Dramaturgo e diretor que fez história no teatro gaúcho e nacional, Ronald Radde morreu nesta terça-feira de manhã, aos 71 anos, no Hospital São José do Complexo Hospitalar Santa Casa, em Porto Alegre. Desde o final de 2015, ele sofria da Síndrome de Guillain-Barré, doença rara causada por uma reação autoimune do corpo a uma infecção. O velório seria realizado na terça à tarde no Crematório Metropolitano da Capital.
Veterano profissional do teatro que teve importante trabalho na formação de novas plateias e em entidades de classe, Radde foi o fundador do Teatro Novo, companhia de trajetória surpreendentemente longeva para os padrões nacionais, há 48 anos em atividade. Desde seu afastamento da direção do grupo, devido aos problemas de saúde, o comando foi assumido pela filha Karen Radde. Em 2015, foi lançada a biografia Ronald Radde – O Perseguidor de Sonhos (Edipucrs/Editora da Cidade), de Antônio Hohlfeldt, que registra sua trajetória e sua vasta obra, integrada por cerca de 60 peças escritas ou dirigidas por ele.
Desde a criação do Teatro Novo, em 1968, ano de endurecimento da ditadura militar, o dramaturgo e diretor se notabilizou ao levar ao palco espetáculos contundentes de resistência ao regime e de denúcia das injustiças e desigualdades socioeconômicas, como Transe (1970), Apaga a Luz e Faz de Conta que Estamos Bêbados (1972) e B... em Cadeira de Rodas (1975) – o "b" do título era referência ao Brasil. Na época, foi apadrinhado por Paschoal Carlos Magno, um dos grandes nomes do teatro brasileiro moderno. A partir de 1974, com Chapeuzinho Vermelho, a companhia passou a encenar, também, trabalhos voltados para o público infantojuvenil, segmento depois predominante no repertório. Por sua trajetória, Radde foi homenageado, em 2005, no 12º Porto Alegre Em Cena, festival que reconheceu novamente o trabalho da Cia. Teatro Novo em 2014. Foram algumas de suas muitas láureas.
Leia mais:
Cia. Teatro Novo reedita peças censuradas pela ditadura militar
Entenda o que é a Síndrome de Guillain Barre, doença que vem avançando no país em razão do Zika Vírus
Cia. Teatro Novo realizará série de atos em homenagem a Ronald Radde
CENSURA À PRIMEIRA PEÇA DE SUA AUTORIA
Radde nasceu em 9 de outubro de 1944, na Vila Ouro Verde, em Cambará do Sul, filho de uma família descendente de imigrantes alemães "de classe média bem baixa", como ele mesmo descreveria, depois, na biografia de autoria de Hohlfeldt. Aos sete anos, mudou-se para Porto Alegre. Foi feirante, trabalhou com vendas, confecção de próteses dentárias, como auxiliar administrativo em uma agência bancária e virou funcionário da prefeitura – emprego que largou em 1978 para se dedicar integralmente ao teatro. A primeira peça de sua autoria, João e Maria nas Trevas, sobre a exploração de lavradores, deveria estrear em 14 de julho de 1968, mas foi censurada e ganhou sessões clandestinas.
Desde 2001, a companhia está sediada no Teatro Novo DC – Sala Carmen Silva, localizado no DC Shopping. O espaço climatizado, com capacidade para 490 espectadores, foi viabilizado com verba do próprio grupo e de apoiadores.
Radde atribuía parte fundamental da sustentação da companhia ao projeto A Escola Vai ao Teatro, criado em 1975 por Suzana Guterres, sua segunda esposa, morta em 2011. O projeto pedagógico, ainda em atividade, aproxima o teatro de alunos de escolas públicas e privadas da Capital e da Região Metropolitana.
Ele deixa a esposa, Ellen D'Avila, os filhos Marcia Radde Dias, Karen Radde e Leonel Guterres Radde e quatro netos.
DEPOIMENTOS:
Veja a programação em homenagem a Ronald Radde no próximo domingo, no Teatro Novo DC (Rua Frederico Mentz, 1.561, prédio D):
- Às 15h30min, no foyer do teatro, haverá a abertura da exposição Um Presente Especial, da artista Patrícia Langlois.
- Das 15h30 às 18h, no lado externo do teatro, será montada uma feira de adoção de animais.
- Às 16h, na biblioteca do teatro, Rosane Castro fará uma contação de histórias.
- Às 17h, no teatro, será apresentado o musical A Dama e o Vagabundo em Paris, dirigido por Karen Radde. O espetáculo infantil segue em cartaz até 26 de junho, sempre aos domingos, neste horário.
SOBRE RADDE
"Radde foi uma das pessoas mais leais e corretas que conheci. Muitos o convidavam para projetos porque sabiam que era um empreendedor. Seu sonho era fazer uma escola popular de teatro no entorno do Teatro Novo DC." – ÁLVARO ROSA COSTA, ator e compositor.
"Ele teve uma importância muito grande na difusão do teatro em todo o Estado, principalmente para a infância e a juventude. Deixou textos significativos como autor. Muitos atores se formaram por meio de suas peças." – PAULO FLORES, atuador do Ói Nóis Aqui Traveiz.