Enquanto se apresentava em diversos teatros do Brasil com o espetáculo Querido Brahms, em 2015, Werner Schünemann começou a trabalhar o desejo de encenar um monólogo. Atento à masculinidade cambaleante diante de tantas transformações nos papéis de gênero, o ator também pensou que seria pertinente abordar o tema, cada vez mais relevante.
O Espantalho nasceu, então, da parceria com Bob Bahlis, a quem Schünemann convidou após assistir a uma peça do diretor. Além de primeiro solo de sua carreira, será a sua estreia no palco do Theatro São Pedro com um espetáculo.
A obra ficará em cartaz na sexta-feira (11) e no sábado (12), às 20h, e no domingo (13), às 18h, dando início à temporada nacional. Ingressos a partir de R$ 50 estão à venda no site do teatro. Após a sessão de sábado, ainda haverá um bate-papo provocado por reflexões sobre a temática da peça com participação da psicanalista Luciana Pavão Kroeff, do médico psiquiatra Euclides Gomes e do psicanalista e diretor teatral Júlio Conte.
Não é coincidência que as datas caiam justamente no final de semana em que as famílias se encontram para celebrar o Dia dos Pais. A figura paterna é central no texto de O Espantalho, que coloca o progenitor como pivô de uma masculinidade doentia.
— Por que é tão importante a reafirmação da masculinidade? Por que os homens, meninos e rapazes precisam se reafirmar o tempo todo? Uma masculinidade que precisa ser reafirmada é uma masculinidade frágil. Tem certas vergonhas que só o homem sente, porque é ensinado que não deve passar por determinadas situações — reflete o artista de 64 anos.
Schünemann vive um ator de trajetória exitosa que vai até o sítio do pai recém-falecido para jogar suas cinzas. Na horta que era mantida pelo patriarca, há um espantalho que o velho reconstruía toda vez que o rio enchia, invadindo a lavoura e destruindo o boneco.
Ao colocar a relação em discussão, é ao fantoche encarnado de metáforas que o ator se dirige.
— Aquele pai não soube ser pai, não soube ser colega do filho, nunca soube conversar. E a possibilidade de um futuro para o masculino passa por sermos pais melhores. Quando o homem for um bom pai, ele terá importância sociológica. Ficará bastante evidente para quem vai assistir que a peça aborda questões que são caras a mim — diz ele, que tem dois filhos.
Desde a época em que estudava História na UFRGS, na década de 1970, Schünemann fica intrigado com a questão da masculinidade. Viu as mulheres se reformulando ao longo dos anos e conquistando seu espaço, enquanto o comportamento dos homens, em sua opinião, ficou estacionado. Mas O Espantalho não dará uma saída:
— A arte tem que criar crises, não resolvê-las. Deve gerar inconformidades e inquietudes, mas não é função da arte encontrar solução.
O Espantalho tem trilha sonora de Hique Gomez e ficará em cartaz no interior do Estado antes de estrear em São Paulo. Para conceber o espetáculo, Schünemann e Bob Bahlis se basearam em três clássicos da literatura: Carta ao Pai, de Franz Kafka, Minha Luta 1 – A Morte do Pai, de Karl Ove Knausgård, e A Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa. O texto foi escrito pelo diretor teatral, enquanto o ator fez contribuições. A pretensão é transformá-lo em livro.
Com a inédita experiência de estar sozinho no palco, o ator de vasta trajetória na TV, no cinema e no teatro diz que fica acometido por uma certa vergonha, que desaparece quando a cortina se abre.
— Quando estou em cena, fica tudo ok. Mas dá um medo, porque não estou acostumado a subir sozinho no palco. O problema do monólogo é que, quando dá errado, a gente sabe de quem é a culpa — brinca.
Estreia nacional de "O Espantalho"
Sexta (11) e sábado (12), às 20h, e domingo, às 18h, no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°), em Porto Alegre
Ingressos a R$150 (plateia), R$ 140 (camarote central), R$ 120 (camarote lateral) e R$ 50 (galeria) à venda no site do teatro