Atração aguardada do 14º Festival Palco Giratório Sesc/POA, CérebroCoração traz a atriz Mariana Lima de volta a Porto Alegre no sábado (18) e domingo (19), às 21h, no Teatro Renascença (Av. Erico Verissimo, 307). A peça-conferência é sua primeira experiência escrevendo um texto teatral, como ela comenta nesta entrevista, concedida por telefone.
Quais são os temas abordados em cena?
São muitos (risos). É difícil circunscrever a peça em uma sinopse muito clara. O espetáculo convoca o pensamento sobre determinadas fricções e espaços fronteiriços. É um convite para pensar a ciência a partir de uma relação mais afetiva e mais perspectivista do ponto de vista até do que entendemos como sujeito e objeto, mas de maneira nem um pouco hermética – isso posso garantir, porque foi uma preocupação nossa. Não queríamos fazer uma conferência para iniciados em ciência ou teatro. É uma peça que conversa com a plateia. Tem essa conversa aberta e não rebuscada, embora eu viaje por alguns mundos que viraram cânones.
A propósito, como a referência ao escritor Marcel Proust entrou no espetáculo?
Outro dia, o Jorge Furtado (diretor de cinema e televisão) me falou: "Como você conseguiu ler todo o Proust?". E o Jorge é uma das pessoas mais cultas que existem. O Proust tem essa pecha de ser difícil de ler e atravessar, mas foi um dos autores que convocaram a minha memória. Atiçou um exercício de memória que me ajudou a querer falar disso também. Mas não é uma peça sobre Proust (risos). Uma hora, eu entro em Proust para poder falar da memória, de uma vontade de redescobrir um tempo que tem a ver com o nosso tempo. Não deu para escapar de falar um pouco do que estamos vivendo nesse momento. A peça é sobre tudo isso, tangencia todas essas aflições que estamos vivendo.
Você está se referindo aos ataques à educação, à ciência e à cultura no país?
É inevitável. Quando vi, estava ali dando uma aula, sendo atravessada por esses temas. Não tem como não pensar, falar e articular essas questões que estão presentes. Para mim, isso virou um dos choques da peça. Quando escrevi, ainda não tinha acontecido a tragédia que estamos vivendo, mas já se anunciava. Depois das eleições e com esse governo policial, fascista, militar, violento, destruidor e altamente nocivo para todos, comecei a falar aquelas palavras, e aquilo começou a reverberar e a fazer sentido. Estou falando da capacidade que desenvolvemos de olhar para o mundo com nossa bagagem crítica e reflexiva.
É sua primeira dramaturgia, mas você já declarou que não foi uma escrita de gabinete, e sim criada em sala de ensaio.
Foi escrita a muitas mãos. Quase não assinei esse texto (risos). As pessoas que trabalham comigo falaram: "Você está louca. Esse texto é seu e você o escreveu do início ao fim". Mas foi atravessado por muitas mãos, muitos olhares, muitas falas. Sobretudo o Kike (Enrique Diaz) e o Renato (Linhares, ambos diretores da peça), que para mim são coautores dessa dramaturgia. Escrevemos muito esse texto em sala de ensaio. Tem cenas inteiras que não existiam no papel e passaram a existir. Evitamos fazer uma cagação de regra, um panfleto, um rebuscamento porque quisemos ter um diálogo com a cena e com a plateia. Isso deu muito trabalho. Contamos com pessoas que vieram para o trabalho e nos deram palestras e nos iluminaram com seus pensamentos. Também colaborou para essa construção o cenário, a luz e o figurino.
Quem é essa personagem ou persona que fala na peça?
Não sei (risos). Aparece alguém ali que não tem nem nome. É uma conferencista. Ela acaba adquirindo uma persona que é um pouco inspirada em leituras que fiz de professores, professoras e figuras que me inspiraram a construir um pouco esse corpo, essa voz. Não é nada muito longe de mim, mas tem uma lembrança de um estilo de fala e pensamento da Helena Martins, uma professora, teórica e figura maravilhosa do Rio. Mas não é que eu tenha criado uma personagem.
CÉREBROCORAÇÃO
Sábado (18) e domingo (19), às 21h.
Teatro Renascença (Av. Erico Verissimo, 307), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 15 (cartão Sesc/Senac de Comércio e Serviços, empresários, estudantes, classe artística e maiores de 60 anos) e R$ 30 (público geral).
À venda pelo site (com taxa); no Sesc Centro (Av. Alberto Bins, 665), de segunda a sexta, das 8h às 19h45, ou até as 15h para as apresentações do dia; sábado, das 8h às 13h; e domingo, das 15h às 19h; ou na bilheteria do Renascença, 1h antes das apresentações.