Quando as cortinas do Teatro Museu do Trabalho (Rua dos Andradas, 230), na Capital, abrirem-se neste domingo (10), começará uma sessão repleta de significados para o universo teatral gaúcho.
Na apresentação da peça Aladdin, terá início uma nova era para uma das companhias teatrais mais longevas do Brasil e, sobretudo, uma homenagem ao seu fundador. O espetáculo com temporada até 23 de outubro, sempre aos domingos, às 16h, marca a estreia da Cia. Ronald Radde, que nasce para dar continuidade ao trabalho da Cia. Teatro Novo e manter vivo o legado do dramaturgo e diretor, que morreu em 2016. Os ingressos, a R$ 50, estão à venda pelo site sympla.com.br e na bilheteria do teatro, duas horas antes do início.
A montagem do clássico infantil, com duas sessões somente na estreia (às 16h, já esgotada, e às 18h), ainda representa o retorno dos espetáculos ao Teatro Museu do Trabalho, espaço fechado desde 2019. Por um capricho do destino, foi ali mesmo que Ronald Radde instalou a primeira sede oficial de sua companhia, em 1986. À frente dessa nova era estão Karen Radde, filha de Ronald, e o ator Vinicius Mello, que como diretores do projeto assumiram uma série de melhorias no espaço a fim de concretizar ali as atividades do carro-chefe da Cia. Ronald Radde: o projeto A Escola Vai ao Teatro.
— Nestas paredes, meu pai começou o sonho dele de fundar (em 1968) uma companhia que foi a mais antiga do Brasil em atividades ininterruptas. Agora, recomeço a minha história justamente onde tudo começou — anuncia Karen.
Além de ajustes técnicos, em acústica, climatização e novo palco, foram reformados o camarim e a área da plateia: saiu a arquibancada, entraram poltronas e carpete. Tudo custeado pela própria companhia. O objetivo é proporcionar mais conforto às escolas e aos espectadores. O local onde se localiza o teatro é administrado pela Associação do Museu do Trabalho. A nova companhia loca o espaço e presta contas à associação.
— A gente trouxe muita coisa da Sala Carmen Silva, onde recebíamos cerca de 49 mil crianças por ano. A estrutura de lá e de agora é a mesma. A diferença é que a capacidade diminuiu, de 500 para 160 lugares — explica Karen.
Ela se refere ao espaço no DC Navegantes que foi sede da Cia. Teatro Novo de 2001 a 2018. De lá para cá, a vontade de dar continuidade ao legado do pai vinha sendo amadurecida.
— Começamos a procurar lugar e, por uma coincidência do destino, estava disponível o Teatro do Museu. E por que não uma companhia de teatro infantil chamada Ronald Radde? Tem coisa mais bonita? — reflete ela.
Formação
O madeiramento do palco do DC está exposto em uma parede nos fundos do espaço da nova companhia como forma de memória.
— A gente é parte da história da extinta Cia. Teatro Novo, e a melhor forma de construir uma nova fase era continuar fazendo o que gostamos. A nova companhia traz uma bagagem de respeito. O nome Ronald Radde é esse peso — completa Mello.
Karen e Mello estão há meses envolvidos com a reforma do local, colocando a mão na massa, no cimento e nas tintas com a ajuda de amigos e atores.
— Recordo o meu pai arrumando o palco, consertando portão, criando os espetáculos ao mesmo tempo em que construía o espaço — conta Karen. — Essa é a lembrança do meu pai aqui no Teatro do Museu: sem camisa, pintando o portão, porque era necessário. Ao mesmo tempo, sendo o grande diretor que era.
No novo espaço, já estão funcionando oficinas culturais.
No planejamento de espetáculos da companhia, não estão descartadas montagens para o público adulto, principalmente comédias, mas a prioridade é o público infantojuvenil, além de servir de braço para o desenvolvimento de atividades pedagógicas com escolas.
— As oficinas de teatro são para todos os públicos, então já fica o convite — avisa Mello. — Mas entendemos que a formação de plateia é uma das coisas mais importantes. Uma vez que se tenha algum contato com o teatro, tendemos a experimentar mais vezes. Ser essa porta de entrada nos dá uma responsabilidade muito grande. Acreditamos poder proporcionar esse encantamento às crianças e ao mesmo tempo reverenciar a nossa trajetória até aqui.
Karen acrescenta:
— Lembro o meu pai dizendo pra gente todos os dias: "Caprichem!". E é isso que a gente vai fazer.
Quem foi Ronald Radde
Dramaturgo e diretor, Ronald Radde era natural de Cambará do Sul e se transformou em um nome de referência para o teatro nacional e gaúcho. Ele morreu em abril de 2016, aos 71 anos, por complicações de uma doença autoimune, a Síndrome de Guillain-Barré.
Fundou a Cia Teatro Novo em 1968, que funcionava num salão paroquial da Capital até assumir, em 1986, o Teatro Museu do Trabalho como primeira sede oficial. Foram 49 anos de atividades ininterruptas. No início, se notabilizou ao levar ao palco espetáculos contundentes de resistência ao regime e de denúncia de injustiças e desigualdades socioeconômicas.
Das cerca de 60 peças criadas ou dirigidas por ele, a grande maioria foi direcionada ao público infantil, conforme registra sua biografia, escrita pelo jornalista e crítico Antonio Hohlfeldt. Dirigiu mais de 180 espetáculos e adaptou vários clássicos da literatura infantil. Aladdin, que marca a continuidade de sua companhia, agora com um nome em sua homenagem, estava nos planos do dramaturgo. A filha, Karen, explica por que a peça não foi montada por ele:
— Simplesmente porque não deu tempo. Seria o próximo espetáculo, depois de A Dama e o Vagabundo em Paris. Essa peça eu acabei assumindo em função da doença. Aladdin sempre foi pra ele um mistério, uma história que ele queria contar de uma forma diferente, surpreendente, que é o que eu espero conseguir fazer agora.
"Aladdin"
- Neste domingo (10), às 16h (esgotada) e às 18h. Nos próximos domingos, apenas às 16h. Temporada até 23 de outubro.
- No Teatro Museu do Trabalho (Rua dos Andradas, 230, Centro Histórico), em Porto Alegre.
- Ingressos a R$ 50, à venda na plataforma Sympla (com taxas) e no local, duas horas antes da sessão (sem taxas).