Prestes a completar 80 anos neste domingo (5), o ator, diretor e professor Luiz Paulo Vasconcellos deixou uma marca singular em qualidade e influência no teatro do Rio Grande do Sul. Mas não vive apenas das (muitas) glórias do passado. Ainda pretende publicar o livro Análise e Interpretação do Texto Teatral, escrito há alguns anos, voltado a estudantes e profissionais da cena, e uma coletânea de contos.
Algumas dessas narrativas, aliás, serão lidas por Luiz Paulo em um evento comemorativo de seus 80 anos neste domingo (5), às 18h, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, para um grupo de 80 convidados. Chegou a ser divulgado que a leitura seria da novela Primeiro Amor, de Beckett, mas o homenageado optou depois pelos textos de lavra própria.
A ocasião vai marcar também o início da pré-venda do livro biográfico Luiz Paulo Vasconcellos – Maestro Soberano, com edição e design de Flávio Wild, que estará disponível pelo site da Livraria Baleia.
Só mesmo um evento desses para tirar Luiz Paulo do isolamento social que cumpre em sua residência na zona sul da Capital desde o início da pandemia de coronavírus, ao lado da esposa, a também emblemática atriz Sandra Dani – com quem tem os gêmeos Carolina e Gustavo, 36 anos.
— Estou muito feliz e agradecido pela festividade que o Luciano (Alabarse, diretor teatral) está aprontando. Estou bem de saúde e de criatividade. Minha memória está problemática, mas continuo trabalhando, fazendo coisas de que gosto – diz ele, por telefone.
Depois de abandonar o hobby de joalheiro devido a um incômodo na lombar, Luiz Paulo pratica diariamente a arte da tapeçaria. Embora tenha ensinado uma geração de profissionais da cena como professor do Departamento de Arte Dramática da UFRGS, ele mesmo se recusa a parar de aprender. Uma oficina de poesia de que participou tempos atrás resultou, em 2006, na antologia de poemas Comendo pelas Beiradas (editora Tambor). Antes, em 1987, havia publicado o Dicionário de Teatro (L&PM), obra de referência que chegou a sua sexta edição em 2009, atualmente disponível apenas em e-book.
Curiosidade
Nascido no Rio, Luiz Paulo radicou-se em Porto Alegre em 1970, mas um ano antes já tinha dirigido na capital gaúcha, a convite do professor e filósofo Gerd Bornheim, uma histórica montagem de A Ópera dos Três Vinténs, de Brecht – uma ousadia em plena ditadura militar. Sua trajetória como encenador foi marcada pela diversidade, passando pelos clássicos (Sófocles, Molière, Shakespeare), modernos (Beckett e o já citado Brecht) e os então contemporâneos gaúchos Ivo Bender e Carlos Carvalho. Isso sem falar nas óperas, que dirigiu principalmente nos anos 2000.
— Quando cheguei a Porto Alegre, uma das primeiras coisas que fiz foi ir atrás de quem escrevia teatro por aqui. Era uma curiosidade fundamental para um jovem diretor. Aí me falaram do Ivo e do Carlinhos, que passou a ser um grande amigo meu — lembra.
Embora tenha começado no teatro como ator, suas performances em cena foram em menor número, mas não menos impactantes, intensificando-se no final dos anos 1980.
— Meu interesse era realmente na direção de espetáculos, mas com o tempo começaram a fazer falta no Rio Grande do Sul atores mais velhos. Então, fui chamado para trabalhos.
Seguiu daí uma proveitosa parceria com o encenador Luciano Alabarse, que havia sido seu aluno. Almoço na Casa do Sr. Ludwig (2002) valeu a Luiz Paulo o Prêmio Açorianos de melhor ator. Foi a primeira de uma trilogia de montagens de textos de Thomas Bernhard, completada com A Força do Hábito (2003) e Heldenplatz (2005). Sua última aparição em cena foi em 2013 na montagem paulista Oh, os Belos Dias, de Beckett, protagonizada por Sandra Dani e dirigida por Rubens Rusche.
— Fui ator e diretor, mas a melhor coisa que fiz na vida foi ser professor. Costumo dizer que não existe bom professor sem bons alunos, e tive muitos deles — atesta.
Depoimentos sobre a trajetória de Luiz Paulo Vasconcellos
"Luiz Paulo foi o melhor professor que tive na vida. Carismático. Generoso. Responsável pela minha decisão de encarar definitivamente os desafios da profissão. Maestro soberano do teatro gaúcho, semeou incansavelmente, entre rigor e gargalhadas, o destino de incontáveis trabalhadores cênicos. Perdi a conta de nossas parcerias profissionais, cinco décadas trabalhando juntos, em uma amizade real e leal. É o melhor de todos nós!"
Luciano Alabarse, diretor de teatro e ex-aluno de Luiz Paulo
"Luiz Paulo é um criador que possui a rara qualidade de poder se expressar, de criar, num nível de excelência, em diversos segmentos da arte. No teatro, sua arte maior, como diretor de cena, ator, dramaturgo, cenógrafo, figurinista, na literatura como poeta, contista, ensaísta, ou nas artes visuais como joalheiro. Como se tudo isso não bastasse, ele ainda é um excelente, generoso e apaixonado professor. Simplesmente admirável."
Sandra Dani, atriz e esposa de Luiz Paulo
"Luiz Paulo é meu mestre, me dirigiu em A Gaivota, de Tchékhov, e Fim de Jogo, de Samuel Beckett. Dividimos o palco em Essência de Macaco, de Claude Magnier, e Heldenplatz, de Thomas Bernhardt. É um homem bom, lúcido, inteligente, culto e um artista maravilhoso, mas o melhor de tudo é que é um dos meus melhores amigos. Viva LP!!!"
Zé Adão Barbosa, ator, diretor e professor de teatro
"O Luiz Paulo é um nome fundamental na história do nosso teatro. Contribuiu amplamente como ator, diretor, professor, gestor e pensador do teatro. Alguém que merece todos os nossos aplausos e celebrações."
Camila Bauer, diretora e professora de teatro