A primeira parceria entre os atores Renato Del Campão e Zé Adão Barbosa começou despretensiosamente há cerca de 30 anos, como um esquete de 45 minutos apresentado no finado Porto de Elis, casa que fez história na noite porto-alegrense.
Travestidos, eles encarnavam atrizes que se alfinetavam de forma hilária em um diálogo nonsense típico do gênero que veio a ser conhecido como besteirol. Satirizando as diferenças entre duas vertentes do teatro, Dalva (papel de Campão) era uma figura que remetia à cena experimental do Teatro Oficina. Já Phedra (Zé Adão) aludia à dramaturgia sofisticada do Teatro Brasileiro de Comédia.
O sucesso foi tanto que Campão começou a aumentar o texto com a colaboração dos improvisos de Zé Adão, e a montagem virou um espetáculo de 1h30min, permanecendo em cartaz durante três anos. Assim surgiu Carrie, a Histérica, que agora retorna em nova montagem com direção de Eduardo Kraemer, cenário de Rogério Nazari e figurinos de Antônio Rabadan e Daniel Lion. As sessões serão desta sexta (1º) a domingo (3), às 21h, no Teatro do Sesc Centro (Av. Alberto Bins, 665), dentro da programação do Porto Verão Alegre.
A história do título também tem uma pitada de nonsense: é que as personagens prometem uma adaptação do filme de terror Carrie, a Estranha (1976), de Brian De Palma, baseado no livro de Stephen King, mas a exibição é constantemente adiada.
Peça foi atualizada
Além de Carrie, Campão e Zé Adão fizeram outros dois espetáculos juntos (A História do Zoológico e No Tempo do Onça), mas depois ficaram afastados durante anos. Por isso, esta remontagem tem gostinho de reencontro. Campão lembra que o trabalho começou como um “plano B”, uma alternativa aos espetáculos propriamente ditos de que ele e Zé Adão participavam, mas logo tiveram de mudar de ideia:
– Depois do Porto de Elis, fizemos em outras salas de teatro e até na pista de dança do Fim de Século. Então, percebemos que Carrie era nosso plano A. Comercialmente, era rentável, e os tipos eram bem construídos.
Zé Adão conta que o espetáculo virou cult, levando o público a assisti-lo diversas vezes:
– Decoravam o texto e falavam junto com a gente. Éramos contratados para apresentar eventos. Tem gente que até hoje me chama de Phedra. Foi um sucesso insólito, pois não tinha sido feito para isso.
Politicamente, o final dos anos 1980 no Brasil foi de abertura política, e aquele tipo de comédia representava um grito de liberdade depois de uma geração marcada pelo teatro engajado.
– Era como se dissessem: "Agora pode falar" – lembra Zé Adão. – Não era apenas o besteirol, mas boa parte do teatro se voltou à comédia porque o que se fazia antes era sério, dramático.
A nova versão do espetáculo está atualizada com a conjuntura brasileira, mas Campão não considera que haja uma conotação política:
– As personagens fazem uma salada de frutas de comunismo e capitalismo. Diluem tudo em um liquidificador. É uma linguagem que lembra o teatro do absurdo.
CARRIE, A HISTÉRICA
Desta sexta (1º) a domingo, às às 21h.
Teatro do Sesc Centro (Av. Alberto Bins, 665), em Porto Alegre.
Ingressos de R$ 20 a R$ 40. Desconto de 20% para sócios do Clube do Assinante e um acompanhante. Informações e compra de entradas pelo site do Porto Verão Alegre.