A última cena da novela Amor de Mãe (2019) mostra Dona Lurdes (Regina Casé) realizando o sonho de reunir os cinco filhos em torno de si: Magno (Juliano Cazarré), Ryan (Thiago Martins), Érika (Nanda Costa), Camila (Jéssica Ellen) e Danilo (Chay Suede). Após descobrir que Danilo era o desaparecido Domênico, a matriarca celebrava a reunião com uma bela foto em família, encerrando a trama.
A autora Manuela Dias não desapegou de Dona Lurdes com o final da novela, pelo contrário:
— Fiquei pensando em como ela teria ficado depois de encontrar o Domênico. Aí, acabei escrevendo um livro, que chama Diário da Dona Lurdes, quase dois anos depois.
Dona Lurdes, como destaca sua criadora, “ganhou vida própria”. Tanto que a novela e o livro não foram suficientes para uma personagem dessa grandeza. Regina Casé vestiu novamente o figurino da personagem – com direito à clássica toalhinha de mão – e reviveu a mãezona, desta vez nos cinemas. Dona Lurdes, o Filme estreou na quinta-feira (veja salas da Capital no roteiro da página 6), e a julgar pela alegria da equipe na coletiva de apresentação, o público terá motivos para dar muita risada. Porque o que diferencia a Dona Lurdes da telona para a telinha é o humor – afinal, os dramas da novela se encerraram no último capítulo. Manuela Dias ressalta que, apesar de ter sido apresentada ao público por meio da novela, não é necessário ter acompanhado o folhetim para assistir ao longa.
Trama
O filme começa quando o último filho de Dona Lurdes resolve sair de casa. Com a partida de Ryan (Tiago Martins), a mãe passa a sofrer da chamada síndrome do ninho vazio. A partir daí, precisa se reencontrar, descobrir o que a faz feliz para além da maternidade.
Regina Casé adianta que, no filme, sua personagem encontra tipos de amor que não foram mostrados na novela:
— Um é o amor-próprio. Ela estava tão ocupada, não era nem de cuidar, era de salvar a vida de todos os filhos. Coisas tão épicas e drásticas. Outra coisa que ela não teve e que fez falta foi uma amiga de verdade. Amei o meu encontro com a Arlete (Salles, que vive a Zuleide no filme), acho que as cenas ficaram muito humanas.
A protagonista celebra ainda o reencontro com Evandro Mesquita, seu amigo há 50 anos, desde os tempos do grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone:
—A gente passa períodos grandes sem se ver, mas quando se encontra, essa intimidade está intacta. Parecia que estava trabalhando com ele todo dia.
Amor de Mãe foi uma das novelas prejudicadas pela covid-19. Iniciada em novembro de 2019, teve suas gravações interrompidas em março do ano seguinte, assim que foi anunciada a pandemia. A última parte só foi exibida entre março e abril de 2021, e ainda assim com restrições sanitárias como distanciamento, placas de acrílico entre os atores e pouca interação do elenco. Por tudo isso, o reencontro de Dona Lurdes com seus filhos da ficção foi ainda mais emocionante.
Para Nanda Costa, que nos últimos anos passou a experimentar também o amor de mãe na prática, com o nascimento das gêmeas Kim e Tiê, retornar a esse universo familiar de Dona Lurdes foi mágico:
—Eu voltei com mais admiração ainda, mais amor e mais fã por ter criado todos esses filhos. É uma alegria vê-la retomando as rédeas da vida, se apaixonando, se divertindo e saindo.
Representando os filhos homens da matriarca, o gaúcho Juliano Cazarré lembrou com carinho da parceria com Regina:
— Todos os filhos estão felizes de ver a Dona Lurdes neste novo momento. O filme termina ali, com todos torcendo pela felicidade dela. Vai ser um carinho, um beijo no coração de muitas mulheres.
Encontro
Arlete Salles se diz forasteira no mundo de Dona Lurdes. Por outro lado, mostra sintonia com Regina Casé nas cenas. Sua personagem, Zuleide, é vendedora de materiais eróticos e, com muito bom humor, mostra que não há idade para amar, sentir prazer e ser feliz.
— Ela é doce, paciente, uma mulher alegre pelo fato de estar viva. Ela pega a Lurdes pacientemente pela mão e a resgata para a vida, para o amor, com muita paciência, tolerância, carinho e humanidade – conta a veterana de 85 anos, que exalta a parceria com Regina. – Eu nem acreditei quando disseram “olha, você vai fazer um personagem maior que vai contracenar muito com a Regina”. Sou fã dela.
A admiração é recíproca, segundo a própria intérprete de Lurdes:
— Os momentos que encontrei com a Arlete foram os que me emocionei muito. Se vocês repararem, todos os momentos que choro no filme estou com a Arlete. Tinha muita vontade de trabalhar com ela, que acho uma atriz genial.
O filme chega aos cinemas em um ano emblemático para Regina Casé. A atriz acaba de completar 70 anos de vida e 50 de carreira. Para coroar tantas comemorações, nada melhor do que Dona Lurdes, que, conforme ela, é um misto de todas as personagens que interpretou ao longo das últimas décadas.
— Acho que ela é um resumo de toda essa trajetória de 50 anos. Não só minha, mas das mulheres do Brasil. Ela é feita não só dos meus outros personagens, mas de todas essas mulheres que fui conhecendo pelo caminho.