Os atores do Grupo Carmin, elogiada companhia do Rio Grande do Norte, colecionaram situações tragicômicas – e reais – de testes para papéis nordestinos em produções nacionais para compor a peça A Invenção do Nordeste, com sessões nesta sexta (3) e no sábado (4), às 19h, no Teatro do Sesc Centro (Av. Alberto Bins, 665), em Porto Alegre.
Depois de vencer, em março, o Prêmio Shell do Rio de Janeiro na categoria dramaturgia (para o texto de Henrique Fontes e Pablo Capistrano), a montagem é um dos destaques do 14º Festival Palco Giratório Sesc/POA, que começa nesta sexta-feira (3), com 49 espetáculos em diferentes espaços da Capital até 25 de maio. Os ingressos, a preços acessíveis, custam de R$ 15 a R$ 40 por atração.
Estarão na programação do festival, entre outras, as montagens Elza (dias 10 e 11 no Theatro São Pedro), musical sobre a vida de Elza Soares; Cérebro Coração (dias 18 e 19 no Teatro Renascença), com Mariana Lima; Navalha na Carne Negra (dias 18 e 19 na Sala Álvaro Moreyra), reinvenção do texto de Plínio Marcos; Ordinários (dias 23 e 24 no Renascença), do Grupo La Mínima (SP), que teve entre seus fundadores Domingos Montagner (1962-2016); e Isto É um Negro? (dias 23 e 24 na Sala Álvaro Moreyra), do grupo E Quem É Gosta? (SP).
Montagem questiona pensadores e artistas
A Invenção do Nordeste é um exemplo do olhar da curadoria do festival para questões relativas à representatividade e à diferença. Valendo-se do recurso do humor para fazer uma crítica seriíssima ao preconceito e ao estereótipo, a trama da peça mostra dois atores (vividos por Mateus Cardoso e Robson Medeiros) disputando um papel de nordestino em um filme do Sudeste, testados por um preparador de elenco (papel de Henrique Fontes).
Em uma das situações reais pelas quais os atores do Grupo Carmin já passaram na carreira, um deles foi solicitado a “exagerar” o sotaque nordestino. Outro foi dispensado por ser “bonito demais” para interpretar alguém da região.
— Os atores nordestinos só são chamados para fazer filmes e novelas quando o personagem é nordestino, enquanto os atores do Sudeste são chamados para todo tipo de papel, inclusive de nordestino. Querem essa imagem do nordestino engraçado e burro, que fala como a Susana Vieira nas novelas, e isso não existe, é uma criação para a televisão — afirma Quitéria Kelly, aqui em seu primeiro trabalho como diretora.
A jornada de sete semanas dos personagens-atores na disputa pelo trabalho é um mergulho na história de como se constituiu o imaginário de quem vê o Nordeste de fora. A fundamentação veio do livro A Invenção do Nordeste e Outras Artes, do historiador Durval Muniz de Albuquerque Júnior. Assim, o Grupo Carmin se apropria de elementos do teatro documentário sem seguir uma cartilha, como havia feito em Jacy, peça vista pelo público porto-alegrense no Festival Palco Giratório de 2016, baseada na vida de uma senhora que passou pela Segunda Guerra e pela ditadura militar do Brasil em sua história surpreendente.
No trabalho de desconstrução dos estereótipos sobre a região, A Invenção do Nordeste examina com senso crítico e ousadia as obras de Euclides da Cunha, Gilberto Freyre e Glauber Rocha.
— Muita gente guarda uma frase de Os Sertões: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Mas a descrição que vem depois é terrível. Euclides da Cunha define um tipo que viu, mas que não representa toda a região. A literatura, as artes, o cinema e a televisão foram criando essa imagem — diz Quitéria.
14º FESTIVAL PALCO GIRATÓRIO SESC/POA
Desta sexta-feira (3) a 25 de maio, em Porto Alegre.
Ingressos à venda.
Preços: R$ 15 (categoria Comércio e Serviços do Cartão Sesc/Senac, categoria Empresários com Cartão Sesc/Senac, estudantes, classe artística e maiores de 60 anos) e R$ 30 (público geral), exceto o espetáculo Elza, cujos ingressos têm os seguintes valores: R$ 20 (categorias descritas acima) e R$ 40 (público geral).
Pontos de venda: todas as unidades Sesc no Estado e, com taxa, pelo site sesc-rs.com.br/palcogiratorio. Em Porto Alegre, o atendimento no Sesc Centro (Av. Alberto Bins, 665) é de segunda a sexta, das 8h às 19h45min (até as 15h para a apresentação do dia); aos sábados, das 8h às 13h; e domingos, das 15h às 19h.
Havendo disponibilidade, os ingressos serão vendidos uma hora antes da sessão em cada local de apresentação.
Em caso de chuva, os espetáculos de rua podem sofrer alteração. Informações no site sesc-rs.com.br/palcogiratorio.
Confira a programação diariamente no roteiro do Segundo Caderno ou no site do festival.