Um concerto da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) no Jardim Botânico foi interrompido abruptamente por uma tempestade no dia 1º de outubro. Apesar do susto, definido por um frequentador como “cena de terror”, ninguém saiu ferido, mas a percussão ficou danificada e equipamentos como as estantes para partituras tiveram perda total. Outra surpresa, esta positiva, veio no dia seguinte, quando a Ospa recebeu ligações de pessoas oferecendo contribuições espontâneas para minimizar os danos.
Essa relação afetiva com os gaúchos inspirou a orquestra em uma nova ideia: uma campanha de financiamento coletivo para agilizar a construção da sonhada sala de concerto. Depois de abandonar o projeto da Sala Sinfônica no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho devido a dificuldades burocráticas e ao vultoso orçamento, a orquestra projeta para 10 de março de 2018 a inauguração da Casa da Música em um espaço de 2,5 mil metros quadrados no Centro Administrativo Fernando Ferrari, em Porto Alegre.
Para se tornar a sala de ensaio da Ospa no início deste ano, o antigo galpão no prédio da Secretaria de Educação foi reformado com um repasse de R$ 1,2 milhão da Procuradoria de Fundações do Ministério Público estadual à Fundação Pablo Komlós, vinculada à Ospa, além de parcerias. Mas agora é preciso transformar a estrutura em sala de concerto, o que custará R$ 4,8 milhões. Deste orçamento, R$ 2,8 milhões são para a primeira etapa da obra, que inclui as poltronas para 1,1 mil espectadores, saguão e banheiros.
É esse o valor que precisa ser arrecadado até março, mas o crowdfunding não será a única fonte de recursos. A orquestra também aposta em um projeto de R$ 1,5 milhão pela Lei de Incentivo à Cultura do Estado (LIC-RS). O Ministério da Cultura, por sua vez, deverá liberar R$ 10 milhões, que serão empregados na Casa da Música e no novo projeto do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (teatro aberto, museu e projeto social da Escola da Música), mas ainda não há previsão de quando isso ocorrerá. O crowdfunding é justamente para agilizar a inauguração da sala de concertos.
Escola de música também será contemplada
Poderão participar do financiamento coletivo, lançado no final de novembro, todos os tipos de bolso. Contribuições de R$ 50 a R$ 1 mil valem uma inscrição no painel de doadores que será instalado no saguão da Casa da Música. Com R$ 1,2 mil, o doador ganha também uma placa vitalícia com seu nome em uma das poltronas. Para as pessoas ou empresas que se dispuserem a doar de R$ 3 mil a R$ 20 mil, as recompensas incluem nome em uma poltrona e em uma placa especial e ainda passaportes para assistir a 14 concertos na Casa da Música com acompanhante. As doações serão recebidas até a inauguração da Casa da Música, como explica o diretor artístico da Ospa, Evandro Matté:
– Quem contribuir ajudará a Fundação (Ospa) a resolver uma demanda histórica: ter uma estrutura adequada para as atividades da orquestra, da Escola e da orquestra jovem, principalmente para os concertos. O segundo ponto é que contribuirá para a entrega de um novo equipamento cultural.
A verba arrecadada também será revertida para a instalação da Escola da Ospa no Palácio do Vice-governador, o Palacinho, aumentando a capacidade de 250 para 400 alunos, que aprendem música gratuitamente. A casa na Rua André da Rocha onde atualmente funciona a Escola, que pertence à Fundação Ospa, deverá ser alugada para servir de fonte de renda, segundo Matté.
Além da Escola da Ospa, o Palacinho abrigará o setor administrativo da Ospa a partir de março (a atual sede administrativa, na Rua 24 de Outubro, será liberada para o governo do Estado). A concentração dos dois setores em um mesmo prédio ajudará a reduzir despesas. Mas as adaptações não interferirão na estrutura do Palacinho, que é tombado.
