Sonhos, o sentimento de perda em tempos de incerteza e até a melancolia que permeia, muitas vezes, o clima do dia a dia da sociedade brasileira diante dos fatos. O diretor Luciano Alabarse encontrou essas temáticas e se identificou com elas em dois textos publicados há décadas pelo dramaturgo norueguês Jon Fosse. Escritos entre o final da década de 1990 e o início dos anos 2000, Lilás e The Guitar Man retratam conflitos e situações bem presentes no Brasil contemporâneo. O impacto dos textos gerou Lilás, montagem que Alabarse apresenta a partir desta sexta-feira (15), como parte da programação do último fim de semana do Porto Verão Alegre.
Diretor do espetáculo, Luciano Alabarse reuniu o grupo de atores para iniciar a produção em junho do ano passado. Ele comenta que o texto de Fosse é muito relevante para a sociedade atual e recorda o estilo de outros mestres da dramaturgia moderna, como Samuel Beckett e Thomas Bernhard.
— O Fosse é um dramaturgo que não brinca em serviço. Traz uma urgência desesperada à cena. Seus textos apontam um mundo em decomposição, a crônica de fracassos anunciados. Há sempre um fio de esperança tênue que mantém a perspectiva de um futuro incerto. É de fato um grande dramaturgo — explica Alabarse, que também é o atual secretário da Cultura de Porto Alegre.
O enredo de Lilás começa com o encontro de cinco jovens músicos para o ensaio de sua banda. Com personalidades e perspectivas de vida bem diferentes, os personagens — que não têm nomes, são identificados apenas por sua função no grupo musical — se reúnem em um porão para praticar suas canções, mas conflitos verbais e físicos interrompem o ensaio, acentuados pela presença de uma convidada. Nestes embates, estão reflexões sobre perda de esperança, sonhos e a preocupação com o amanhã.
— Quem não está com medo do futuro? Esses tempos de incerteza refletem muito sobre isso. Talvez a música não seja o caminho, ficam pensativos, mas o texto é de uma inteligência ímpar que só vem à tona porque os personagens e todo o desenrolar foi construído de forma coletiva — explica Pingo Alabarce, que interpreta o guitarrista.
Atos do espetáculo têm tons diferentes
A emergência dos problemas no primeiro ato, com a apresentação de Lilás, é seguida por um monólogo no segundo ato, com o texto The Guitar Man. A mudança representa um baque, que também é sentido pelo público: a plateia troca de lugar dentro do teatro para assistir a reviravolta na trama.
— Essa mudança espacial, além de demarcar espaço e tempo transcorridos entre um texto e outro, cria uma interessante visão sobre a trajetória dos personagens. O intervalo é o tempo dessa dança das cadeiras — adianta Luciano.
Estrelado pelo guitarrista, a segunda parte revela o músico desistindo de sua carreira na banda para ser artista de rua. Ele é obrigado a lidar com as dificuldades que a vida lhe impôs. O texto faz uma análise de sua vida, passando por frustrações e realizações. Para Pingo, que vive o personagem, o escrito é de uma contemporaneidade gritante:
— O monólogo foi construído muito da observação do dia a dia, de exemplos reais próximos a mim. É algo bem “gente como a gente”, da necessidade de encarar a realidade e fazer escolhas para continuar vivendo.
O ator porto-alegrense, que trabalha há 10 anos com teatro, interpreta seu primeiro monólogo neste espetáculo.
LILÁS
- Quando: Sexta-feira, sábado e domingo, às 22h30min, no Teatro Renascença (Avenida Erico Verissimo, 307).
- Direção: Luciano Alabarse
- Elenco: Pingo Alabarce, Frederico Vittola, Leonardo Koslowski, Miriã Possani, Nicolas Vargas.
- Ingressos: esgotados (para as sessões de sexta e sábado). No domingo: R$ 20 (meia-entrada) e R$ 30 (inteira, antecipado).
- Pontos de venda: no site do PVA (portoveraoalegre.com.br) ou no Bourbon Shopping Wallig, DC Shopping, Praia de Belas e Theatro São Pedro.
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