Muita coisa mudou para o comediante porto-alegrense Dig Verardi desde a última entrevista a GZH, em julho do ano passado. A conversa girou em torno do sucesso que o perfil de humor Malhassaum, criado por ele e pela atriz Fernanda Fuchs, vinha fazendo entre o público gaúcho. Até que o público mudou. Graças a um vídeo sobre o Carnaval carioca, Dig viralizou no Rio de Janeiro, mudou-se para lá e, desde então, vem lotando teatros na cidade maravilhosa com o espetáculo Uma Comédia Irreveréntchy, parceria com o músico e também humorista Thom Verardi, que é primo dele. Os dois gaúchos apresentam o show pela primeira vez em Porto Alegre neste sábado (5), às 21h, no Poa Comedy Club.
Uma Comédia Irreveréntchy é inspirado em outro espetáculo que os primos costumavam apresentar na Capital antes do estouro no Rio de Janeiro, chamado Nugget People. O texto é outro, aprimorado e acrescido de novos números, mas o formato é o mesmo: inclui momentos de stand-up baseados em causos da vida deles, canções satíricas que foram compostas pelos dois e, é claro, interpretação de personagens que fazem sucesso em Malhassaum.
— O humor do espetáculo está muito ligado ao humor da página, onde a gente usa esses personagens para satirizar a classe média e trazer uma crítica social junto da comédia. E não deixa de ser uma autocrítica, porque a gente habita esse universo também — afirma Dig.
O tom crítico, aliás, é uma das principais características da comédia apresentada em Malhassaum e no espetáculo de Dig e Thom. Os humoristas são avessos a "piadas" que ridicularizam minorias sociais e entendem que o humor não deve contribuir para perpetuar preconceito e opressões, renegando o discurso de que "dentro da comédia pode tudo".
— Atacar minorias é crime, é discurso de ódio, não é humor. O maior limite do humor é a lei, depois da lei, o bom senso — enfatiza Dig.
— A gente entende que não faz sentido rir de pessoas que já sofrem tanto, por isso que a nossa comédia satiriza quem é privilegiado — completa Thom. — Eu sou um homem hétero e, no espetáculo, sou muito zoado pelo Dig, que é gay. Historicamente, a gente vê os héteros zoarem os gays, então é interessante poder usar a comédia para inverter essa lógica.
Mudança
Thom vive no Rio de Janeiro há seis anos, tocando sua carreira na música — ele integra a banda da artista Rafa Pinta, que se apresenta no Agulha nesta sexta (4), além de manter outros projetos. Dig também chegou a viver na cidade maravilhosa entre 2018 e 2020, mas voltou para Porto Alegre por conta da pandemia. Agora, com o sucesso de Malhassaum em terras cariocas, ele achou que era a hora de fazer as malas novamente.
— Eu viralizei no Rio no Carnaval e em seguida voltei para Porto Alegre, mas segui fazendo vídeos sobre os cariocas. Comecei a ver os números crescerem, famosos seguirem a página, mas nas ruas tudo seguia igual na minha vida — lembra Dig.
Ele só se deu conta da popularidade dos vídeos ao retornar à cidade.
— Quando, em maio, eu fui novamente para o Rio de Janeiro, caiu a ficha de que a repercussão havia sido realmente muito grande, a ponto de as pessoas me reconhecerem e pararem para falar comigo. Resolvi aproveitar este momento e as oportunidades que estão surgindo — acrescenta o gaúcho, que recentemente gravou uma participação na segunda temporada da série Encantado's, do Globoplay.
A decisão de criar um espetáculo voltado para o Rio ocorreu de forma natural, já que Dig e Thom haviam trabalhado juntos em Nugget People. Eles adaptaram o formato que já havia funcionado em Porto Alegre e criaram novos personagens cômicos, agora baseados nos estereótipos cariocas — o que não foi tão difícil, pois os dois conhecem bem o Rio de Janeiro.
Desde a estreia, Uma Comédia Irreveréntchy vem contando com sessões lotadas na cidade maravilhosa. A versão do show que chega a Porto Alegre é um pouco diferente da que vem sendo apresentada no Rio de Janeiro, focada no contexto de lá. Aqui, os personagens gaúchos serão o carro-chefe do texto, mas no Rio, figuras como a "patricinha gaúcha" — que estudou no Farroupilha, debutou no Leopoldina etc. — dão lugar a outras como o "garoto Leblon".
Na página de Malhassaum, personagens gaúchos e cariocas seguirão convivendo no feed. Mesmo morando no Rio, Dig não pretende abandonar o púbico gaúcho e diz que seguirá produzindo conteúdos voltados para as duas regiões.
— Porto Alegre me deu muitas oportunidades e segue no meu coração, mas agora é o momento de estar aqui (no Rio), vendo os meus sonhos se realizarem — diz ele.