O Teatro Sarcáustico está chegando ao fim. Um dos grupos mais tradicionais de Porto Alegre se despede dos palcos a partir desta sexta-feira (7) com A Última Peça, espetáculo que será apresentado nas sextas e nos sábados até 22 de junho, no Instituto Ling (Rua João Caetano, 440).
Criado em 2004 no Departamento de Arte Dramática da UFRGS, o Sarcáustico buscou ser mais do que um trabalho de alunos que precisavam elaborar uma peça como conclusão do curso. Virou um coletivo que abrigou diversos atores locais. Recebeu e deu adeus a muitos integrantes e, 15 anos depois, chega ao fim com três deles, fundamentais na articulação do projeto: os atores Daniel Colin, Ricardo Zigomático e Guadalupe Casal.
– São ciclos. A gente está recebendo várias mensagens de pessoas tristes. Mas os caminhos estão nos levando a lugares diferentes. E tudo bem. Estamos nos divertindo com o fim – diz Guadalupe.
Em A Última Peça, o chamado “núcleo duro” do Sarcáustico apresenta uma linha do tempo que mistura fatos sobre o processo de desenvolvimento do grupo com manchetes que retratam o Brasil naqueles momentos. Um espetáculo que fala sobre teatro e também reflete sobre cultura, política e os rumos do país. A direção é de Gabriela Poester.
— É uma alegoria da situação em que a gente vive. É autobiográfica, mas não “umbiguista” — adianta Guadalupe.
Nessa festa de despedida, o Sarcáustico se recorda dos atores que passaram pelo projeto, dos alunos que neles se inspiraram, das pessoas que os criticaram por um suposto excesso de contestação — como um incômodo pela nudez que o grupo levou ao palco, sendo que apresentou apenas uma peça desse tipo em 15 anos de atuação. Também fala sobre a desvalorização da arte pelo poder público. Por exemplo: um dos primeiros palcos em que o Sarcáustico subiu, o Teatro de Câmera Túlio Piva, está desativado. Guadalupe questiona:
— Como a gente segue? A quem importa que um grupo de teatro siga existindo?
Apesar do apagar de luzes, o clima não é de ressaca. Um dos principais elementos cênicos de A Última Peça são balões de aniversário, que também funcionam como um simbolismo do que vem a seguir. Para Guadalupe, o Sarcáustico não se encerra: se prolonga nos ensinamentos a alunos e nos projetos aos quais seus integrantes darão continuidade. É como se o grupo fosse um balão cheio de ar e que, sem o nó, segue o rumo que tiver de seguir.
— Para mim, este balão está frenético, voando pelo espaço, até se esvaziar — despede-se Guadalupe.
Teatro Sarcáustico – “A Última Peça”
- Sextas, às 20h, e sábados, às 18h, até 22 de junho.
- Instituto Ling (Rua João Caetano, 440).
- Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia-entrada) no local, a partir das 10h30min, e em institutoling.org.br