Será lançada nesta segunda-feira (1) uma iniciativa que reúne centenas de artistas, técnicos, figurinistas, cenógrafos e agentes culturais em atividade na Capital. Desde uma roda de conversa na mostra Novembro das Artes, em 2018, o setor teatral tem se organizado para pensar, conjuntamente, estratégias de fortalecimento da cena local e de aproximação com o público.
A programação de lançamento da MOVE – Rede de Artistas de Teatro de Porto Alegre começará às 18h30min, com uma "concentração cênica" em frente ao Centro Municipal de Cultura (Av. Erico Verissimo, 307), contando com música, intervenções, poesia, dança – e food trucks.
Haverá uma série de atrações, a partir das 19h30min, nos espaços do Centro Municipal, incluindo a Sala Álvaro Moreyra e o Teatro Renascença. Será divulgado, nesta noite, um manifesto e a primeira ação: o Guia MOVE, um catálogo com os eventos de abril a junho, que estará disponível em formato impresso e em um site cujo endereço também será revelado hoje.
Apresentar-se como alternativa ao que considera retrocessos no país e no mundo é uma das intenções do movimento, como observa a diretora Patrícia Fagundes, da Cia. Rústica:
– Vivemos um momento histórico surpreendente, de construções de narrativas alucinantes, de retrocessos inimagináveis, de violentos ataques à arte e à educação. Nesses tempos insanos, precisamos estar juntos para atravessar a tempestade e acreditar na própria possibilidade de travessia.
A diretora Camila Bauer, do Projeto Gompa, identifica a necessidade de uma maior articulação da classe artística como "estratégia de sobrevivência":
– Sentimos o público muito distante de nós, e esses encontros têm nos fortalecido no sentido de buscar mecanismos de reaproximação entre os artistas e a comunidade em geral. A MOVE tem nos mobilizado no sentido de repensar várias questões relativas aos nossos modos de produção e difusão cultural.
Outra integrante do movimento, a atriz Deborah Finocchiaro, da Cia. de Solos & Bem Acompanhados, aposta na qualidade da produção artística:
– A representação cênica é, sem duvida, um dos caminhos de questionamentos e verdadeiras transformações. O planeta clama por manifestações positivas, então vamos a elas.
Leia depoimentos de integrantes da MOVE
Patrícia Fagundes, diretora da Cia. Rústica:
"Vivemos um momento histórico surpreendente, de construções de narrativas alucinantes, de retrocessos inimagináveis, de violentos ataques à arte e à educação. Nesses tempos insanos, precisamos estar juntos para atravessar a tempestade e acreditar na própria possibilidade de travessia. É preciso estar atento e forte, afirmar outras narrativas, compor alianças frente à precariedade, celebrar a vida frente à destruição: acredito que hoje essas são ações políticas fundamentais. Teatro é arte de encontro, de jogo, de invenção de mundos. Também é uma arte de conflito, atrito, diferença. Além do imaginário do uno, união, unidade, penso que o teatro, e a MOVE, são exercícios de diversidade, mistura, encontro, encontrão, digamos. O evento do lançamento é um exercício de produzir colaborativamente um acontecimento cênico, uma festa, um espetáculo coletivo; uma viagem compartilhada em tempos de estupidez. Fazer teatro é uma experiência que fortalece a perspectiva de coletivo, de outros modos possíveis de existência, mais amorosos e justos: estamos fazendo juntos isso que nos faz, teatro, arte, utopia. Isso que às vezes nos faz perceber que a queda é também possibilidade de voo.
Há o planejamento de várias ações objetivas, como a publicação de um catálogo trimestral da programação teatral da cidade, conversas com o público após espetáculos para a troca de ideias e sugestões, encaminhamento de diálogos institucionais no âmbito municipal, estadual e federal. Há vários grupos de trabalho com focos múltiplos simultaneamente, em uma bela e complexa organização em rede. Além dessas e outras ações concretas, penso que há esse importante exercício de subjetividades compartilhadas, de criar possibilidades de encontro, alegria, de estar junto, criar, nos reconhecer e nesse reconhecimento nos fortalecer. Somos juntos."
