Nunca houve uma diva da ópera maior do que Maria Callas (1923-1977). Genial, magnética e apaixonada, a soprano americana de origem grega inspirou livros e filmes, mas no teatro ninguém soube traduzir sua alma tão bem quanto o americano Terrence McNally. É dele o texto do espetáculo Master Class, sucesso da Broadway que estreou em 1995, com Zoe Caldwell no papel principal, e ganhou um revival em 2011, com Tyne Daly. Em remontagens da peça ao redor do globo, Callas foi encarnada por atrizes do calibre de Fanny Ardant, Norma Aleandro e Marília Pêra, que protagonizou uma versão em 1996 e dirigiu Silvia Pfeifer em uma peça sobre Callas escrita pelo brasileiro Fernando Duarte – as duas produções estiveram em Porto Alegre.
Agora se soma a essa lista Christiane Torloni, que traz à Capital uma nova montagem brasileira da peça de McNally encenada por José Possi Neto, usual parceiro teatral da atriz. Em depoimento a Zero Hora por e-mail, Christiane afirma que Callas transcendeu o universo lírico para se tornar uma estrela do século 20 pela maneira como compreendeu suas personagens nas óperas:
– Seu olhar era como o de um pintor, que te faz olhar o mundo de outra maneira. Principalmente no que diz respeito às heroínas, ela é um guru, uma mestra, uma inspiração. Ela fala isso no texto: “Essa é a minha interpretação. Não é a de Shakespeare. Não é a de Verdi. É a de Callas”.
Diferentemente dos cantores líricos ocupados com a perfeição técnica, Callas procurava colocar a voz a serviço da expressividade. Era fundamental, para isso, conhecer a psicologia de cada personagem. Essa foi uma das lições que procurou transmitir para os 25 alunos rigorosamente selecionados que frequentaram suas master classes na prestigiada Juilliard School, em Nova York, nos anos de 1971 e 1972. Essas aulas, encerradas apenas cinco antes da morte da soprano, em Paris, serviram como motivação para a peça que chega a Porto Alegre (quem tiver curiosidade pode ouvir uma seleção dos áudios originais na caixa de três CDs Maria Callas at Juilliard – The Master Classes, também disponível em streaming).
Na peça, algumas das mais célebres árias imortalizadas pela soprano são interpretadas ao vivo pelos atores que fazem os papéis dos alunos. Estão no elenco Julianne Daud (também a diretora de produção, ao lado do diretor musical Fábio G. Oliveira), Paula Capovilla, Fred Silveira, Thiago Rodrigues, Jessé Scarpellini e Raquel Paulin. Foi inspirador para Christiane constatar que a energia impelindo a soprano em direção à excelência não vinha de uma cobrança externa, mas de sua própria ambição:
– Era Callas quem desafiava Callas. A maioria das pessoas tem o desafio de fora para dentro. Ela não: vinha de dentro dela.
Nascida em Nova York no dia 2 de dezembro de 1923, filha de imigrantes gregos, Maria Callas começou na ópera no final dos anos 1940 em palcos de cidades italianas. A estreia no prestigiado La Scala de Milão foi em 1950. Depois, vieram a Royal Opera House de Londres e a Metropolitan Opera de Nova York. Mas sua fama foi muito além das salas de espetáculo: a vida privada foi motivo de escrutínio público como uma legítima estrela pop. Em 1956, apareceu na capa da revista Time. No ano seguinte, conheceu o magnata Aristóteles Onassis, com quem teve um tumultuado relacionamento de quase uma década, recriado no telefilme Callas e Onassis (2005), dirigido por Giorgio Capitani. Antes, o jornalista Nicholas Gage revelou no livro Greek Fire (2000) que ela chegou a dar à luz um filho com Onassis, mas o bebê morreu duas horas depois de parada cardíaca – a informação desmentiu a versão de que Callas teria abortado.
Master Class, o espetáculo, não pretende ser uma rigorosa biografia, mas uma ficção inspirada na vida de Callas. Para Christiane Torloni, a soprano “coloca a serviço da música, da arte, da beleza toda a experiência que ela tece na vida, incluindo a pessoal”:
– Quando você se aproxima de Callas, a história dessa mulher é uma história de superação, desde o nascimento, pois ela foi recusada pela mãe nos primeiros dias. Então, esse é um espetáculo para você se apoiar em alguém que, mais do que tudo, não desistiu do seu belo.
MASTER CLASS
Nesta sexta (9/3) e sábado (10/3), às 21h, e domingo (11/3), às 18h. Haverá debate com o elenco após a sessão de sábado.
Duração: 90 minutos. Classificação etária: 12 anos.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), fone (51) 3227-5100.
Ingressos: R$ 50 (galerias), R$ 70 (camarote lateral), R$ 80 (camarote central) e R$ 100 (plateia e cadeiras extras). Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante. À venda na bilheteria do teatro (hoje, das 13h até o horário de início do espetáculo, e amanhã e domingo, das 15h até o horário de início do espetáculo) e pelo site vendas.teatrosaopedro.com.br.