Menos de uma semana após o mundo parar para testemunhar a união entre o Príncipe Harry e a atriz Meghan Markle, o grupo pernambucano Magiluth retorna a Porto Alegre para encenar outro matrimônio real. Criada a partir do clássico shakespeariano Hamlet, a peça Dinamarca desconstrói a festa de casamento de integrantes da realeza para revelar que, apesar das aparências, aquele relacionamento está destruído por dentro. Dinamarca será apresentada na quarta (23) e na quinta (24), na programação do 13º Palco Giratório Sesc/POA. Os ingressos estão esgotados.
– É uma crítica social a essa bolha que não está diretamente envolvida no conflito, mas existe de forma periférica a ele. O mundo está acabando, e eles estão dentro desse casamento, nem um pouco preocupados com o que está rolando lá fora – explica Giordano Castro, que, além de assinar a dramaturgia, integra o elenco com Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Lucas Torres e Mário Sergio Cabral.
A referência ao país europeu que dá nome à peça vem da palavra hygge, vocábulo dinamarquês tão difícil de traduzir para outros idiomas quanto o brasileiro "saudade". Com um significado que se aproxima de "aconchego", o termo se popularizou mundo afora com a publicação de O Livro do Hygge: O Segredo Dinamarquês para Ser Feliz, de Meik Wiking.
– A gente não exclui o fato de que também vive dentro de uma célula privilegiada. Dinamarca é uma grande piada e uma crítica a nós mesmos, essa classe média boba, tola, que pega um livro que ensina como fazer sua casa ser "hygge" e tenta fazer um negócio dinamarquês que não cabe na nossa realidade. O Brasil não se entende muito como um país da América Latina, resultado de uma política de exploração que durou anos e que, de alguma forma, continua. Apesar da tensão política, a gente vive fingindo que está tudo bem. Por um momento, acho que o Brasil pensou que fosse a Dinamarca – critica Castro.
Dirigida por Pedro Wagner, a montagem integra o que o grupo chama de Trilogia da Destruição, iniciada com O Ano em que Sonhamos Perigosamente, apresentada na Capital em 2016, no festival Porto Alegre Em Cena. Enquanto o primeiro espetáculo surgiu no contexto das manifestações populares de 2013 no Brasil, Dinamarca surgiu após a destituição da presidente Dilma Rousseff, em um movimento que o grupo faz questão de identificar como golpe. Mas o desfecho da trilogia não deve vir tão cedo.
– A gente entende que, para continuar batendo nessa tecla, é importante dar um tempo para saber quais vão ser os próximos passos. Estamos próximo de uma eleição muito conflituosa e nebulosa, então o melhor momento para pensar a próxima montagem seria depois disso – explica o ator.