Primeiro e mais aguardado dos longas-metragens que documentam o impeachment de Dilma Rousseff, O Processo estreia nesta quinta-feira (17/5) nos cinemas brasileiros. Em festivais, o filme de Maria Augusta Ramos colheu aplausos e prêmios, com destaque para as participações em Berlim, no IndieLisboa, no É Tudo Verdade e no Visions du Réel, na Suíça.
Trata-se de um filme focado nos bastidores do processo no Senado, desde quando teve sua abertura autorizada pela Câmara dos Deputados (a votação que parou o país naquele domingo de abril de 2016 funciona como prólogo da narrativa) até seus capítulos finais, com a destituição de Dilma, em agosto do mesmo ano.
A câmera da cineasta (a mesma dos também premiados Juízo, Justiça e Morro dos Prazeres) acompanha os trabalhos da comissão formada para analisar o pedido de impeachment, as reuniões prévias e de avaliação de estratégias, sobretudo do grupo de defesa da ex-presidente, com destaque para as figuras de José Eduardo Cardoso (então à frente da Advocacia-Geral da União) e para as equipes dos senadores Gleisi Hoffmann e Lindberg Farias, ambos do PT.
– São os personagens que acabaram se sobressaindo durante as filmagens – comenta a diretora, em entrevista concedida por telefone a ZH. – A Janaína Paschoal (advogada, uma das autoras do pedido) também se sobressai. Tentei que houvesse mais personagens entre os opositores de Dilma, mas não obtive autorizações para filmá-los. Além de Janaína, apenas o senador Cássio Cunha Lima (PSDB) se deixou filmar nos bastidores, que era o objetivo do projeto.
A maioria das imagens vistas em O Processo foi capturada especialmente para o filme. A equipe de Maria Augusta Ramos esteve nos encontros da comissão com apenas uma câmera, normalmente posicionada junto aos jornalistas que faziam a cobertura diária dos eventos. As exceções foram as sessões no Plenário do Senado, quando havia uma câmera extra, além de um equipamento portátil que a própria Maria Augusta empunhou para registrar, por exemplo, as expressões de quem só estava ouvindo os discursos.
– Foi um trabalho exaustivo. Algumas sessões duraram 20 horas – diz a realizadora, que usou apenas imagens da TV Senado para complementar a narrativa.
No Exterior, ela conta, espectadores presentes aos festivais se impressionaram com os detalhes revelados pelo filme:
– Lá fora, as pessoas sabem do processo superficialmente. Quando conhecem o rito e os personagens que o protagonizaram, ficam surpresas. No fundo, era o que queríamos. Até aqui, no Brasil, o impeachment tem uma leitura reduzida ao foi ou não foi golpe. É muito polarizado. Já está na hora de pensarmos além disso. E conhecermos versões além da que é contada pelos veículos tradicionais de mídia, que, de maneira geral, legitimam o processo. Trazer imagens só da TV Senado tem como intenção fugir das imagens mais conhecidas. Queríamos uma outra voz. Com acesso a detalhes que não apareceram na cobertura diária da imprensa, e com maior distanciamento histórico, vamos entender melhor todo o processo.
O PROCESSO
De Maria Augusta Ramos
Documentário, Brasil, 2018, 137 min, livre.
Estreia nesta quinta-feira (17/5) no país. Em Porto Alegre, as sessões serão no CineBancários e no Espaço Itaú.
Cotação: ótimo.