Apesar do nome, Eu te Amo não é um espetáculo sobre amor. Ou, ao menos, não só sobre isso. Estrelada por Juliana Martins e Sergio Marone, a peça usa o sentimento como pano de fundo para um mergulho intenso na questão humana, abordando nuances como o medo, o desejo, a insegurança, o tesão, a euforia, a solidão e, enfim, costurando tudo, o amor. As temáticas ganham o palco do Theatro São Pedro nas noites desta terça (23) e quarta-feira (24), às 20h, integrando a programação do festival Porto Verão Alegre, que se estende até 8 de fevereiro.
O texto de Eu te Amo é do renomado jornalista e cineasta Arnaldo Jabor. Trata-se de uma adaptação para teatro feita por ele sobre o roteiro de seu filme homônimo, lançado em 1981 e estrelado por Sônia Braga e Paulo César Pereio. A primeira montagem teatral foi dirigida pelo próprio Jabor, em 1987, com Bruna Lombardi e Paulo José nos papéis principais. Em 2010, a atriz Juliana Martins iniciou a empreitada de remontar o espetáculo, que permanece em cartaz há quase 15 anos, tendo ela como protagonista e produtora-executiva.
— Comecei a fazer a peça com 36 anos. Em março, faço 50 (risos) — constata a atriz, que dividiu o palco com diferentes atores durante os anos do espetáculo. — Acho que, quando comecei, ainda não tinha a vivência da personagem, a dramaticidade. Agora, mais madura e mais experiente, vejo que estou cada vez melhor. E consigo me divertir muito mais também — reflete Juliana.
A personagem interpretada por ela é Maria, amante de um homem casado que se desilude com o amado e, projetando vingança, decide "dar para o primeiro babaca que aparecer". O primeiro babaca que aparece é Paulo, interpretado por Sergio Marone, um cineasta decadente e igualmente desiludido com o amor. Em um enredo tão trágico quanto cômico, ele descobre que foi traído pela esposa justamente com o diretor de fotografia do filme que estava fazendo para homenageá-la. Na versão cinematográfica de Eu te Amo, Paulo era um industrial falido.
Marcados por suas respectivas desilusões amorosas, os personagens se entregam a uma paixão quente e avassaladora no intuito de esquecer as feridas do coração. E esquecer também de quem são de verdade. Paulo, que está falido e completamente na fossa desde que foi deixado pela esposa, finge ser rico e descolado. Já Maria, que na realidade acumula uma pilha de inseguranças, finge ser uma garota de programa dona de si e bem resolvida, assumindo a identidade de Mônica.
Em uma atualização do texto para os tempos atuais, os dois se conhecem em um aplicativo de relacionamentos — no filme, eles se encontram na rua. As plataformas se transformaram em um marco das relações afetivas contemporâneas, mas também são zonas permeadas por mentiras sobre aspectos como a própria aparência ou condição de vida, vindo a calhar ao enredo do espetáculo.
— Eu acho que isso faz parte das inseguranças das pessoas, que acabam fingindo ser coisas que não são para camuflar aquilo que as incomoda e causar uma melhor impressão — opina Sergio Marone.
— É interessante que, apesar das mentiras iniciais e de estarem fragilizados, os personagens acabam se conectando verdadeiramente. Inclusive, isso gera reações muito interessantes ao longo da peça, às vezes até divertidas, porque eles riem da própria desgraça. O público consegue se identificar, refletir e rir em vários momentos — adianta o ator, garantindo que, ao fim de todas as reviravoltas do espetáculo, os espectadores deixarão o Theatro São Pedro acreditando no amor.
O que também deve chamar atenção do público é o formato da montagem. Com apenas Juliana e Marone em cena, o espetáculo mescla a performance dos atores com projeções em vídeo que ajudam a materializar as memórias e as angústias dos personagens.
Em cena, a dupla de atores executa um grande plano sequência, transportando a linguagem cinematográfica ao palco. Pode ser reflexo da direção assinada por Rosane Svartman, Lírio Ferreira e Léo Gama, nomes reconhecidos por trabalhos na TV e no cinema. Mas as referências à sétima arte param por aí. Sobretudo porque, apesar da carga dramática que marca o filme Eu te Amo, no espetáculo, a promessa é de transmitir leveza à plateia.
"Eu te Amo"
- Terça (23) e quarta-feira (24), às 20h, no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), em Porto Alegre.
- Ingressos inteiros a partir de R$ 80, disponíveis no site de vendas do Porto Verão Alegre.
Porto Verão Alegre
- Até 8 de fevereiro, com 140 espetáculos em cartaz em Porto Alegre.
- Programação e ingressos disponíveis no site do festival.