Alertas sobre a mecanização exacerbada do cotidiano e os riscos da simbiose homem-máquina não são uma novidade na melhor ficção científica. O álbum mais recente do Sepultura, Machine Messiah, também se ampara nessa advertência sobre a tecnologia engolfando seus usuários, mas Andreas Kisser faz questão de ressaltar a diferença entre esse disco e A-Lex, trabalho de 2009 no qual a banda reinventava o clássico Laranja Mecânica. A inspiração para Machine Messiah não é literária, é a observação cotidiana.
– O que falamos no álbum é o que vemos com os amigos, a família: as pessoas estão perdendo contato entre elas, sempre com celular na mão, sem contato com o mundo para além da tela. Não é uma utopia nem uma distopia, é a realidade – analisa, em entrevista por telefone, Andreas Kisser, guitarrista, compositor e líder da banda.
É esse álbum, 14º trabalho de estúdio do Sepultura, que a banda apresenta neste sábado (16) em Porto Alegre, em show marcado para o Opinião. Machine Messiah, a primeira faixa, funciona como uma introdução temática ao conceito do álbum, o da humanidade se rendendo à “máquina messias”. É uma faixa melódica, límpida e precisa, que vai se tornando gradualmente mais sinistra, estruturada como um apelo em primeira pessoa, traiçoeiro e sedutor, da “máquina messias” à humanidade confusa: “Eu vou te dar tudo /Vou curar a humanidade /Abrigar em segurança / Vou tornar você parte de mim / Prepare-se para não sentir nada”. O próprio Kisser define a faixa-título como a introdução temática do projeto:
– Ela tem a função de ser como uma abertura de ópera, dá alguns elementos do que está por vir e cria a expectativa para o que segue. Cada música foi colocada no álbum por ter uma função bem definida. Trabalhamos o disco como um conjunto, não cada canção aleatoriamente.
Machine Messiah desdobra o conceito original numa série de críticas a aspectos da atual sociedade. A polarização política e as teorias conspiratórias na rápida e agressiva I Am the Enemy; a alienação voluntária da grande massa em Phantom Self, que remete às experiências mais radicais do Sepultura em misturar o metal a ritmos tradicionais brasileiros; a voracidade pelo consumo em Alethea. Até a décima faixa, Cyber God, um brado débil de resistência: “Tudo foi feito. / Não resta mais nada/ apenas a casca de um homem”.
Com um álbum com esse conceito, a banda, formada por Kisser, pelo vocalista Derrick Green, pelo baixista remanescente da formação original Paulo Jr. e pelo baterista Eloy Casagrande, decidiu experimentar se impondo limites antigos na produção do disco.
– O nosso principal objetivo ao produzir esse disco foi escrever como se estivesse fazendo um álbum de vinil. Pensando num Lado A, qual faixa seria a ideal para abrir um Lado B. A gente usou muito essas dinâmicas da época do vinil, quando trabalhávamos cheios de limites. Limites de tempo, de espaço de 10 músicas no máximo, que era o que cabia num disco – conta Kisser.
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SEPULTURA EM PORTO ALEGRE
Sábado, 16/12, às 20h.
Opinião (José do Patrocínio, 834, Cidade Baixa, Porto Alegre). Classificação 14 anos.
Ingressos: R$ 110 a R$ 130 (com possibilidade de redução de valor com a doação de 1kg de alimento não perecível).
Pontos de venda: Youcom Bourbon Wallig (sem taxa de conveniência, somente dinheiro); Multisom (Andradas 1.001,Centro de Porto Alegre) e Youcom (shoppings Praia de Belas, Iguatemi, Bourbon Ipiranga, Barra Shopping Sul, Shopping Total, Bourbon Novo Hamburgo, Bourbon São Leopoldo e Canoas Shopping) (sujeitos à cobrança de R$ 5 de taxa de conveniência).