Estar casada com um homem que é sua cara-metade e morar com lindos filhos em uma casa confortável remete ao ideal de felicidade difundido pelos romances açucarados, comédias românticas e comerciais de margarina. Mas há algo de errado com a vida da protagonista da peça Quarto 19, que tem sessões nesta sexta (4), às 21h, e sábado (5), às 19h, na Sala Álvaro Moreyra (Av. Erico Verissimo, 307), em Porto Alegre, dentro da programação do 13º Festival Palco Giratório Sesc/POA.
Neste comovente – e às vezes irônico – solo da atriz Amanda Lyra, a personagem é acometida por um crescente mal-estar causado pela cobrança social a respeito de como deve viver uma mulher de família. Sufocada por esse sentimento, ela decide buscar refúgio diariamente em um quarto de hotel onde pode, finalmente, estar consigo mesma.
A peça, dirigida por Leonardo Moreira (da Cia. Hiato, de São Paulo), é baseada em um conto da escritora britânica Doris Lessing, agraciada em 2007 com o Nobel de Literatura. A história foi publicada pela primeira vez em 1963, em plena ebulição dos movimentos pela emancipação feminina. Apesar das conquistas das últimas décadas, continua atual em muitos aspectos, como afirma Amanda:
– A protagonista não tem problema de dinheiro, é problema de identidade. O texto fala muito da mulher, mas o marido tampouco está feliz. O casamento burguês é um modelo de felicidade que pode ser castrador para as pessoas. Será que a mulher se completa na maternidade?
Entre idas e vindas, o projeto teve um tempo de maturação de sete anos, entre a idealização, em 2010, e a estreia propriamente dita, em 2017, no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Há três anos, Amanda teve um filho, o que tornou sua vida um "laboratório para a peça", em suas palavras. Inspirando-se na estrutura do conto de Doris Lessing, que foi retraduzido e adaptado pela atriz, o espetáculo começa como uma espécie de contação de história. Aos poucos, o relato em terceira pessoa se mescla com a primeira pessoa, em uma combinação de narração e interpretação que confere uma atmosfera emotiva ao trabalho.
– É uma história com começo, meio e fim, o que é raro de se ver no teatro experimental hoje. É a primeira vez que faço uma história tão certinha em termos de curva dramática – diz Amanda, para quem o conto original já exibia certa ironia. – Retrata uma situação tão absurda que acabamos achando engraçada, mas na verdade é muito real. Percebemos que essa graça patética existia no texto e precisávamos manter na peça.
13º FESTIVAL PALCO GIRATÓRIO SESC/POA
De 4 a 26 de maio em diferentes espaços de Porto Alegre
- Ingressos à venda em todas as unidades do Sesc no Estado e pelo site sesc-rs.com.br/palcogiratorio. Em Porto Alegre, o atendimento presencial é no Sesc Centro, de segunda a sexta, das 8h às 19h45min (até as 13h para a apresentação do dia), e aos sábados, das 8h às 13h.
- Os ingressos disponíveis serão vendidos também na bilheteria de cada local de espetáculo, uma hora antes do início da sessão.
- Os ingressos custam R$ 10 (comerciários com Cartão Sesc/Senac, estudantes, classe artística e maiores de 60 anos), R$ 15 (empresários com Cartão Sesc/Senac) e R$ 20 (público em geral).
- Veja a programação completa em sesc-rs.com.br/palcogiratorio.