Camila Bauer, diretora do Projeto Gompa:
"Durante o Novembro das Artes, realizou-se um bate-papo sobre teatro de grupo e estratégias de resistência do qual diversos grupos e artistas da cena teatral gaúcha foram convidados a participar. Naquela ocasião, falou-se muito sobre a necessidade de uma maior articulação da classe artística como estratégia de sobrevivência frente a todos esses desmontes e ataques que a cultura vem sofrendo. Sentimos o público muito distante de nós, e esses encontros têm nos fortalecido no sentido de buscar mecanismos de reaproximação entre os artistas e a comunidade em geral.
A MOVE tem nos mobilizado no sentido de repensarmos várias questões relativas aos nossos modos de produção e difusão cultural. Precisamos melhorar nossa comunicação com o público. Então, um dos mecanismos que estão sendo articulados é a realização de um guia trimestral com os espetáculos que estarão em cartaz na cidade, para que as pessoas saibam onde procurar, com alguma antecedência, a programação artística. Às vezes as informações ficam muito dispersas e dificultam a organização do espectador. Nesta segunda-feira (1/4), haverá o lançamento da MOVE aberto ao público e gratuito, com a leitura do manifesto e uma série de atividades que marcam esse momento de união e organização da classe."
Deborah Finocchiaro, atriz da Cia. de Solos & Bem Acompanhados:
"O ideal seria que o teatro fizesse parte da formação escolar, tanto por meio de aulas quanto de ofertas de programação, para que o contato acontecesse desde a primeira infância, mas isso, infelizmente, ainda não é a nossa realidade. Sendo assim, acredito que o objetivo será alcançado por meio da união de esforços e profissionais de diferentes áreas; de divulgações amplas e inclusivas, considerando também o público surdo, deficientes visuais e outros portadores de necessidades especiais; de trabalhos que comuniquem e atinjam diferentes tipos de público, sempre alicerçados na qualidade das equipes e montagens.
Por meio de ações de formação de plateia: oficinas, saraus, recitais, projetos que levem os trabalhos — com flexibilidade e adaptabilidade — também para fora de espaços convencionais, para que se apresente o "produto" teatral com fruição, como uma grande oportunidade de novos aprendizados, sensações, questionamentos e novas perspectivas: criar no espectador a necessidade de consumir teatro/arte e, dessa forma, levá-lo para dentro dos teatros.
Outra questão é a urgência da criação de um aplicativo e de um portal onde se concentre toda a programação teatral, facilitando o acesso à informação. Desenvolver ações e atividades que suscitem a curiosidade a partir da obra apresentada: expandir, abrir, ampliar, incluir e essencialmente comunicar.
E mais que tudo: garantir a qualidade, a impecabilidade da produção: desde a divulgação até recepção no teatro: com horizontalidade, gentileza, amabilidade, segurança (fundamental o envolvimento do poder público) e sempre muito respeito. A representação cênica é, sem duvida, um dos caminhos de questionamentos e verdadeiras transformações. O planeta clama por manifestações positivas, então vamos a elas!"
Álvaro RosaCosta, ator e músico:
"Sinto que existe uma inquietação. O clima é de atitude, respeito e união. Nunca estivemos tão próximos e ficamos surpresos com o número e diversidade de grupos, companhias e coletivos que se aproximaram rápida e espontaneamente. Temos algumas ações, votadas presencialmente, que irão ocorrer durante o ano. Nesta segunda (1/4), lançaremos o manifesto e um guia que mostrará os espetáculos e ações formativas até junho. Além desta ação, criamos Grupos de Trabalho específicos em cada área (GT diálogos institucionais, GT pesquisa de mercado...). Com esses GTs, temos mais autonomia para formarmos uma rede precisa em seus movimentos e atuação. Neste momento, temos artistas divulgando o trabalho criado aqui no RS em vários pontos do mundo, mas extremamente desconhecidos em sua cidade, em seu Estado. Na minha avaliação, a MOVE está criando um meio direto e eficaz de comunicação e ação entre os agentes culturais, e nossa ideia é abrir esse diálogo para todas as áreas da cultura."