Lançado no dia 29 de março, Nada a Perder se tornou no último final de semana (5 e 6 de maio) a maior bilheteria da história do cinema brasileiro ao atingir a marca de 11,383 milhões de entradas vendidas, segundo levantamento da Filme B – empresa que monitora a venda de ingressos. Realizado em parceria entre a Rede Record e a Paris Filmes, o longa superou outra produção da emissora, Os Dez Mandamentos – O Filme (2016), que vendeu 11,305 milhões de entradas. Contudo, apesar do recorde bilheteria, Nada a Perder foi exibido muitas vezes para salas vazias com ingressos esgotados, como a reportagem de GaúchaZH pode conferir na última quarta-feira (9).
Com direção de Alexandre Avancini (que também trabalhou em Os Dez Mandamentos), a cinebiografia conta a trajetória do bispo Edir Macedo (vivido por Petrônio Gontijo em sua fase adulta), fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e proprietário do Grupo Record. O longa repassa infância, juventude e fase adulta de Edir e relata momentos como a criação da IURD e a aquisição da emissora de TV, culminando na prisão do bispo em 1992 sob a acusação de charlatanismo, curandeirismo e estelionato.
– É um projeto da Igreja Universal aliado à Paris Filmes e à TV Record. Houve uma logística de venda de ingressos que este ano foi aprimorada, com o objetivo estratégico de superar o outro lançamento, Os Dez Mandamentos. Esse objetivo foi cumprido – explica Paulo Sérgio Almeida, diretor da Filme B.
No entanto, assim como já havia ocorrido em 2016 com Os Dez Mandamentos, o site UOL apurou que membros da Universal teriam anunciado a distribuição de entradas com direito a transporte gratuito aos cinemas. Ou seja, os ingressos de uma sala inteira já teriam sido comprados para distribuição. Publicações como Estadão e O Globo relataram a ausência de público em sessões da cinebiografia apesar dos bilhetes previamente esgotados.
Antes da estreia de Nada a Perder, a Universal divulgou um comunicado no qual alertava seus fiéis de que a mídia usaria de fake news para prejudicar o lançamento do filme. "A mídia, os produtores e promotores destas fake news tentarão, de todas as formas, espalhar que o êxito do filme foi manipulado, que os ingressos teriam sido comprados pela Universal e distribuídos aos fiéis. É mentira! O que existe é a mobilização espontânea de grupos e de membros da Universal, que se organizaram para que o maior número de pessoas tenha chance de assistir ao filme", garantiu a nota.
Para Paulo Sérgio, o público de Nada a Perder não foi heterogêneo:
– É absolutamente da Igreja Universal. Conforme conversei com exibidores, não teve nenhum público extra, houve pouco espectador de cinema. A venda foi toda para a Igreja Universal. De qualquer maneira, o recorde de bilheteria foi atingido e deixou para trás filmes como Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), que vendeu 10.735.524, e Tropa de Elite 2 (2010), com 11.146.723.
– O que a gente tem que diferenciar é o seguinte: uma coisa é o recordista de público, outra coisa é o recordista da venda de ingressos. Vender ingresso é uma coisa, e o público ir assistir é outra. Existe uma operação diferenciada – ressalta o diretor da Filme B.
A cinebiografia de Edir Macedo deve ganhar uma continuação, que está prevista para 2019. Vem novo recorde aí?
– Pelos investimentos que eles fizeram em produção e imagem que querem ter, acho que vão repetir essa marcar e até superá-la um pouco – especula Paulo Sérgio.
Procurada pela reportagem de GaúchaZH, a Paris Filmes não deu retorno sobre como avalia o recorde de bilheteria de Nada a Perder, apesar das salas vazias.
Sessões vazias com ingressos esgotados em Porto Alegre
Na última quarta-feira (9), a reportagem de GaúchaZH compareceu a três sessões de Nada a Perder. A primeira exibição foi às 13h05min, no Cinemark Bourbon Ipiranga. No dia anterior (terça, 8), só restavam dois ingressos para o público geral no site Ingresso.com.
Entretanto, na sessão compareceram cerca de duas dezenas de pessoas em uma sala com mais de 150 assentos.
Às 14h15min, a reportagem compareceu à sessão de Nada a Perder no GNC do Shopping Praia de Belas. No site Ingresso.com, só um ingresso havia sido vendido no dia anterior. Na exibição, apenas quatro pessoas compareceram.
Mais tarde, às 16h20min, foi a vez da exibição de Nada a Perder no Cinemark do BarraShoppingSul. Na terça (8), só havia ingressos disponíveis para a primeira fileira no site Ingresso.com. Ao entrar na sala, a reportagem se deparou com um cinema sem nenhum espectador.
Durante a exibição de trailers, a solidão da reportagem chegaria ao fim: uma dupla entrou na sala. Em conversa após a exibição, o casal de namorados Fernando Oliveira, 72 anos, e Ivete Corrêa Gregório, 52, comentaram a surpresa que sentiram ao se deparar com o cinema vazio.
– Adquirimos nossos ingressos na bilheteria. A disponibilidade de cadeiras era só da primeira fila. Conforme a atendente, as demais estavam todas vendidas. Quando nós entramos, era só nós dois – relatou Fernando.
Os dois não frequentam a IURD e integram a faixa de espectadores casuais de cinema.
– Eu vim mais mais ela curiosidade mesmo. E adorei –sublinhou Ivete.
Fernando também apreciou a cinebiografia.
– São lições de vida muito fortes apresentadas nesse filme. Primeiro o bullying que ele foi vítima quando era criança. Quando adolescente também. Depois, quando quis se dedicar a uma causa de fé e religião e foi excluído da própria igreja. Posteriormente, todos os fatos que geraram contra ele, da influência política, da Igreja Católica e a própria mídia. Foram terrivelmente contra o bispo – destacou.
Ivete concordou:
– É muito bom a gente ver o outro lado da história porque a gente costuma ver só o que a mídia passa para a gente, e nós não nos aprofundamos nem procuramos saber o que aconteceu. Eu não conhecia a história do Edir Macedo e adorei, consegui ver um outro lado da vida dele, como ele começou.
Sobre todo o investimento posto na cinebiografia, Fernando arremata:
– Hoje todo mundo pode pagar para fazer o seu filme. Se eu tivesse dinheiro, pagaria para fazerem o meu (risos).