Reconhecida em março com o Prêmio Shell de São Paulo de melhor atriz por seu desempenho na comédia Baixa Terapia, a atriz gaúcha Ilana Kaplan concedeu entrevista a GaúchaZH por telefone antes de desembarcar em sua cidade natal, onde apresenta o espetáculo no qual contracena com Antonio Fagundes e outros quatro atores. Nesta conversa, ela revela como criou sua personagem, afirma que humor não se ensina e conta que participará do programa A Vila, no Multishow, com Paulo Gustavo.
Você ganhou o Prêmio Shell de São Paulo em março pelo papel de Andrea, da peça Baixa Terapia. Como se constrói uma personagem de comédia bem-sucedida?
Essa pergunta é difícil. Construí a partir dos ensaios, como todos nós. O texto não tem muitas indicações de ações. E a minha personagem fala pouco mesmo. Então, acabei criando uma partitura física para ela. Estou muito feliz que deu certo, porque Andrea é uma personagem muito desafiadora. É mais retraída, fala pouco, é tímida. Mas acho que todo ator constrói seus personagens a partir da observação, que é nosso maior instrumento de trabalho. A observação inclui tudo: a vida cotidiana, as coisa que a gente assiste, um pouco de tudo que vamos armazenando. Quando vem um personagem novo, tu buscas uma memória antiga ou algum coisa que viveu e viu.
Leva muito tempo para um ator ou atriz dominar o timing do humor?
O humor é uma ferramenta muito específica. A pessoa tem ou não tem. É um olhar, um jeito de ver a coisas. O humor é sempre considerado mais difícil pelos atores justamente porque não se ensina. Em Baixa Terapia, somos seis personagens, e o público é o sétimo. Ele que dita se a piada deve ser alongada ou encurtada. É um jogo de atenção constante.
O humor é uma ferramenta muito específica. A pessoa tem ou não tem.
ILANA KAPLAN
Atriz
O que mais chama a tua atenção no espetáculo?
É uma "comediona". Está sendo montada em 20 países atualmente. Os personagens vão falando sobre tudo: criação dos filhos, morar ou não morar junto, alcoolismo, vício em jogo. É um raio-x na vida de todos. Todo mundo se identifica com alguma coisa.
Como está sendo o retorno do público depois de um ano e meio em cartaz?
A plateia se diverte muito. É um espetáculo delicioso de fazer. Temos feito sem patrocínio, então o boca a boca foi o que fez lotar os teatros. O boca a boca é a maior mídia que podemos ter. O elenco é superlegal, todo mundo talentoso, capitaneado pelo (Antonio) Fagundes, que é um mestre. Já tinha assistido ao Fagundes em Porto Alegre quando eu era adolescente e ainda não estava fazendo teatro. É uma honra contracenar com ele e com todo o elenco.
Estiveste recentemente em Porto Alegre para participar do Sarau Elétrico. Como é tua relação com a cidade?
Tenho voltado com menos frequência do que gostaria. Sou uma amante de Porto Alegre, de onde vim e onde sempre fui reconhecida. É uma cidade que amo, além de ter meus amigos e família aí. O Sarau foi muito divertido, amei ter participado. Conversamos sobre várias coisas. Não tenho conseguido ir tão seguido porque estamos em turnê.
Sou uma amante de Porto Alegre, de onde vim e onde sempre fui reconhecida.
ILANA KAPLAN
Atriz
Como são as tuas memórias dos tempos do teatro gaúcho?
Quando fiz meu primeiro espetáculo, Passagem para Java, em 1986, ganhei o Prêmio Açorianos. Então, só tenho alegrias. Porto Alegre só me trouxe coisas boas. Digo que tenho depressão pós-Porto quando saio.
Tens contato com a cena cultural de Porto Alegre?
Tenho contato com muitos amigos que continuam trabalhando em Porto Alegre, mas não tenho tido a oportunidade de ver os espetáculos. Quando vou, é muito rápido e acabo indo durante a semana. É uma pena, porque tenho amigos que seguem na batalha aí e fazem espetáculos maravilhosos. As redes sociais fazem com que a gente tenha pelo menos um pouco de contato para saber o que cada um está fazendo.
Quais são seus outros projetos?
Vou começar a gravar A Vila, no Multishow, com Paulo Gustavo. Participarei da segunda temporada. Eles contrataram outros quatro atores, e estou entre eles. Vai ser bem divertido. É dentro do projeto de humor do Multishow, que está se especializando em séries de comédia. Estou bem entusiasmada.