Em reunião realizada na tarde desta quinta-feira (17/11), o secretário de Estado da Cultura Victor Hugo manifestou a intenção de buscar espaços ociosos para receber os quatro grupos teatrais que deixaram o Condomínio Cênico do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre.
O local, que os grupos ocupavam há 16 anos, foi interditado na quinta-feira da semana passada (10/11) pelo Corpo de Bombeiros devido à ausência de um plano de prevenção de incêndio. O episódio ocorreu dois dias antes da estreia, no local, do espetáculo Mithos, que celebraria os 25 anos do grupo Falos & Stercus – uma das companhias que trabalhavam nos pavilhões 5 e 6 do hospital, assim como Neelic, Oigalê e Povo da Rua.
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Entre os locais cogitados na reunião para abrigar os grupos, segundo Desirée Pessoa, diretora do Neelic, estão prédios do IPE, do Daer e da SPH (Superintendência de Portos e Hidrovias). Mas o destino dos grupos é incerto. Desirée lamenta não haver garantia de que as quatro companhias terão nova sede, uma vez que a destinação será por licitação. Para ela, trata-se de uma falta de reconhecimento ao trabalho desenvolvido nos 16 anos da ocupação cultural:
– Existe um otimismo de que os grupos possam ser os vencedores (da licitação para os novos espaços), mas garantia não. O secretário Victor Hugo trouxe todas as possibilidades ao alcance dele, mas a sensação que fica (nos grupos) é que isso não responde à nossa necessidade.
Desirée lamenta, também, que os espaços cogitados possam separar os grupos, que até então conviviam no Condomínio Cênico, trocando experiências:
– O contato dos grupos com a Secretaria da Cultura (Sedac) continuará sendo realizado conjuntamente, mas na prática não existe um espaço que abrigue os quatro como os prédios (do Hospital Psiquiátrico) abrigavam. O momento é de incógnita sobre como isso vai reverberar.
O espetáculo Mithos, do Falos & Stercus, que teve sua estreia frustrada, poderá ser montado no Multipalco Theatro São Pedro. Uma visita técnica do grupo ao espaço foi marcada para esta sexta-feira (18/11).
Embora a administração do Hospital Psiquiátrico São Pedro seja da Secretaria da Saúde, os pavilhões 5 e 6 estavam cedidos à pasta da Cultura. Com a interdição, a Saúde voltou a reivindicar para si o uso dos espaços. Uma negociação entre a Saúde e a Cultura já havia ocorrido em dezembro de 2015, com a notícia de que o acordo de cooperação seria rescindido. Após mobilização dos artistas, a Sedac anunciou, em janeiro, que os seis pavilhões seriam destinados à Cultura, o que não ocorreu.
O diretor-geral da Secretaria da Saúde, Francisco Bernd, afirma que existe, desde 2008, um laudo recomendando a interdição dos seis pavilhões históricos do hospital, entre eles os dois utilizados pelos grupos teatrais. Segundo o diretor-geral, a estrutura coloca em risco tanto os artistas quanto os espectadores que eventualmente estiverem no local.
Bernd observa que os pavilhões serão restaurados – uma vez que o prédio é tombado – para dar lugar a atividades da Secretaria da Saúde:
– O primeiro dos seis pavilhões tem uma obra iniciada em 2010 que ficou inacabada. Vamos retomá-la e, para isso, temos condição de recuperar um dinheiro reservado. E vamos elaborar um projeto de restauração para os demais pavilhões, buscando parcerias público-privadas.