O diretor artístico informa que haverá um esforço para viabilizar o restauro do prédio por meio da Lei Rouanet e de verba direta do Ministério da Cultura.
Como participar do crowdfunding
A verba arrecadada com o financiamento coletivo será revertida para a obra da Casa da Música e para a instalação da Escola de Música no Palacinho. Para participar, basta acessar o site ospa.org.br. As contribuições serão recebidas até março, quando deve ser inaugurada a Casa da Música.
Opções de recompensa
1ª opção: R$ 1,2 mil
Com esta contribuição, o participante doa uma poltrona para a sala de concerto com seu nome gravado para sempre, além de ter o nome registrado no painel de doadores no saguão
2ª opção: entre R$ 50 e R$ 1 mil
Há 12 opções de valores que equivalem a doações de estantes musicais, luminárias para estante, cadeiras de orquestra, teclados musicais e aparelhos de ar-condicionado para a Escola de Música, entre outros itens. Uma contribuição desse tipo garante o nome no painel de doadores no saguão da Casa da Música.
3ª opção: entre R$ 3 mil e R$ 20 mil
Há seis opções de valores mais polpudos abertos para pessoas físicas ou jurídicas. Uma doação deste grupo garante o nome da pessoa ou da empresa em uma placa vitalícia em uma poltrona da sala de concerto e também em um painel especial no saguão. Algumas contribuições incluem de um a oito passaportes para 14 concertos na Casa da Música com direito a acompanhante.
Concertos da Ospa em 2018 serão aos sábados
Sonho da sede própria acalentado durante os 67 anos de história da Ospa, a Casa da Música permitirá o aperfeiçoamento da qualidade do conjunto. Para que isso ocorra, era fundamental que os músicos pudessem se apresentar no mesmo espaço de excelência acústica em que ensaiam, como explica o diretor artístico da Ospa, Evandro Matté:
– A orquestra começa a buscar sua identidade sonora. Os músicos vão se adaptando àquele espaço e vão buscando soluções para criar uma forma de tocar. Todas as grandes orquestras do mundo têm em sua sala uma parte importante de seu resultado.
Na temporada 2018, a Ospa mudará o dia dos concertos oficiais, que passarão de terça-feira, às 20h30min, para o sábado, às 17h. A novidade foi embasada em uma consulta a orquestras nacionais e internacionais sobre os dias e horários de maior público. As séries de concertos no interior e os concertos especiais serão às sextas, e a série Araújo Vianna seguirá aos domingos (ou em edição dupla, sábado e domingo). Sobre o dia dos concertos oficiais, Matté pontua:
– Sábado é um dia mais tranquilo para o público, e o horário das 17h é interessante porque depois as pessoas podem ir jantar ou ir a outra atividade cultural.
A programação do ano que vem deverá ser anunciada no final de janeiro, mas já estão confirmadas algumas das principais atrações: entre 24 e 26 de agosto, será encenada a opereta A Viúva Alegre, de Franz Lehár (1870 – 1948), e nos dias 3 e 4 de novembro será apresentado um espetáculo em parceria com o balé do Teatro Colón, de Buenos Aires – na primeira parte haverá uma coreografia a partir do Concerto para Violino, de Max Bruch (1838 – 1920), e, na segunda, trechos de composições de Tchaikovsky (1840 – 1893). Tanto a ópera quanto o balé serão no Theatro São Pedro. A temporada também deverá prestar tributos ao centenário de morte de Debussy (1862 – 1918) e ao centenário de nascimento de Leonard Bernstein (1918 – 1990).
De 2018 para 2019, Matté espera realizar um desejo antigo que dependia da inauguração da sala de concertos: um planejamento antecipado das temporadas seguintes.
– Será outra facilidade da casa própria. Hoje, dependemos muito das datas disponíveis nos espaços em que nos apresentamos, o que sempre atrasa o calendário. Queremos lançar a programação da temporada seguinte ainda no ano anterior – projeta o maestro.