No ano 2000, a internet ainda não era nada do que veio a ser, e as redes sociais não existiam da forma como as conhecemos hoje. Mesmo assim, o solo que o dramaturgo e ator americano Eric Bogosian estreou naquele ano no Jane Street Theater, em Nova York, é uma metáfora perfeita da busca pelo reconhecimento a qualquer custo que grassa nas relações virtuais. Essa é a constatação do ator e humorista Marcos Veras, que traz a Porto Alegre, neste domingo (22), uma versão brasileira da peça. Acorda pra Cuspir terá sessão única às 18h no Teatro da Amrigs.
Conhecido pelos trabalhos que realizou no Porta dos Fundos, no Encontro com Fátima Bernardes e no Zorra Total, entre outros, Veras afirma que a montagem faz poucas adaptações do texto de Bogosian (publicado em livro em inglês em 2002), como a tradução dos nomes dos personagens e do título (o original é Wake Up and Smell the Coffee, algo como “acorde e sinta o cheiro do café”). A direção é de Daniel Herz, da Cia. Atores de Laura (RJ), que apresentou em Porto Alegre, em 2012, o espetáculo O Filho Eterno, baseado no romance de Cristovão Tezza.
Acorda pra Cuspir leva à cena a história e as opiniões de José Silva, um sujeito com quem qualquer um poderá se identificar, segundo Veras, a começar pelo nome, comum entre os brasileiros:
– É um homem que passa por um processo de loucura em busca do sucesso, mas é um cara frustrado, que não consegue seus objetivos. Ou melhor, até consegue alguns, mas no decorrer da peça vemos que tudo tem um preço. As pessoas se identificam porque estamos sempre buscando os 25 segundos de fama e uma felicidade imediata nas redes sociais.
Estreado em 2016, o espetáculo foi criado para se diferenciar dos trabalhos que o ator vinha realizando, como o stand-up Falando a Veras (2008), voltados ao entretenimento puro. Acorda pra Cuspir tem a ambição de fazer rir oferecendo material para reflexão.
– Estava em busca de uma história com começo, meio e fim, que tivesse humor, mas também certa acidez. É o caso do Eric (Bogosian), conhecido nos Estados Unidos por sua forma provocativa de fazer humor. A ideia é que, depois da peça, as pessoas possam ir jantar ou tomar um chope discutindo o conteúdo da peça – diz o ator.
Sobre o desafio de fazer rir hoje, Veras defende que o humor é incorreto por definição, mas isso não envolve fazer piadas pejorativas com minorias. Segundo ele, a primeira reação ao politicamente correto foi de estranhamento, mas o humor brasileiro soube se reinventar:
– O humor não pode brigar contra as mudanças. Hoje não dá para fazer determinadas piadas com gays, negros, mulheres. Acho que o humor entendeu isso. O humor brasileiro é criativo, tem para todas as idades e gostos, do humor clássico à torta na cara.
Agora, Veras está escrevendo um novo espetáculo de stand-up, ainda sem data de estreia. No cinema, estará no filme Tudo Acaba em Festa, de André Pellenz, previsto para entrar em cartaz em agosto. E em janeiro o ator deverá integrar o elenco da nova novela das 19h da Rede Globo.
ACORDA PRA CUSPIR
Neste domingo (22), às 18h.
Classificação: 14 anos. Duração: 70 minutos.
Teatro da Amrigs (Av. Ipiranga, 5.311), fone (51) 3014-2001, em Porto Alegre
Ingressos: R$ 80 (plateia). Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante.
À venda pelo site blueticket.com.br (com taxa) e nos pontos de venda físicos: Livraria Cameron (shoppings Bourbon Wallig e Bourbon Ipiranga), lojas Multisom (Rua dos Andradas, 1.001, e shoppings Bourbon Ipiranga, Praia de Belas, Iguatemi e BarraShopping Sul) e lojas Chilli Beans (shoppings Bourbon Ipiranga e Bourbon Wallig).