 com o Laurence Olivier Award for Outstanding Achievement in Dance, distinção inglesa para realizações notáveis na dança. Em 2009, com Ovo, tornou-se a primeira mulher a criar e dirigir um espetáculo do Cirque du Soleil, maior companhia circense do mundo. O grande troféu chegou em 2018, quando venceu o Prix Benois de la Danse de Moscou, considerado o "Oscar da dança".
Estudante de piano clássico na infância, Deborah nutria há tempos a vontade de trabalhar com uma obra do compositor russo Igor Stravinsky. Sagração é inspirado em A Sagração da Primavera, peça composta em 1913 e estreada no mesmo ano com coreografia de Vaslav Nijinsky, celebrando um ritual pagão de dança e causando uma revolução no meio artístico da época ao romper com a sonoridade e a rítmica vigentes.
— É uma obra que inaugura a música contemporânea dentro da música clássica. Stravinsky se inspirou na música primitiva russa, pagã e folk. Foi revolucionário naquele momento. Só grandes coreógrafos e grandes orquestras encenam A Sagração da Primavera. Foi um grande desafio, mas está aí — diz Deborah.
Preservando a intenção de Stravinsky de levar ao palco as tradições pagãs, Deborah cria um espetáculo que celebra a floresta e a cultura brasileiras, misturando-as à música erudita. São 15 dançarinos em um cenário decorado por 170 varas de bambu.
— Me inspirei no primitivo da nossa cultura brasileira, na nossa floresta, na cosmovisão indígena e judaico-cristã. Trouxe o Stravinsky para dentro da música indígena, misturado a instrumentos percussivos e de sopro. O resultado é uma sagração brasileira. É um espetáculo que traz as cores do Brasil antes de 1500 — diz.
Aos 63 anos e vivendo no Rio de Janeiro, Deborah não cansa de se desafiar. Está envolvida na direção de sua primeira ópera, Anaidamar, sobre o poeta e dramaturgo espanhol Federico García Lorca, que estreou em 2022 na Escócia e vai reestrear em outubro deste ano na Metropolitan Opera House, em Nova York. Para 2026, está criando outra ópera, dessa vez sobre um dos casais mais marcantes das artes, Frida Kahlo e Diego Rivera.
A segurança para se lançar em projetos diferentes dos habituais vem da experiência em liderar uma companhia de dança conhecida por quebrar barreiras.
— Foi a companhia que me deu todas as condições para eu conseguir tudo o que consegui. Nesses 30 anos, sempre experimentei, estudei dentro da companhia, sempre fui muito fiel a esse trabalho. Temos necessidade de experimentar, de não se acomodar, de buscar um caminho próprio, misturando o Brasil, a rua, a academia. A companhia traz o mundo para dentro da dança que fazemos. Quem sair de Sagração vai pensar: "O que é isso? É um filme? É teatro? É dança?". Eu tenho essa intenção. Espetáculo de dança não é só corpo em movimento. É corpo em movimento, é luz, espaço, cenário, figurino, dramaturgia.
Cia. Deborah Colker em "Sagração"
Porto Alegre
- Nesta sexta (19), às 21h, e no sábado (20), às 20h, no Teatro do Sesi no Centro de Eventos Fiergs (Av. Assis Brasil, 8.787).
- Ingressos a partir de R$ 160 pelo site DiskIngressos. Há ingressos populares (limitados) a R$ 39,60.
- Desconto de 20% para sócios do Clube do Assinante e acompanhante.
Novo Hamburgo
- Nesta segunda-feira (22), às 20h30min, no Teatro Feevale (RS-239, 2.755 — Campus II).
- Ingressos a partir de R$ 120 pelo site Blueticket.