Não há lugar mais apropriado no mundo para uma fã de sapateado americano do que, claro, os Estados Unidos, onde esse estilo foi criado, ainda no século 19, resultado do encontro de diferentes culturas — como a irlandesa, a inglesa e a africana. Mas, para uma jovem bailarina profissional gaúcha, estar na terra do sapateado pode ser o desafio de uma vida.
Assim é para Luiza Karnas, 27 anos, porto-alegrense que ganhou reconhecimento nos palcos de Porto Alegre, tendo recebido indicações ao Prêmio Açorianos de Dança como destaque em sapateado em 2012 e 2014, e que hoje realiza o sonho de trabalhar como bailarina, professora e coreógrafa em Nova York.
Envolvida com o sapateado americano desde os oito anos, Luiza estudou com a professora Glenda Duarte, do Claque Centro de Sapateado, na capital gaúcha. Durante a licenciatura em Dança na UFRGS, teve a oportunidade de se aperfeiçoar por um ano na Hofstra University, em Long Island, por meio do Ciência sem Fronteiras, programa do governo federal. Depois, retornou aos Estados Unidos para um mestrado em Performance e Coreografia na State University of New York, em Brockport.
Atualmente, Luiza é professora em escolas públicas da cidade de Nova York, onde propõe atividades de dança no turno inverso, e é bailarina e colaboradora na kamrDANCE, companhia que trabalha com a fusão entre sapateado e dança contemporânea, justamente o cruzamento pelo qual é apaixonada. O grande objetivo, explica Luiza, é ser reconhecida como coreógrafa:
— É o que mais me dá prazer. Venho mostrando meu trabalho em festivais, pois aqui há muita oportunidade para feedback. O próximo passo é conseguir bailarinos que desejem trabalhar comigo. Não sei se quero ter uma companhia, pois hoje as pessoas estão atuando mais em projetos e colaborações.
Influências internacionais
Luiza não dança apenas sapateado, mas esse é o estilo que mais a apaixona. Sua praia, entretanto, não é o sapateado tradicional que fez a fama da Broadway, por exemplo, mas uma forma contemporânea, que inclui de elementos do balé clássico à dança moderna. Se a professora Glenda Duarte é uma referência da qual ela não esquece, suas influências internacionais são Michelle Dorrance e Chloe Arnold.
— Na história, os homens sempre tiveram espaço no sapateado, então ter duas mulheres de grande destaque é realmente uma inspiração para mim. Admiro a estética e a técnica delas, a maneira como se expressam.
Os primeiros tempos nos Estados Unidos foram de aprimoramento da língua inglesa, de estranhamento da "frieza" dos americanos e de adaptação ao clima e à neve. Luiza sabia que deixar o Brasil era também deixar o conforto, mas não perde o foco:
— Sempre fui uma bailarina de destaque em Porto Alegre, mas nos Estados Unidos há milhares de pessoas sapateando. Tem muita gente boa aqui, e estou constantemente tentando crescer. Há muitas oportunidades para se se desenvolver.