Durante a criação do espetáculo que estreia nesta quarta-feira (5), no bar Ocidente, as atrizes-cantoras Ana Maria Mainieri, Cristina Kerwaldt, Giovana de Figueiredo e Maria Bufrem cogitaram restringir o acesso apenas ao público feminino, mas mudaram de ideia no meio do processo, e o título do trabalho ficou assim: Só para Mulheres... E Homens Também.
A exceção começa com o diretor, Zé Adão Barbosa, que estreia sua terceira peça neste ano prolífico — antes, vieram Carrie, a Histérica e Homem de Lugar Nenhum, atuando em ambas com Renato Del Campão. Desta vez nos bastidores, Zé Adão escreveu um roteiro, em colaboração com as atrizes, que é uma colagem de textos e canções de autoras e autores de diferentes épocas, abordando aspectos relacionados à vivência das mulheres.
Equilibrando momentos dramáticos e cômicos, além de outros tragicômicos, o espetáculo começa em tom de denúncia com marchinhas históricas da primeira metade do século 20 unidas por uma característica: o machismo. Uma delas é Dá Nela, de Ary Barroso, de 1930 ("Esta mulher há muito tempo me provoca / Dá nela, dá nela"), e outra é O Maior Castigo que Eu te Dou, de Noel Rosa, de 1937 ("O maior castigo que eu te dou / É não te bater / Pois sei que gostas de apanhar"). Também integra esse momento Lá Vem Ela Chorando (Dinheiro Não Há), de Alvarenga e Benedito Lacerda, samba-enredo dos anos 1930 da escola de samba Vai como Pode, embrião da Portela: "Carinho eu tenho demais pra vender e pra dar / Pancada também não há de faltar".
— Encontrei mais de 20 sambas como esses – conta Zé Adão.
Depois, as atrizes interpretam textos de Elisa Lucinda, Simone de Beauvoir, Sarah Kane, Bertolt Brecht e do casal Dario Fo e Franca Rame, além de duas cenas cômicas escritas por Giovana de Figueiredo baseadas na visão da psicanálise sobre os contos de fadas. Os números musicais incluem canções de Amy Winehouse, Pitty, Rita Lee e Adriana Calcanhotto.
Apresentações terão presença de convidadas
Com a consultoria da psicóloga Ângela Figueiredo, que dialogou com a equipe de criação sobre temas e abordagens, o trabalho é uma colagem que passeia por linguagens como poesia, drama, teatro de revista e sarau. Tudo isso no ambiente informal do bar Ocidente, onde será montado um pequeno palco.
— Queríamos fazer em um lugar onde as pessoas pudessem beber e conversar, mas não durante o espetáculo — diz Zé Adão. — Buscamos um clima de cabaré. Tem até um momento em que as atrizes brincam com a plateia.
Para dar conta da diversidade de experiências, cada sessão do espetáculo terá uma convidada em um quadro de entrevista na parte final: a ativista do movimento trans Gloria Crystal (nesta quarta), as jornalistas Katia Suman e Carol Anchieta (nesta quinta e dia 12) e a educadora Esther Grossi (dia 13). Parceira de Zé Adão em montagens como O Apanhador (2013) e Dona Flor e seus Dois Maridos (2016), a codiretora e responsável pelo desenho de movimentos Carlota Albuquerque destaca a impossibilidade de englobar todo o universo feminino:
— Não conseguimos dar voz para tantas questões necessárias e urgentes sobre as quais teríamos que falar. O que é ser mulher hoje e quantas mulheres não estão representadas mas deveriam estar? Não poderíamos dar conta de tudo isso.
Professora de Poéticas Corporais na Casa de Teatro de Porto Alegre, fundada por Zé Adão, Carlota orientou as atrizes em sua relação com o espaço, tema ao qual tem dedicado sua carreira:
— Minha função dentro de um espetáculo é fazer com que a atriz ou o ator perceba a relação de seu corpo com o entorno, que é o outro também: o cenário, as paredes do teatro, o público.
SÓ PARA MULHERES.... E HOMENS TAMBÉM
Estreia nesta quarta-feira (5). Às quartas e quintas, às 20h. Temporada até 13 de junho.
Ocidente (Rua João Telles, esquina com a Osvaldo Aranha), em Porto Alegre, fone (51) 3012-2675.
Ingressos: R$ 50. À venda no site entreatosdivulga.com.br/soparamulheres e no local, uma hora antes de cada sessão.