Mesmo tendo se mantido em constante produção, o Teatro da Vertigem andou ausente de Porto Alegre. O grupo paulista que desafia os limites da cena contemporânea ao propor relações inovadoras entre o teatro e a cidade esteve pela última vez na Capital em 2011, quando trouxe ao Festival Palco Giratório Sesc/POA a leitura cênica História de Amor (Últimos Capítulos).
Agora é hora de tirar o atraso. O Vertigem é a grande atração da 13º edição do Palco Giratório, que começa nesta sexta (4) e vai até 26 de maio, promovendo mais de 50 espetáculos de teatro, dança e circo em diferentes espaços da cidade. O evento é uma oportunidade para se assistir a um pouco do que se tem feito de melhor na cena brasileira a preços acessíveis.
Comemorando 25 anos, o Teatro da Vertigem chega com o espetáculo O Filho, deste domingo (6) a quinta-feira (10), além de atividades paralelas (veja a programação completa do grupo abaixo). Dando sequência à característica da companhia de explorar espaços cênicos não convencionais, como o Rio Tietê, em São Paulo (BR-3, de 2005), e o lado de fora de um prédio (Kastelo, de 2010), a peça será encenada em uma estrutura montada no Ginásio do Sesc Protásio Alves. Os espectadores compartilharão o mesmo ambiente dos atores: um amontoado de móveis e eletrodomésticos usados, em parte vindos de São Paulo e em parte garimpados em Porto Alegre pela produção do festival. Esse aspecto local é fundamental, como explica Eliana Monteiro, que integra o Vertigem há 20 anos, os últimos 10 como diretora:
– O que diferencia O Filho de outros trabalhos é que aqui o espaço não é determinante para a peça. O determinante é que os móveis usados guardam memórias. Conseguimos muitos móveis de famílias esfaceladas, depois que os pais se separaram.
A partir da relação de um homem com seu pai e seu filho, e com as mulheres da família, o espetáculo reflete sobre a crise da família em um momento no qual os núcleos parecem se constituir e desconstituir ao sabor do vento. É uma exploração contemporânea do dramaturgo Alexandre Dal Farra a partir da Carta ao Pai (1952), de Franz Kafka, autor que já havia servido de motivo para Kastelo, inspirado no romance O Castelo (1926). Eliana explica:
– Kastelo tinha a ver com a sociedade do controle, com as câmeras de vigilância. Estudando Kafka, comecei a me questionar por que ele não saiu de casa, mesmo tendo muitos problemas com o pai, que era dominador. Kafka trabalhava, não dependia dele economicamente.
Se a relação do pai com o escritor tcheco era marcada pela ferrenha autoridade, concluiu a diretora, o que caracteriza a família contemporânea, depois da diluição da figura do pai, é a descartabilidade. Daí a criação do cenário com objetos de famílias que "não deram certo", na percepção da diretora. O elenco que se apresentará em Porto Alegre é integrado por Edison Simão, Mawusi Tulani, Paula Klein, Rafael de Bona e Sergio Pardal, além de um grupo de seis a 10 atores locais selecionados em um laboratório cênico que terminará neste sábado (5). Para Eliana, mais importante do que a escolha, que se dará pela característica de cada um, e não por uma competição, é a relação criativa estabelecida:
– O importante é essa troca com os artistas da cidade. No primeiro dia do laboratório, disse a eles que vamos fazer um processo colaborativo.
Teatro da Vertigem no 13° Festival Palco Giratório Sesc/POA
ESPETÁCULO
O Filho
Deste domingo (6/5) a quarta (9/5), às 20h, e na quinta (10/5), às 18h e às 21h, no Ginásio do Sesc Protásio Alves (Av. Protásio Alves, 6.220). Duração: 90 minutos. Classificação: 16 anos.
RODA DE CONVERSA
A diretora Eliana Monteiro e o iluminador Guilherme Bonfanti falam do histórico do Teatro da Vertigem e de seu processo de criação.
Segunda-feira (7), às 10h, no Departamento de Arte Dramática da UFRGS (Rua General Vitorino, 255)
MOSTRA DE FILMES
No Teatro Bruno Kiefer da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736)
Dia 16, às 15h
O Paraíso Perdido (1992, 50min) e O Livro de Jó (1995, 60min)
Dia 16h, às 18h
Apocalipse 1,11 (2000, 135min)
Dia 17, às 18h
BR-3 – peça (2006, 140min) e documentário (2006, 60min)
Dia 18, às 18h
Kastelo (2010, 60min) e A Última Palavra É a Penúltima 2.0 (2009, 50min)
Alguns destaques do primeiro fim de semana do festival
ENTREPARTIDAS
Espetáculo da Cia. Teatro do Concreto (DF) em que o público é convidado a embarcar em um ônibus reflete sobre amor e abandono.
Nesta sexta (4) e sábado (5), com saída às 19h do Sesc Centro (Av. Alberto Bins, 665)
GRITOS
A Cia. Dos à Deux (RJ-FR) apresenta espetáculo gestual sobre preconceito e outros temas. Neste sábado (5) e domingo (6), às 21h, no Teatro Renascença (Av. Erico Verissimo, 307)
CONCERTO EM RI MAIOR
Comédia musical a partir de jogos de improvisação da Companhia dos Palhaços (PR).
Neste domingo, às 19h, na Sala Álvaro Moreyra (Av. Erico Verissimo, 307)
ESPALHEM MINHAS CINZAS NA EURODISNEY
Espetáculo da Cia. Stravaganza (RS) sobre a crise de valores na contemporaneidade.
Nesta sexta (4) e sábado (5), às 19h, no Sesc Centro
13º FESTIVAL PALCO GIRATÓRIO SESC/POA
De 4 a 26 de maio em diferentes espaços de Porto Alegre
- Ingressos à venda em todas as unidades do Sesc no Estado e pelo site sesc-rs.com.br/palcogiratorio. Em Porto Alegre, o atendimento presencial é no Sesc Centro, de segunda a sexta, das 8h às 19h45min (até as 13h para a apresentação do dia), e aos sábados, das 8h às 13h.
- Os ingressos disponíveis serão vendidos também na bilheteria de cada local de espetáculo, uma hora antes do início da sessão.
- Os ingressos custam R$ 10 (comerciários com Cartão Sesc/Senac, estudantes, classe artística e maiores de 60 anos), R$ 15 (empresários com Cartão Sesc/Senac) e R$ 20 (público em geral).
- Veja a programação completa em sesc-rs.com.br/palcogiratorio.